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É Hora de Lavar Roupa Suja
Esquecer e Perdoar
Jô Mendonça

Resumo:
Briga, desentendimento, desavença, tudo pode ser resolvido numa mesa de bar.

Depois de trabalhar arduamente, os amigos resolveram marcar um novo happy hour, dessa vez num barzinho no bairro Vila Nova Conceição. Apesar de extremante indignado com a presença de Caio no programa, Paulo resolveu aceitar o convite de Jorge.
O bar estava lotado, Caio, Jorge, Isabel e Paulo procuravam uma mesa, passavam entre as pessoas, era muita gente, muitos garçons a servir por toda parte. A próxima mesa recém desocupada foi escolhida, sentaram-se e imediatamente o garçom os foi servir, a princípio pediram apenas uma rodada de chope. Paulo estava quieto, evita olhar para Caio, este, por sua vez, queria fazer as pazes, mas se recusava a tomar iniciativa, queria que Paulo o fizesse.Durante o expediente nada de conversa, apenas o indispensável, era assim todos os dias e aquela situação, deixava Caio extremamente magoado, mas o soco que dera em Paulo, na saída da danceteria, após uma discussão na madrugada anterior, também o havia machucado e Paulo dificilmente perdoava uma ofensa, quanto mais um soco.
   No bar, Isabel falava alto e gargalhava como de costume, Jorge, sempre soltava suas famosa piadas tenebrosas. Caio abraçou Isabel, a beijou no pescoço, procurava buscar consolo na parceira, já que se sentia triste. Ela o acalentava, como uma mãe que cuida do filho. Os dois se beijaram. Paulo apenas e observava o movimento, visivelmente incomodado com a presença de Caio, este, por sua vez, esperava Paulo dizer algo, olhava para o rapaz esperando alguma atitude, mas Paulo se matinha firme em sua postura dura e implacável. O garçom voltou com os chopes e os serviu.
Muitas pessoas entravam e saíam, riam, conversavam, muitos já bêbados, outros ainda sóbrios e tímidos. Caio percebeu que Paulo não iria ceder, tomou iniciativa.
_Tudo bem Paulo? _Perguntou o rapaz.
Paulo não respondeu, deu uma golada no chope e disse qualquer coisa a Jorge.
_Paulo, eu te fiz uma pergunta. _Insistiu Caio irritado.
_Gente, por favor! _Interferiu Isabel preocupada.
Paulo pediu licença, se levantou da mesa e saiu. Jorge deu uma golada no chope.
_Cara você pisou feio na bola com o Paulo. _Disse ele a Caio. _O cara tá uma fera, e com razão.
_Eu sei que exagerei. _Reconheceu o rapaz. _Mas ele também não precisa parar de falar comigo.
Um silêncio cortante tomou conta da mesa, Isabel passou a mão pelos cabelos, naquele fim de tarde resolveu os deixar soltos, gostava de sentí-los entre os dedos, estavam macios, havia feito uma hidratação e uma escova no salão de cabeleireiro antes de ir trabalhar. A moça pegou a taça de chope, deu uma golada e respirou fundo. Caio estava transtornado e ao mesmo tempo com raiva de Paulo, por não querer perdoá-lo, também pegou a taça e deu uma golada no chope. Jorge olhava para os lados, procurava algo inusitado para fazer uma piada, olhou para o casal.
_Caio, pede desculpa logo pro Paulo, antes que ele esfaqueie você e vá preso por homicídio doloso, ou lesão corporal dolosa. _Brincou Jorge.
_Jorge, que horror! _Exclamou Isabel às gargalhadas.
Os três riam da piada, como todas as piadas de Jorge, tinha que ter uma tragédia no meio. Mais goladas no chope até a bebida acabar por completo. Jorge acenava para os garçons para pedir mais uma rodada, mas nenhum deles o enxergava com a mão erguida, era uma luta, o homem teve que se levantar, acenar e gesticular com mais extravagância, Isabel ria dos malabarismos do colega. Caio estava pensativo, onde Paulo estaria uma hora dessas? Por que ainda não havia voltado? Olhava para os lados, angustiado, na esperança de que ele aparecesse. Jorge, agoniado com a demora no atendimento, passava a mão pela cabeça quase totalmente careca, poucos fios de cabelos ainda restavam.
_Já tô me descabelando aqui. _Brincou.
_Como se você tivesse cabelo pra se descabelar. _Brincou Isabel.
_E olha que não tenho nem quarenta anos ainda.
_Mas a sua mãe me contou que aos vinte cinco você já tava ficando careca. _Revelou a moça.
_A minha mãe fala demais! _Reclamou o moço em tom de brincadeira.
Caio e Isabel riram. Finalmente um garçom viu e foi atender a mesa.
_Puxa até que enfim! _Disse Jorge aliviado.
_O que vão querer? _Perguntou o atendente.
_Mais uma rodada de chope.
_Traz também uma porção de fritas. _Pediu Isabel.
Enquanto o jovem garçom anotava, Caio resolveu ir atrás de Paulo, saiu da mesa e caminhou pelo ambiente, perguntou ao outros garçons se algum deles havia visto um rapaz alto, branco que usava óculos, um deles revelou que ele havia entrado no banheiro, foi atrás, entrou e viu Paulo lavando o rosto, chegou perto e pôs a mão no ombro do colega. Paulo fechou a torneira, pegou algumas toalhinhas papel, enxugou o rosto, as mãos e olhou para Caio, fez cara de tédio, como quem realmente não queria saber de conversa. Já Caio, estava disposto a fazer as pazes e a passar por cima de seu orgulho.
