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Noite de Pânico!
perdidos na vida
Jô Mendonça

Resumo:
A noite é bela, mas também pode ser palco de coisas inesperadas e inusitadas.

Eram vinte e duas e quarenta, Janaína, de onze anos e a mãe, Laura, de quarenta e um assistiam a um filme de comédia na sala. A casa era confortável, três dormitórios, uma bela cozinha, um banheiro e uma suíte. Na garagem, o carro de Laura. Saulo, o marido, estava viajando a trabalho. As duas comiam pipocas e riam das trapalhadas dos personagens do filme. Fazia calor naquela noite e o ar condicionado estava ligado, mas Janaína reclamava que estava frio. Tanto mãe quanto filha eram extremamente vaidosas. Com apenas onze anos, Janaína era freqüentadora assídua de um salão de cabeleireiro. Cabelos longos, sobrancelhas feitas, bem delineadas, unhas feitas, compridas e pintadas com esmalte claro, não dispensava maquiagem nem para ir a escola. Apesar da pouca idade já parecia uma mulher. Laura aparentava bem menos do que a idade que tinha. Cabelos também longos e sobrancelhas também bem delineadas. Era médica, dermatologista.
Naquela tarde, as duas tinham ido lanchar no shopping e aproveitaram para ir ao cinema. A ausência do chefe da família fazia mãe e filha ficarem mais próximas. Janaína era tão apegada ao pai que Laura mal podia ter acesso a Saulo, o que deixava a mãe extremamente irritada e enciumada, mas aquela viagem a negócios era uma trégua, uma chance para as duas se achegarem. Janaína deitou a cabeça no ombro da mãe, Laura aproveitou para fazer cafuné nos cabelos da filha.
De repente alguém arromba a porta da sala, cinco rapazes armados e encapuzados entram.
_Vocês duas! Quietinhas aí! _Disse um dos assaltantes com a arma apontada para a cabeça de Janaína.
Mãe e filha, muito assustadas, permaneceram imóveis. Laura temia pela vida de Janaína, poderiam levar tudo, desde que não machucassem sua filha.
O armamento era pesado, Laura percebeu que se tratava de uma quadrilha especializada e não de amadores. Os outros quatro pegaram a televisão no quarto de Janaína, o computador da menina, dentre outros objetos de valor que estava ao alcance da mão. Tudo era levado para o carro de Laura, que também seria roubado.
_E aí dona? Onde é que ta o cofre? _Perguntou o rapaz que ameaçava Janaína. Se tratava de Caio, mais conhecido como Caião.
_Tá no meu quarto. _Respondeu Laura com a voz trêmula.
_Vamos lá que você vai abrir!
Laura acompanhou Caião até o quarto, a função de apontar a arma para a cabeça da menina ficou para um dos comparsas.
A médica abriu o cofre e deixou que o assaltante levasse todas as suas jóias, todo dinheiro que havia na carteira, cento e vinte reais.
_O negócio é o seguinte, você vai comigo prum caixa vinte e quatro horas e vai sacar toda a grana que você tem na conta!
_Eu dou tudo que vocês quiserem, mas pelo amor de Deus! Não machuca a minha filha! _Suplicou a mulher em prantos.
_Beleza! Vamos lá!
Dois membros da quadrilha ficaram na casa com Janaína, enquanto os outros dois seguiram de carro, com Laura, para o caixa eletrônico mais próximo. O lugar era deserto e o carro ficou bem perto do caixa eletrônico, Caião e Laura entraram no caixa e a mulher foi obrigada a sacar todo seu dinheiro, mil e cem reais, era triste ver o fruto do seu trabalho ir embora. E o medo de que matassem Janaína?
_Se você avisar a polícia a gente mata a sua filha! _Ameaçou Caião.
O outro comparsa, conhecido como Binho, ficou no carro dando cobertura. Tanto ele quanto Caião tinham dezessete anos de idade. Depois do saque, Caião entrou no carro, que era de Laura e foi embora com Binho. Laura viu seu carro, repleto de objetos que lhe pertenciam, indo embora. Saiu do caixa tremendo e chorando muito. De repente, um carro parou e um senhor de idade abriu a porta.
_Não! Não me mata! Minha filha... _Gritava Laura.
_Calma moça!Calma! _Interrompeu o senhor angustiado. Uma senhora de idade estava ao lado do dele, era sua esposa. _A gente viu que você foi assaltada.
O casal saiu do carro e a senhora abraçou Laura.
_Calma filha! Calma! A gente só quer te ajudar!_Disse ela tentando acalmar a vítima.
_Minha filha ta na mira de mais dois bandidos lá em casa.
_Vamos dar parte a polícia!
_O marginal ameaçou matar minha filha, se a gente avisasse a polícia, eu quero ir pra casa ver a Janaína!
_É só pra amedrontar moça! _Acalmou o senhor. _Eles já devem ter ido embora.
