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O HOMEM SEM CORAÇÃO - Capítulo X
O sacrifício asteca
Vicente Miranda

Fora a fragilidade da máquina humana, o mundo está cheio de perigos ocultos e inesperados que põem em risco a sobrevivência do homem. Múltiplas ocorrências, danosas à existência, leva-nos a crer que ultimamente o simples ato de viver não vale quase nada. São tantos os perigos contra a humanidade –– assaltos, tragédias, balas perdidas, doenças, terremotos, furacões –– enfrentados constantemente, que nos levam a crer que vivemos sempre caminhando sobre ovos. Agora, em um ponto haveremos de concordar, que bem se note, acreditamos que hospital é local onde se busca tratamento, repouso e recuperação para os doentes. Mas, bem... cada caso tem a sua história...
O professor Alberto foi induzido por mais algum tempo ao estado de inconsciência, estando, ainda, sem identificação num leito hospitalar e a mercê de um médico mal intencionado, que se utiliza da nobre profissão a fim de obter vantagem financeira ilícita com o tráfico do coração do pobre professor. Fourillon tem tudo preparado para realizar o seu intento, aproveitava-se dos fatos que conduziram o homem apropriado para o transplante criminoso que realizará. O diabólico médico, cardiologista experiente, arquitetou o plano desumano cuja finalidade é a obtenção de um coração, custe o que custar, para um riquíssimo empresário que pode morrer a qualquer momento se depender da fila de espera para transplante de órgãos. Na realização deste ato horrendo, o Dr. Fourillon conta com a cobertura de um grupo de apoio externo e, dentro do hospital, apenas o Dr. Demóstenes e o Dr. Rubens, respectivamente um fisiologista que o auxiliará na retirado do órgão e um legista que se encarregará da necrópsia do corpo, sabem do enredo macabro. Neste momento, o Dr. Fourillon tem o homem inconsciente sob seu domínio, mas precisa de auxílio para realizar a cirurgia de retirada do órgão, não pode contar com os serviços de enfermagem, as enfermeiras nem sonham com o que estava prestes a acontecer –– “Essas enfermeiras estúpidas têm a língua solta, Demóstenes. Nunca devemos confiar nelas.” –– afirmou certa vez Fourillon. Sendo assim, o médico maldito requisitou, previsivelmente, que viesse em seu auxílio o Dr. Demóstenes, um jovem em início de carreira, que se demonstrava ser um tremendo picareta que topava qualquer coisa por dinheiro. No entanto, Demóstenes demonstrava-se cada vez mais assustado com o iminente ato de crueldade que Fourillon anunciava dentro da sala do pronto-atendimento:
–– Fourillon, eu não sei o que dizer, sinto-me eufórico e ao mesmo tempo receoso. Será que...
–– Você tá com medo, Demóstenes?
–– Não, não é medo. É que é difícil não me colocar na posição deste indivíduo. –– falava o dr. Demóstenes apontando para Alberto –– Ele deve ter família, tem uma história de vida, deve ter planos e...
–– Eu não vou nem deixar você continuar, Demóstenes! Esperamos bastante e agora que tudo está propício para o cumprimento da nossa tarefa me vem você com esse nhem, nhem, nhem! Pare com isso já!
–– Desculpe-me, Fourillon. É que eu sou muito temente a Deus.
–– Ah! Larga a mão, vai! Que Deus? Que Deus? Você também acredita que um velhinho de barbas brancas que mora sobre as nuvens está vendo o que vai acontecer aqui! Demóstenes, de uma vez por todas, para com este papo, meu! Ouça bem o que vou dizer: Deus não existe, meu! Deus nunca existiu e nunca existirá! Quer ver só? Se ele realmente existe por que é que não vem até aqui para salvar este homem da morte certa nas nossas mãos? Será que você não vê que o todo-poderoso Deus não pode fazer nada por este desgraçado?
–– É que eu não sei se devemos...