_Vai continuar agindo como criança, evitando falar comigo? _Questionou Caio.
_E o que você esperava? Que eu fosse tão adulto quanto você e fingisse que aquele soco que eu levei não tivesse acontecido? _Revidou com ironia. _ Hein senhor adulto?
Caio passou a mão pelo rosto, reconhecia sua culpa, mas não queria dar o braço a torcer.
_Você me tirou do sério! _Justificou-se Caio.
_Você é que não sabe ouvir a verdade!
_Olha, por que a gente não esquece tudo isso?
Paulo se esforçava para dar o perdão, algo que para o rapaz era extremamente difícil, mas ainda faltava algo.
_Você tem certeza de que não tá se esquecendo de nada não? _Questionou Paulo.
_Desculpa cara!_Pediu Caio.
Os dois se abraçaram, um forte abraço de amigo, Paulo estava decido a gostar mais de Caio, ver ele com outros olhos e aceitar o rapaz como ele era, Caio também estava disposto a fazer o mesmo. Alguns homens entravam e saíam do banheiro, mas os dois ignoraram a presença deles, pois o que tinham para tratar era bem mais importante.
Na mesa, Isabel e Jorge bebiam e riam de piadas contadas por Jorge, o foco não era mais tragédia e sim sexo, piadas grotescas e pornográficas contadas também por Isabel, motivo das incansáveis gargalhadas. Mais goladas e o chope já estava quase no fim. Caio e Paulo voltaram à mesa aliviados, sem aquele peso nos ombros, o peso da desavença. Sentaram-se e serviram-se de sua taças de chope ainda cheias.
_Pela cara de vocês a conversa foi boa. _Comentou Isabel. _Onde vocês estavam?
_No banheiro. _Respondeu Paulo.
_Pelas risadas de vocês a sessão de piadas também tá boa. _Disse Caio. _Conta pra gente rir também. _Brincou o rapaz.
Jorge imediatamente soltou mais uma piada, mais gargalhadas, chope, gargalhadas e chope. Novamente o garçom foi chamado, Caio pediu outra rodada da bebida e uma porção de calabresa com cebolas, o atendente anotou o pedido e se retirou. Isabel pediu licença, se levantou e foi ao banheiro. Caio e Paulo acabaram com o chope que ainda restava, até não sobrar mais nenhum gole.
O bar estava cada vez mais cheio e a noite estava só começando, pessoas circulavam a procura de uma mesas desocupadas, os garçons atarantados, limpavam imediatamente as que desocupavam.
O chope e a porção de calabresa com cebolas chegou, o atendente os colocava cuidadosamente na mesa, retirou-se e os três homens puseram-se a beber e comer e falar de futebol, o possível rebaixamento do Corinthians era o assunto do momento. Isabel chegou com a maquiagem retocada, sentou-se, beijou a boca de Caio e serviu-se do chope, entrou na conversa sobre o rebaixamento do Corinthians, a moça disse que achava um absurdo, Jorge gostava da idéia do time ser rebaixado, já que torcia para o Tricolor, era são paulino roxo. Como iria dirigir e levar os amigos para casa, Paulo decidiu parar de beber e ofereceu sua taça ainda cheia para quem quisesse tomar e foi na base da conversa informal, chope e piadas que os três amigos jornalistas foram até meia noite e meia. Pediram a conta, pagaram e saíram de lá muito bêbados, entraram no carro de Paulo, Jorge foi no banco da frente ao lado do lado do motorista e o casal foi atrás, aos beijos e amassos. No som, a banda The Doors reinava absoluta, Paulo gostava de bandas de rock antigas, costumava colecionar discos de vinil, os considerava uma verdadeira relíquia do rock, em sua casa era possível ver muitos deles, um verdadeiro acervo, o hábito fora herdado do pai, também um amante do rock, que passou sua paixão para o filho. Jorge contava sobre sua adolescência, sobre as músicas que ouvia e os shows de rock que ia com os amigos. Isabel dizia que queria que Caio fosse o pai de seus filhos, o rapaz dizia que não pretendia se casar nem ter filhos por enquanto e que era jovem demais para aquilo, que só tinha vinte e quatro anos e mais um monte de desculpas esfarrapadas. Paulo ria dos dois, os chamava de bêbados bobos. Jorge cantava a música que estava sendo tocada no momento. O motorista ligou o carro e seguiu pelas ruas de São Paulo, deixaria os amigos em casa e depois iria embora. No caminho, muitas risadas, muitas bobagens e muitas promessas de Jorge que jamais seriam cumpridas. Caio deitou no colo de Isabel, ela acariciava seus cabelos.
A noite acontecia naquela cidade que não dorme, que não para, que é ímpar e única, que tem uma diversidade típica de uma grande metrópole.








Biografia:
Sou carioca, escritora e atriz de teatro.Escrevo romances, contos, crônicas e poemas.
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