Eu vi um cadáver no meio da vida,
que exalava sombrios os seus pecados:
esqueceu-se da luz seus olhos cerrados;
nem havia ternura na voz pungida.
Eu vi um cadáver fingindo viver:
de insensível coração, petrificado;
de amor esquecido no sangue gelado;
era uma fonte que deixou de verter.
No parto dos sonhos, morreu agoniado.
Estátua de gelo de braços cruzados;
não davam afetos seus punhos fechados.
Tornou-se uma pedra de um rio ensecado.
Por cima do mundo, mas longe do céu
jogava os gritos pesados de langor:
pois não eram de paz, nem eram de amor,
mas eram espinhos jogados ao léu.
Cadáver triste, que do mundo esqueceu:
não sabia das lindas flores dos campos;
tão pouco, do cintilar dos pirilampos.
Era um corpo que andava, mas que morreu.
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