–– Demóstenes, você ainda é um bebê de colo perto da minha longevidade médica. Você começou nisso faz pouco tempo, no entanto, eu tenho mais de trinta anos de profissão, eu não aguento mais isso aqui, meu! Eu não quero morrer aqui dentro. Veja bem, temos o homem certo na hora certa, os exames demonstram que todos os requisitos de que precisávamos este cara apresenta, o sangue é ideal, o coração bate mais compassado que pandeiro em roda de samba, ele está inconsciente, a família está longe, e tudo o mais. Ele é apenas mais um entre bilhões de seres humanos desgraçados no mundo, não é justo que ele viva e um empresário bilionário, um homem que se propôs a nos pagar –– dez –– milhões –– de –– dólares –– por este simples trabalho, morra. Se o controle das empresas deste empresário passar para as mãos dos herdeiros, todas as empresas dele certamente falirão. E quantas pessoas não perderão o emprego, hein? Por isso é mais justo tentar salvar o empresário da morte do que deixar esse infeliz vivo. É a nossa hora de brincar de Deus, meu chapa! Nós também podemos matar ou fazer viver, não é? Se Deus realmente existisse e fosse tão bom como tantos supõem, ele deveria olhar melhor para os seus filhos e deixá-los viver em paz, sem dores, sem doenças e sem angústias. Demóstenes, Demóstenes, agora é pegar ou largar, se você me abandonar aqui eu terei que seguir sozinho. Não dá para perder essa chance, entendeu meu chapa? Já demoramos demais nesse bate-papo, meu! Desencana logo, vai!
Demóstenes baixou a cabeça como se ela pesasse uns cem quilos, refletiu por um instante e questionou Fourillon que o olhava com firmeza:
–– Como será o procedimento, Fourillon? Eu não posso desistir agora, tenho dois apartamentos nos Jardins com cinco prestações em atraso cada um e corro o risco de perdê-los na Justiça.
–– Apartamentos? Esqueça-se disto. Depois da realização deste servicinho simples nunca mais você precisará trabalhar em sua vida. Vou explicar o procedimento, é muito fácil, abriremos o peito do cara e arrancaremos o coração dele, logo em seguida, pegaremos um táxi e, com o órgão já devidamente acomodado para transporte, iremos ao encontro de um helicóptero que se encarregará de nos levar até um jatinho fretado, temos poucas horas, mas já está tudo no esquema, todo o grupo já foi avisado de que temos a mercadoria nas mãos. Entretanto, é preciso agir com rapidez, devemos chegar o mais rápido possível ao nosso destino. Não podemos errar.
–– E a família deste homem?
–– Nem sabe que ele tá aqui, mas por precaução vou avisar a essas recepcionistas e enfermeiras idiotas deste mausoléu para não comunicarem a ninguém durante os nossos trabalhos, não podemos admitir que ninguém nos atrapalhe enquanto trabalhamos.
–– Não tem como descobrirem este esquema, Fourillon?
–– Deixa de ser cagão, Demóstenes! Já conversamos sobre tudo antes. Quando você ouviu falar do dinheiro que receberia pelo serviço, aceitou na hora, não é? Agora você parece que quer dar pra trás! Chega, né!
–– Não é isso, Forillon.
–– É praticamente impossível alguém desconfiar de alguma coisa, daqui até a sepultura o nosso grupo agirá com perfeição, da necrópsia até o enterro deste infeliz o esquema está totalmente armado, Demóstenes. Chega de papo, vamos agir, já perdemos tempo demais. Leve o cara rápido para a sala de cirurgias deste andar mesmo e vá preparando a instrumentação, eu vou conversar com essas recepcionistas e enfermeiras estúpidas para não nos interromperem. Ok?
Depois de avisar as enfermeiras de que não deveria ser interrompido em hipótese alguma durante o procedimento no qual tentaria, segundo ele, salvar a vida do homem acidentado que “estava entre a vida e a morte”, Fourillon guardou todos os exames de Alberto na gaveta de sua mesa, preparou a mala para o transporte do orgão, entrou e fechou a sala de cirurgia por dentro, desinfetou as mãos, pôs as luvas cirurgicas, o avental e a máscara de rosto, parou por um instante observando o dr. Demóstenes que se movimentava coordenadamente na frente da mesa cirúrgica preparando a vítima para o corte que daria início ao ato macabro:
–– Como é Demóstenes, já abriu o peito do cara?
–– Não, Fourillon. Na verdade, eu nem sei fazer isso direito, você sabe que a minha especialidade é fisiologia.
