PEQUENA/GRANDE MULHER
Ao longo da minha caminhada, tive o privilégio de ter conhecido uma pequena/grande mulher. Pequena por seus menos de 1,50 metros de estatura, más ao mesmo tempo, grande em inteligência, generosidade e respeito ao próximo. Nascida ao final do século XVIII, lá pelos idos do ano de 1896, não tivera o privilégio dos estudos, mesmo porque, fruto de uma sociedade patriarcal e machista, as jovens daquela época, eram direcionadas ao casamento, logo após a primeira adolescência, e no caso dela não fora diferente, tendo que se casar aos 13 anos. Semi-analfabeta por falta de oportunidades de aprendizado, seus parcos conhecimentos do mundo das letras, entretanto, não fora o seu fator limitante, especialmente, para o desenvolvimento dos seus dons medicinais. Numa época em que no campo, nunca se ouvira falar em medicina veterinária, ela do seu jeito e maneira, desempenhou esta habilidade com maestria. Famosa na sua região de origem, pelo sucesso nas cirurgias de castração de cavalos e de suínos, não dava conta do atendimento para tantas solicitações, solicitações estas, diga-se de passagem, exercidas gratuitamente. Suas garrafadas para o socorro de cavalos com cólicas, eram famosas. Ao mesmo tempo, como parteira para os seres humanos, dispensava comentários. Participou diretamente do parto e aparou, toda uma geração de meninos e meninas, que nasceram na sua região. Toda esta habilidade, era exercida com naturalidade, me parecia mesmo, que ela não tinha conhecimento da dimensão do seu gesto. Exemplos de vida de pessoas assim, tem sido mostrado ao longo dos tempos, para todos aqueles que desenvolveram dentro de si , a sensibilidade da percepção, que as bênçãos de Deus, privilegiam estas pessoas, geralmente com saúde, vida longa, fartura, etc. Proprietária de terras, de boas terras, acabou por ficar viúva ainda jovem. Nas suas terras, sempre haviam muitas pessoas e famílias, representados por trabalhadores braçais, agregados, e ainda, por um pequeno contingente de algumas pessoas muito especiais, aos quais, ela fazia questão de recolher ao seu convívio – eram representados por deficientes físicos. Lembro me, que quando criança, ao visitá-la na sua fazenda junto com a minha mãe, num final de semana, me impressionou sobremaneira, a presença de pessoas deficientes que habitavam a sede da sua fazenda. Ao sermos convidados para a sala de visita da casa sede, observei, que sentados nos bancos da sala, haviam pessoas surdo-mudos, outros, que puxavam da perna, outros, apoiados em muletas. Dirigindo-se, para aqueles que ali se encontravam, disse-lhes, ela: Meus filhos! Nos dá licença! Temos visita. Vão dar uma volta na casa de farinha, ou no engenho de cana ou mesmo, vão dar uma olhada se os porcos não estão com sede! Percebi, que cada um do seu jeito, foram saindo e deixando a sala um por um. E, foi se assim até o final da vida. Não fora uma pequena pneumonia provocado por uma gripe mal curada, teria chegado facilmente aos 100 anos.
Montes Claros, MG, 21 de Setembro de 2010.
OLIVEIRA, João Carlos de,
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