A senhora ligou para a polícia e Laura deu o endereço de sua casa. Minutos depois uma viatura chegou a residência. O senhor, sua esposa e Laura chegaram com eles. A polícia entrou e encontrou toda a casa revirada e Janaína amarrada e com uma fita isolante na boca. Desamarraram a menina e tiraram-lhe a fita da boca, Janaína chorava muito. Os assaltantes já haviam fugido.
_Mãe, eles levaram um monte de coisa nossa em uma caminhonete! _Lamentou a menina. _Os dois parelhos de som...
_Acabou filha! _Laura abraçou a Janaína. _Eles te machucaram?
_Não! Só me amarraram.
_Ainda bem que não te fizeram nada!
_Eles são uns monstros mãe! _Desabafou a menina aos prantos.
_Mas eles já foram embora! _Acalmou Laura, ainda abraçada a filha.
Muito assustadas, Janaína e a mãe passaram a noite em um hotel. Laura prestou queixa na delegacia.
Caião, Binho e os outros dois integrantes da quadrilha, todos mais ou menos da mesma idade, gastaram o dinheiro dos assaltos em uma noitada, com muita bebida e muita droga.Garotas com pouca roupa e muita lascívia no fundo dos olhos. Depois da festa Caião voltou para casa, os pais e os irmãos ainda dormiam, entrou e comeu algo, já se sentia deprimido, um vazio muito grande tomava conta de seu peito, lembrava-se da festa de toda droga que havia consumido. Para sua família, Caião não existia, era apenas Caio, o rapaz que desde criança já cometia barbaridades, aos dez anos tinha posto fogo na escola .Começou a usar drogas e beber aos doze, em festinhas com amigos de atitudes e gostos duvidosos. Apesar de parecer um mostro, Caio era no fundo, um poço de sensibilidade camuflada por suas atitudes bárbaras e incontroláveis. Seus pais já não sabiam mais o que fazer para educá-lo, todas as tentativas de corrigir o rapaz tinham fracassado, com os outros filhos, um casal de gêmeos, não haviam grandes problemas, pareciam bem encaminhados e muito enciumados com o fato de os pais se preocuparem mais com o irmão do que com eles, mas a cumplicidade, típica de irmãos gêmeos, de alguma forma supria a falta de atenção dos pais.
Depois de matar a fome, Caio foi pra sacada do apartamento e acendeu um baseado, observava os carros e as pessoas lá em embaixo, já amanhecia. Lembrou-se da mãe e da filha, suas duas vítimas. Sentou-se na rede e deu mais um trago no cigarro. O uso da maconha e de qualquer outro tipo de droga era proibido em casa, mas Caio nunca respeitava as regras.
Janaína e Laura ainda estavam traumatizadas, mas aos poucos retomavam a rotina e a vida normal, Saulo já havia voltado de viagem e já havia comprado um aparelho de som uma televisão e um computador para filha, para substituir parte do que havia sido roubado.
Caio lembrava-se de outros assaltos que ele e os amigos haviam feito, da vez que foi baleado em alguns momentos surrado pela polícia, as cicatrizes ficariam para sempre na sua alma. Deu mais um trago, sentia o vento em seu rosto, parecia aliviar um pouco seu sofrimento. O cheiro da maconha inundava todo o ar. Lembrou-se dos amigos que já haviam sido mortos, muitos menores de idades e todos com envolvimento no crime.
Era domingo, Caio e Larissa, a namorada viajaram para o litoral, o rapaz queria sair da cidade com medo de ser preso pelos crimes, eram sempre dessa forma, tinha que viver fugindo de tudo, fugindo de si mesmo. Os avós da menina tinham uma casa de praia e o casal passaria o dia lá com eles. Por volta de uma da tarde, foram a praia, só os dois, ambos queriam paz, namorar um pouco, pensar na vida que levavam e do cansaço emocional que sentiam. Na areia, muita gente, banhistas, ambulantes e muito Sol. Caio e Larissa se beijaram, um casal apaixonado, um beijo de amor. Os pais do rapaz não sabiam onde ele estava, Caio era assim, saía sem dar satisfação. Os dois se abraçaram, aos poucos, suas dores desapareciam, o amor parecia aliviar o sofrimento. Mais um beijo. Caio admirava o rosto de Larissa, sua beleza, seus olhos, seus cabelos encaracolados.
_Eu te amo! _Disse a menina.
_Também te amo! _Disse Caio.
Naquele mesmo dia, Janaína e os pais passeavam no shopping, queriam ir ao cinema. Laura e a filha olhavam as roupas nas vitrines das lojas, queriam comprar tudo que viam, Saulo ficava aflito ao ver a filha e a esposa na frente da vitrine, pois ele que pagaria a conta no final, e nunca saía barato. Depois de tanto olhar, resolveram ir ao cinema, uma forma de esquecer o pesadelo vivido há alguns dias atrás e nada como a fantasia para fazer esquecer a realidade.













Biografia:
Sou carioca, escritora e atriz de teatro.Escrevo romances, contos, crônicas e poemas.
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