–– Tá bem, tá bem. Deixa que eu cuido disso, adoro quebrar um peito no meio. Veja só como é baba.
Fourillon aproximou-se da mesa cirúrgica e, em poucos minutos, deu conta do recado:
–– Agora você segura um lado das costelas que eu seguro o outro. Isso, isso, assim mesmo, vamos abrir a gaiola bem devagar que eu quero logo esse passarinho na palma da minha mão.
Demóstenes de olhos esbugalhados suava frio enquanto à sua frente Fourillon conduzia tranquilamente todos os procedimentos cirúrgicos:
–– Que beleza! Foi mole, não? Olha o coraçãozinho lá, parece novinho em folha, está funcionando igual a um relógio suíço e quase não se vê gordura em volta dele o que é muito importante.
Mesmo sendo abafadas pela máscara de rosto, as palavras de Fourillon alcançavam perfeitamente os ouvidos do assombrado e medroso Demóstenes. Elas iam explicando detalhadamente cada passo do processo que se seguia para a retirada do coração do professor Alberto, as palavras do velho médico demonstravam também indiferença e sordidez diante da vida de um homem inconsciente e, agora, praticamente morto:
–– Estes bisturizinhos são jóias, né? Cortam até pensamento. Daqui a pouco o motorzinho se desprega do peito do cara, você vai ver que maravilha, Demóstenes. Estou adorando isso tudo. A prática de retirada de corações de seres com vida é muito antiga, os astecas, por exemplo, sacrificavam vítimas em praças públicas arrancando-lhes os corações que eram depois oferecidos aos seus deuses. Devia ser um espetáculo lindo de morrer, não acha? E naquela época não tinha essas molezas de hoje: anestesia, bisturi, tesouras, luvas e tudo o mais.
Demóstenes acompanhava tudo em silêncio e estava cada vez mais assombrado com a tranquilidade do velho Fourillon. O jovem médico já tinha presenciado fatos inusitados em poucos anos de profissão, porém nunca havia visto um ato de tamanha frivolidade e maldade como aquele do qual era cúmplice, era-lhe difícil esconder o nervosismo e também era tarde para desistir.
–– Você está tremendo, Demóstenes! Tá com medo? Não se espante meu amigo, olha só, é como tirar pirulito da boca de criança.
Fourillon rompeu cuidadosamente as últimas artérias que ligavam o coração ao corpo de Alberto, solicitou que Demóstenes se encarregasse da limpeza e da sucção da mistura de água e sangue que encharcava o peito do professor. E o velho médico retirando definitivamente o coração do corpo já sem vida de Alberto, o levantou nas mãos como se envergasse um troféu:
–– We are the champions, my friend! O motorzinho já está nas nossas mãos, Demóstenes! O resto não tem serventia nenhuma. Pode fechar o presunto enquanto eu guardo a mercadoria milionária.
–– Eu costuro ou cauterizo as veias e artérias, Fourillon?
–– Sei lá, vê o que é mais fácil. Pode costurar veia com artéria, pode costurar ou cauterizar tudo junto, só não deixa ficar vazando muito sangue. Mas faça isto rápido! Devemos partir imediatamente.
Em poucos instantes os dois médicos abandonavam o corpo de Alberto num dos quartos do hospital e rapidamente se encaminharam até a enfemaria. Fourillon estava com a mala que transportava o órgão nas mãos, mas a enfermeira-chefe nem se deu conta do fato, na realidade ela nunca havia visto uma maleta daquelas e muito menos imaginaria que ali dentro havia o coração recém-arrancado de um dos pacientes:
–– Dr. Fourillon e Dr. Demóstenes, boa noite! E a cirurgia foi bem, conseguiram salvar o homem?
O Dr. Demóstenes baixou a cabeça meio sem graça, enquanto o experiente e tarimbado Dr. Fourillon respondia a pergunta da enfermeira-chefe de forma melancolica e triste:
–– Infelizmente o socorro, quando não há mais esperança, quem dá é Deus, né? Tudo o que podíamos fazer, nós fizemos.
–– O resgate encontrou os documentos do acidentado, ele se chamava Alberto e era professor, coitado, né Dr. Fourillon? A família já foi avisada e os parentes do falecido estão se encaminhando pra cá, eles terão um choque quando souberem, pobrezinhos.
