Pequeno jardim, bom e cálido
escondido no mato jaz...
como um só corpo-verde pálido
fratricidas memórias traz...
— Eita! Grita o São Poeta
na terra de todos os santos
na última flor do lácio
dos sertanejos encantos
Canteiro de tipo avelóz
que cura seja lá o que for
ainda que seja uma dor
causada pelo teu algóz
— Bora! Chama o Santo Vaqueiro
no tempo da missa, eu lembro
quando o povo matuto e rezeiro
vem à terra no mês de dezembro
Terreiro de plantas e mitos
de contos e causos milagrosos
recanto do bom jesus dos aflitos
com seus tamarindos frondosos
— Valha! Exclama o Cabra da Peste
um herói cangaceiro destemido
um matuto rezador do nordeste
pistoleiro de um tempo esquecido
Horto deste bioma brasileiro
prado seco, espinho, coroa-de-frade
vergel brabo e catingueiro
“mata branca” de saudade
— Arre! Lamenta o Sertanejo-Aboiador,
o Zé qualquer do mato,
começando a retirar do substrato
os versos-raízes de uma flor...
Flor-amargura, flor-rapadura
flor crua, doce, azeda e dura
espinhenta e encarnada
cruenta, rúbia e pinicada
Flor-cardeiro, brotada em vastidão
Flor-verão de um ano inteiro
Flor-inverno de espinho de facheiro
Flor-cacimba no meio do sertão
Umbuzeiro no sertão é pé-de-pau sagrado
alfazema, boldo, erva cidreira, imburana de cheiro
erva-mate; malta, arruda e marmeleiro
colônia, pinhão-roxo e pau-d'arco afastam todo malgrado
Esta flor vale por todas...
pelo juazeiro, pela baraúna, pelo cumaru, pelo xique-xique, pelo oitizeiro, pelo capim santo, pela jurema-preta, pra todo encanto, ela dá jeito!
Inverno cheio, inverno seco, vale de lágrimas, muitas vezes uma Itaparica de dores e guerras, é verde mas nem parece de tão marrom, de tão suja, de tão maltratada que é esta flor...
Flor emancipada de Flores
onde está? onde fica?
entre os teus amores?
ou no sertão de Itaparica?
Erva acre, mato que cura
matinho de benzedura
são coisas que ela dá...
dá lembrança, dá sustança e dá loucura
dá desejo, sede e tontura
dá vontade de gritar...
Gritar às sementeiras, às quixabeiras, aos tamarindos
às caraibeiras, às carrapateiras, à cor dos caatingos
às aroeiras, às catingueiras, aos cajús-cajuindos
às inburanas, às algarobas e à flor das últimas horas...
Flor da terra, flor severina
sertaneja, carquejada e nordestina
revela seus cactos e mandacarus
aos seus urubus carcareados...
Em seu caule tão maltratado
em seus espinhos sem estética
em sua forma dialética
contradição de solo sem arado...
E seus carcarás voadores
sua miséria, seus “royalties” e seus horrores
sua totalidade forjada pela indeterminação...
O confronto do tempo com a secura
o lamento da seca com a verdura
e todos os seus verões de expiação...
Quando na serra, o cardeiro, de prontidão
flora flores “gonzagueiras”
e a chuva não deixa suas gotas ligeiras
cruzar o agreste e chegar ao sertão
Quando as meninas enjuadeiras de bonecas
pinotam suas pererecas
se agarrando com seus rapazotes
Timbungando no cacimbão como caçotes
enraizando na terra seca e no chão batido
feito inburana de cambão no inverno ressequido
feito seriemas no molho dos capotes
Flor-navio navegando riacheira
no mar doce quando cai água carregada
Pajeú pajeando sua água corredeira
Itaparica lagoando sua margem alargada
Água transpostamente sedenta e forte
no jeito franciscano de se ajuntar e se doar
com fé e força na beira do mar
de um Atlântico doce que galopa para o norte
Esta flor sabor, esta erva-tempero
esta saúde-de-planta, esta urtiga-santa
figo, mulungu, chorão, pereiro
Tapuia, gameleira, angico e bom-nome
embiratanha, mufumbo, mutamba e trapiá
cipaúba, jucazeiro, pau-branco e piaçá
oiticica, sabiá, jurema e velame.
Todas as plantas deste “Agreste Sertão” interior
todas as ingazeiras com as quais se pode conhecer o que é o amor
onde a gente encontra aquele lugar que sempre buscou...
Este jardim, bom e ruim
mas simples assim
...me traz esta flor...
Esta flor... esta flor!
Flor, esta?! Sim, Floresta!
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