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A Solidão
"release de um dia difícil/ tributo a um Presidente/ réquiem da última lata de ervilhas portuguesas"
Tom Campos


     Acabo de perceber, sobre o balcão da minha cozinha, o quanto sou sozinho... Há vários potes vazios, latas, garrafas, vidros de comidas que comi e deixei lá, lá permanecem... Não há alguém para retirá-los, para reclamar por eles, nem na minha porta batem para pedir alguma coisa. Se é verdade que a casa é o espelho da alma, então realmente estou só. Imagino o que outras pessoas, outras famílias estejam fazendo agora, provavelmente dormindo, casais trepando, ladrões roubando alguém, maridos bêbados e estúpidos espancando esposas submissas, algum poeta à luz da lua escrevendo versos, se bem que, hoje em dia, parece que não há mais poetas, os brasileiros somente apreciam futebol carioca-paulista, novelas e baixarias culturais, tudo isso, claro, pela tela da TV, de preferência Rede Globo!
     Minha companhia, no momento, são os latidos dos cães que latem a noite inteira, nas casas dos meus vizinhos que não conheço, ah!, conheço um casal, aqui ao lado, embaixo - preciso esclarecer: moro no andar superior de um sobrado - então, conheço este casal de vista... Porque, um dia desses, a mulher me indagou se eu estava escarrando em seu telhado, eu disse que não (assustado!), mas já havia feito isso inúmeras vezes e como fiquei de sobressalto com aquelas pessoas, policio-me para evitar este hábito oriental. Afinal, como é difícil desaprender a fazer algo que já se faz por costume.
     Também tenho livros, alguns nunca lerei, outros só abro para limpar e arrumar, a cada semestre, porque li numa revista que se isso for feito, os livros durarão uma eternidade. Não sei se quero que eles durem uma eternidade, eu quero durar uma eternidade! Mas comecei falando sobre solidão, estou sozinho, moro só, muitas são as vezes nas quais perco créditos de celular porque acabo não ligando o suficiente para gastá-los. E agora com a reforma ortográfica da língua portuguesa, terei mais trabalho, porque preciso "corrigir" quando escrever "errado". Adeus ao trema; adeus ao acento agudo dos grupos de ditongos abertos: ei, oi, eu; adeus aos outros vários casos de acentuação; adeus à gramática, enfim! Mas... ufa!, isso tudo é positivo porque agora não mais precisaremos nos preocupar em aprender aquelas convenções babacas da língua porque saberemos que anos depois, virá algum Presidente "Antiacadêmico" - um messias da nova sintaxe - e banirá todas essas regras linguísticas...
     Eu gostaria de dizer, por fim, que não concordo com o suicídio, porém entendo quem o faz, porque deveríamos ser felizes, deveríamos ser tão felizes que isso seria um saco, mas pelo contrário, somos torturados dia e noite com coisas desagradáveis, pessoas inconvenientes, absurdos os mais diversos. Hoje, não foi um dia fácil, teve tudo para ser, mas não foi. Eu não cometeria suicídio por isso, talvez da língua, mas já o fizeram, talvez da última lata de ervilhas...



Este texto é administrado por: Tom Campus
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