–– Dona Luísa, eu e o Dr. Demóstenes temos uma emergência em outro hospital e temos que ir agora, é muito urgente. O Dr. Rubens já está vindo buscar o corpo para a necrópsia, não deixe que ninguém toque no corpo que não seja ele, entendeu? Mas me diga uma coisa, Dona Luísa, estou preocupado com os doentes que ficarão, como está a movimentação neste hospital agora?
–– Olha, dr. Fourillon, até que está tudo tranqüilo por aqui. O Dr. Queirós já chegou e o Dr. Jacinto está a caminho. Acho que o senhor e o Dr. Demóstenes podem ir tranquilamente atender a emergência que têm.
–– Até logo, Dona Luísa. Vamos, Demóstenes!
–– Até logo, doutores! –– “Eu, hein! É cada médico louco que me aparece neste hospital, parece até que saíram do filme do Franknstein. Cruz credo!” –– ponderou a enfermeira-chefe enquanto via os dois médicos cochichando e olhando para os lados muito desconfiados.
Fourillon e Demóstenes desapareceram rapidamente pelos corredores iluminados do hospital. Dona Luísa, a enfermeira-chefe, permaneceu na enfermaria que dava acesso aos diversos quartos daquele andar, pois havia apenas mais duas enfermeiras auxiliares para atender o hospital inteiro, já estávamos quase na véspera de Natal e somente quem já precisou de hospitais nessa época do ano sabe como é precário o atendimento por falta de funcionários. Dona Luísa encarregou-se de aplicar os medicamentos nos pacientes dos quartos próximos à enfermaria, e lá ia ela com a sua bandejinha cheia de injeções preparadas andando pelo corredor que dava acesso aos quartos, –– “Amor, I love you... Amor, I love you... Amor, I love you... Amor, I love you... Deixa eu dizer que te amo... Deixa eu gostar de você...” –– cantarolando alegremente.
Quando saiu de um dos quartos e voltou ao corredor presenciou uma cena que jamais havia visto em toda a sua vida, viu saindo do quarto onde estava o corpo do professor Alberto uma luz muito forte, era como se vários relâmpagos houvessem se encontrado ali ou uma estrela tivesse caído dentro daquele quarto, para se ter uma idéia a claridade silenciosa que dali fluía, fazia com que as luzes do corredor daquele hospital parecessem fósforos acesos, aquela misteriosa iluminação espantou e cegou a enfermeira-chefe por alguns segundos. Dona Luísa fechou os olhos que ardiam e se abrigou assustada de volta ao quarto do qual tinha acabado de sair: –– “Vou pedir ajuda, deve ter estourado a caixa de força. Caramba! Só tem telefone na enfermaria. Que droga! Só falta eu morrer queimada aqui dentro.” –– Quando a curiosidade fez com que ela espiasse pela brecha da porta do quarto em que estava, Dona Luísa notou que a luz havia desaparecido completamente: –– “Será que eu tô vendo coisa?” –– e tudo voltara ao normal, porém, vagarosa e desconfiada, ela decidiu verificar o quarto onde estava o corpo de Alberto aguardando a chegada do médico legista. Dona Luísa entrou no quarto e não viu nada que parecesse queimado ou danificado, olhou novamente para o quadro de força na parede e para os aparelhos que ali estavam: –– “Que estranho!” – pensou. Ela não sabia que o mais estranho ainda estava para acontecer. Quando ela se virou para o leito de Albeto, viu o homem estava sentado na cama. O professor, mirando a espantada enfermeira-chefe, indagou:
–– O que é que eu estou fazendo aqui? Alguém pode me explicar o que aconteceu? Eu só me lembro da batida.
A enfermeira se assustou e até pensou em sair correndo, mas lembrando-se do Dr. Fourillon, preferiu continuar por ali: –– “É cada médico xarope que tem neste hospital!” – resmungou.
–– Ué, o senhor tá vivo?
–– Parece que sim. Não era para estar? Há algum problema, enfermeira?
–– Não, é claro que não. Graças a Deus que o senhor tá vivo, né? É que depois do atropelamento trouxeram o senhor para este hospital e os médicos tiveram que submetê-lo a uma cirurgia, o senhor estava entre a vida e a morte.
