No templo do nosso corpo, há dois altares:
O da luz que ata ao céu, e o do escuro instinto.
Da absoluta moral que regra os manjares;
e o do acre animal, de deleites faminto.
Dois pesos conflitantes e uma balança.
Vítima e réu, em disputa da verdade:
Pois que em parte nós somos a temperança;
mas na outra face nós somos a ebriedade.
Férvido paradoxo do bem e mal.
Amor e ódio disputam-se às ventanias:
Pois que em parte nós somos luz divinal;
mas na outra face somos noites sombrias.
Somos joio ou trigo na gleba que andamos.
Já choramos, sorrimos, nos dois extremos:
Porque parte da vida é o que plantamos;
porém a outra parte é o que nós colhemos.
No mapa da vida, dois caminhos temos.
O do amor, ou da dor, que nós optamos:
Porque parte da vida é o que fazemos;
porém a outra parte é o que nós pensamos.
Corpo e espírito, terra e céu, nos compomos.
No chão seguimos, mas para o céu olhamos:
Pois nos construímos, parte do que somos;
porém a outra parte do que nós sonhamos.
Na estrada há montanhas de frio sopé.
Ora tropeçamos, ora as transportamos.
Porque em parte somos alma e temos fé;
mas em parte somos corpo e duvidamos.
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