Depois de um cansativo dia de trabalho no campo, dois colegas retornavam a cidade onde estavam hospedados. O jipe deslizava tranqüilo, sem pressa, na estrada. De repente, avistaram em frente a uma casa um menino pedindo carona. O motorista parou, imediatamente, o carro, sabendo que era costume do colega ao lado, dar carona a gente humilde e necessitada. O menino se aproximou
- O senhor esta indo para a cidade? Perguntou.
- Sim
- Pode me dar uma carona?
Ele abriu a porta. O menino pediu para esperar um pouco, pois a sua avó também queria a carona. Aí, ele gritou:
- Vó, venha logo! Os moços estão com pressa e não podem esperar muito tempo..
Mesmo assim, a mulher demorou uns cinco minutos. Fechou uma a uma as janelas e depois de trancar a porta da casa, veio andando, se arrastando, devagar. Tinha mais de setenta anos. Chegou e disse que queria ir para cidade, ficaria na casa da filha. Quando entrava no jipe, o menino falou:
- Vó a senhora esqueceu o carneiro.
- Ih! Esqueci mesmo, vou buscar.
Virou-se em seguida e partiu em direção a casa, não dando tempo de qualquer questionamento sobre a dificuldade de levar um animal no jipe. O motorista foi que menos gostou da idéia de levar um carneiro dentro do vei-culo; mostrou-se indignado:
- Viajar com um animal no carro é um nojo. O bicho, além de ocupar muito espaço, fede pra caramba e ainda vai acabar sujando o carro.
E continuou:
- Não sou muito a favor de dar carona por causa dessa e de outras coisas. E deitou falação. Dirigiu-se ao colega:
- Você é que tem essa mania! Viajar trinta quilômetros com um bicho fedorento aqui dentro vai ser o fim da picada. Este povinho é muito folgado, além de ganhar carona, ainda quer levar um animal junto. Quando a velha voltar eu vou dizer que não pode levar o carneiro e ela terá de deixá-lo, falou.
O menino não disse nada, parecia não entender o que o motorista estava falando. O outro, por sua vez, estava muito mais preocupado com a maneira como ia convencer a velha de não levar o carneiro. Depois de esperarem uns dez minutos ela apareceu na porta da casa, mas sem o carneiro. Carregava consigo uma bolsa que não possuía antes. Foi um alivio. Ela desistira de levar o carneiro, pensaram. Isto é muito bom, falou o motorista. Estamos livres da indigesta companhia de um animal fedorento.
Calmamente ela veio e sem dizer nada, entrou no jipe. Enquanto se acomodava no banco, o motorista não resistindo, perguntou:
- Cadê o carneiro dona, não vai levá-lo?
Ela tirou da bolsa um bloco de papel e disse:
- Vou sim. Está aqui: é o meu carneiro do INSS.
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