O impacto inicial ao Acronon, de Koellereutter (1915-2005), é de uma relativa temporalidade que se anuncia, com clusthers em fortíssimo no piano.
Ao emaramhado de sons jogados no ar como uma explosão, seguem-se notas soltas e que sofrem intervenção de acordes atonais e seriais na orquestra. Acronon é uma partitura para piano e orquestra, sendo que a parte do pianista é uma esfera de acrílico permanente, onde o músico improvisa sob 18 estruturas sonoras em forma geométrica dispostas dinamicamente sob sua superfície, a qual dialoga com a orquestra. Acronon alude a algo que se realiza fora do tempo medido, além do tempo superficial, algo eterno.
Koellreutter merece ser cada vez mais revisitado e divulgado, por sua pedagogia inovadora e sua filosofia cultural (que inclui sua música: inquieta, impessoal e tão próxima de nosso tempo).
Sua coragem para o debate e a indagação estão presentes em sua produção musical.
Autor de uma obra que nos leva a perguntas, in-soluções e a tempos não cronológicos de que o mestre falava e que há muito a civilização ocidental se emancipou.
Obra cuja marca de silêncios, atemporalidades, discursos ousados e ampla reflexão sobre nossa contemporaneidade vai fundo também na existência do ser enquanto pensamento, influência e recusa.
Num período em que se faz arte deslocada de movimentos ou de continuidade e no qual se questionam ideais, Hans Jaochim Koellreutter é ao mesmo tempo mestre e aprendiz de um tempo no qual se dispôs ao diálogo e reflexão. Mas sobretudo, o compositor Koellreutter traz a essência da verdadeira inquietação somada ao interesse real pela pesquisa e pela história humana sobre o planeta. Estes são alguns fatores que tornam sua obra musical aberta a discussão mas não a especulação: ela é verdadeira e nasce da inquietação de um verdadeiro artista!
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