Um dia encontrei no campo uma viçosa orquídea sobre um afloramento de calcário. Inicialmente, eu não tinha intenção de trazê-la para casa. Estava longe; tinha dificuldade para transportá-la. Mas acabei trazendo-a. Em casa onde vivia cercada de mimos e cuidados especiais, ficou mirrada e nunca deu flor. Sua saúde preocupou-me por algum tempo e tive que me desdobrar molhando-a diariamente; dando-lhe colheradas de adubos de 15 em 15 dias e protegendo-a do vento e Sol.
Apesar de todos esses cuidados ela não se tornou uma planta viçosa como quando a encontrei, e nem se desenvolveu com boa vontade. Também não morreu, mas virou uma plantinha feia, cheia de talos sem ou pouca folha; perdendo em viço para as outras orquídeas que a cercavam.
Um dia, cansado de esperar que florescesse, resolvi colocá-la num xaxim e pendurá-la num canto do muro do quintal. Lá permaneceu por uns dez anos sem dar uma flor, sequer. Só saiu de lá, quando decidi mudá-la para um vaso maior, porque o xaxim além de pequeno, havia apodrecido e não possuía mais condições de hospedá-la.
Minha mulher vendo que eu a preparava para uma nova morada e querendo me mostrar que não deveria tê-la trazido, pois a planta não se adaptou durante todo o tempo que ela esteve lá em casa, mesmo com todo cuidado, falou:
- Não sei por que você esta cuidando desta planta, ela nunca deu uma flor, devia jogá-la fora.
- Que mal havia em mantê-la em casa por mais algum tempo, retruquei. Se ela demorou a dar flor, talvez seja porque espera o momento certo.
Argumentos pra cá, argumentos pra lá, decidi dar-lhe uma nova chance. Mudei-a para um vaso grande e a coloquei em um suporte de ferro.
Poucos dias se passaram. Numa manhã de agosto, como o tempo estava seco e ensolarado e os primeiros raios de sol já mostravam muito calor com a temperatura subindo aos poucos, fui ao quintal para regar as plantas. Ao passar por ela percebi que começava a mostrar uma cara nova. Havia folhas e brotos iniciantes, invadindo o vaso. Cresciam verdejantes. E no meio deles, um talo mostrava pequenos botões esverdeados. Finalmente a orquídea florescia.
Durante os dias que se seguiram, um pequeno cacho de flor crescia sereno e silencioso, emoldurado pelo verde das suas pétalas que parecia captar toda a luz da manhã, tornando-se amarelas. O talo cresceu, os botões se abriram num amontoado de flores, transpirando e exalando um doce perfume. Observava profundamente aquelas flores amarelas e tentava despistar a minha curiosidade, pois uma pergunta se fazia necessária: Por que aquela orquídea depois de tanto tempo floresceu, justamente quando ninguém mais confiava nela?
Desse dia em diante, passei a acreditar piamente que as plantas ouvem as conversas das pessoas. Aquela orquídea certamente escutou a sugestão da minha mulher de jogá-la fora e então com medo, renasceu e floresceu. Acredito que esta foi à razão que ela encontrou para continuar existindo. Esqueci minha decepção de dez anos e passei a admirá-la.
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