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A COMITIVA
João Carlos de Oliveira

O sol já ia altinho, deveria ser umas sete e trinta horas de uma manhã de primavera. Não usava relógio, na maioria das vezes, calculava o transcorrer do dia pelo curso do sol. Havia programado para aquele dia, fazer a entrega de um lote de vacas que comercializei para um marchante da cidade de Montes Claros. Uma vez o gado reunido e conferido, e a comitiva de vaqueiros organizada, tínhamos como guieiro o velho Antenor, montado na sua Baronesa, besta de pelagem ruão, famosa pelo seu andamento a curto e longo passo. No coice do gado, além de mim, nos ajudava o Zé de Eduardo, montando rosilhinho – cavalo de campo preparado para qualquer eventualidade maior -, e ainda, o nosso ajudante de vaqueiro, conhecido pela alcunha de Tito. A viajem programada era de apenas uma marcha - cerca de 45 Km -, e muito embora houvesse outras alternativas de acesso, para economizarmos tempo, a rota que traçamos, incluía necessariamente, a subida por uma serra, cuja estrada, embora permitisse o tráfego de veículos reduzidos e tracionados, era de má qualidade, por ser estreita, cheia de curvas, e com muitas pedras no seu leito, permitindo a passagem de um só veículo de cada vez. Devido a esta e outras peculiaridades, a estrada era mais utilizada como cavaleira e para tráfego de boiadas. Iniciado a viajem, alguns animais nos deram algum trabalho na saída da fazenda, até que pegássemos ritmo. Uma vez percorridos cerca de 10 km, já por volta das nove da manhã, nos aproximamos da referida serra, cuja subida, diga-se de passagem, era longa e complexa, com mais de 3 km ladeira acima. Logo, procuramos encaminhar o lote de animais para a caixa de acesso da serra, havia necessidade de uma atenção especial neste trecho de estrada, já que na da encosta da serra, a vegetação era de mata densa e fechada, com muitos espinheiros e afloramentos de rochas, portanto, local de difícil acesso, se caso ocorresse arribadas. Sabedores de tal possibilidade, redobrávamos nossa atenção, encaminhando o gado o mais rápido possível para o canal da estrada, já subindo a serra. Uma vez iniciado a subida, mal tínhamos percorrido no máximo por 500 metros, ouvi mos um grito do Antenor, nos alertando, que ele estava ouvindo a uma zoeira de carro que descia a serra , e que seria de todo prudente, que retornássemos o gado ao sopé da serra, pois estávamos apenas iniciando a subida, e que não deveríamos correr o risco de cruzar com o veículo em plena serra, mesmo porque, não havia espaço. Como era uma estrada de difícil acesso, e relativamente isolada para o tráfego de veículos, não contávamos com aquela possibilidade, tínhamos necessariamente, de retornarmos o gado até o sopé da serra, para permitir a passagem do veículo. Assim foi feito. Retornamos o gado, e os recantilhamos à beira de um penhasco da serra, enquanto aguardávamos, que o carro que descia, passasse por nós. O barulho era de um carro reduzido - um Geep talvez -, que descia a serra vagarosamente. Como o traçado da estrada fora construído em forma de “ Z “, não podíamos avistar o veículo de longe, somente ouvíamos a sua zoeira. Havia momentos, que o seu barulho nos parecia tão próximo, que imaginávamos, já fosse passar por nós.
Assim, continuamos aguardando a passagem do tal carro, e como ele demorava muito, começávamos a nos inquietar, pois muito embora ouvíssemos o seu barulho, que nos parecia próximo, o tal carro, na verdade não passava. Vencidos pelo bom senso, ordenei ao Antenor, que puxasse novamente a guia do gado, e que os encaminhasse para a subida. E, Assim foi feito. A partir de então, passamos a não mais ouvir barulho de carro algum, ao mesmo tempo, estarrecidos observávamos, na medida em que subíamos serra acima, que não havia nenhum rastro de pneus de carro na estrada, e da mesma forma, percorremos todo o percurso de estrada da subida da serra até o seu planalto. Uma vez Já no planalto da serra, após percorridos mais de 02 km desde o final da subida, na margem esquerda da estrada, havia um morador, onde fizemos uma espécie de parada técnica, para recontagem dos animais. Ao mesmo tempo, que recontávamos o rebanho, aproveitamos da oportunidade, para perguntarmos ao morador(a) sobre a presença do tal carro, que nos parecia, havia descido a serra poucos minutos antes. Fomos atendidos por uma senhora, que inclusive, nos serviu água. Uma vez indagada sobre o tal carro, ela nos respondeu: Veja bem senhores! Já se fazem mais de 15 dias que não desce carro algum por estas estradas. Quando levamos ao seu conhecimento, sobre os fatos que presenciamos ainda há poucos instantes, ela nos disse: Na verdade senhores, já nem mesmo me espanto mais com estes fatos. Muita gente já ouviu o barulho deste carro nesta serra, sem que se soubesse da sua origem, ou mesmo, que alguém o tenha visto. Foram muitas às vezes, durante a noite, em que já vimos faróis de carro nesta serra, que esperávamos passasse em nossa porta em breves minutos , e que jamais por aqui passaram.
Há relatos do povo mais antigo, que nesta serra sempre apareceu visagens, e mais, ainda contam, que antigamente, quando da abertura desta estrada, realizado à duras penas, através de muita mão de obra braçal, picaretas e explosivos, que muitas vidas humanas foram soterradas juntamente com os seus escombros.

João Carlos de Oliveira
E-mail: zoo.animais@hotmail.com



Biografia:
Nem mesmo cairá uma unica folha de uma árvore, se caso não exista uma razão para tal!

Este texto é administrado por: João carlos de oliveira
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