Alberto tateou o corpo inteiro:
–– Não sinto nenhum corte ou sinal de cirurgia no meu corpo, essa cirurgia deve ter sido feita em outra pessoa. Vocês podem ter se enganado.
–– É possível. É possível. Este hospital já é uma lástima o ano inteiro, em final de ano, então, é que a coisa fica pior. Agora deita Sr. Alberto, descansa que a sua família já está a caminho, logo eles chegarão.
Saindo do quarto, Dona Luísa encontrou no corredor o pessoal da necrópsia e dispensou todos eles, inclusive o Dr. Rubens, informando-os do equívoco que havia ocorrido. Voltou para a enfermaria, pois depois de tantos anos de profissão já não se espantava com mais nada, sentou-se –– “Deixa eu dizer que te amo. Deixa eu gostar de você...” –– e lembrou-se dos médicos esquisitos: –– “Esse Dr. Fourillon sempre me pareceu meio louco. Cada médico distraído que existe, tá loco! Por isso que eles esquecem tesouras, gazes e outros objetos dentro dos pacientes. É cada um mais xarope que o outro! Coitado do doente que encontrar um tipo desses pela frente!” –– a enfermeira resmungava e balançava a cabeça em sinal de desaprovação.
Pouco tempo depois, Mirtes, Ana e Mário chegaram ao hospital e se apressaram até a recepção onde solicitaram informações sobre Alberto, a recepcionista consultou as fichas das entradas de acidentados daquela noite e informou a eles que havia um homem que dera entrada naquela unidade vítima de atropelamento com as características que haviam descrito e que fora submetido a uma cirurgia de emergência no terceiro andar daquele hospital.
Os três familiares subiram pelas escadas, a aflição do momento não lhes deu chance para que esperassem pelo elevador, e rapidamente chegaram ao terceiro andar. Encontraram na enfermaria a enfermeira-chefe a quem descreveram novamente o paciente e os motivos que o levaram até ali.
–– Eu já estava esperando pelos senhores. Vocês devem ser os familiares do Sr. Alberto, não?
–– Sim, somos nós! Ele está bem? Onde ele está, enfermeira? –– indagou Mirtes afoita e desesperada.
–– Pode ficar calma, minha senhora. Ele está otimamente bem, estive com ele há poucos minutos.
–– E a cirurgia que ele sofreu? –– indagou Mário.
–– Olha senhor, eu nem sei direito o que aconteceu. Os médicos que atenderam o Sr. Alberto tiveram que sair para uma emergência e não me explicaram nada, a única coisa que eu sei é que o homem está bem, acho que não foi nem preciso fazer cirurgia. Ele está naquele quarto ali, podem entrar para vê-lo. –– Dona Luísa indicou o caminho apontando o quarto onde Alberto estava.
Quando Mirtes, Ana e Mário entraram no quarto, eles viram Alberto de pé debruçado no para-peito da janela contemplando o desenrolar da vida noturna paulistana e as infinitas luzes que compõem e iluminam o cenário da gigantesca cidade.
–– Alberto?!
O professor se virou-se sorridente e calmo e os saudou com um singelo:
–– Oi, pessoal! Até que enfim vocês chegaram para me tirar desta espelunca.
–– Você está bem, querido?
–– Nunca me senti tão bem em toda a minha vida, Mirtes! Acho que foi mais um susto do que qualquer outra coisa. Quase não me lembro de nada, só sei que um carro me atropelou e que eu acordei aqui faz pouco tempo.
–– E a cirurgia que nos informaram que fizeram em você? –– questionou novamente Mário.
–– Cirurgia? Que cirurgia, Mário? Não sei, não tenho nada cortado ou costurado. Não sinto um arranhão sequer no meu corpo. Acho que devem ter se enganado de paciente. Onde disseram isto para vocês?
–– Fomos avisados por telefone, Alberto.
–– Estas telefonistas devem estar malucas, Mário! Não houve nenhuma cirurgia. Não vejo a hora de ir embora, estou ótimo. Cadê o médico?
–– Estou aqui, Sr. Alberto. Muito prazer, eu me chamo Dr. Queirós. – apresentou-se o simpático médico ao professor e aos familiares já dentro do quarto.
–– Doutor, estão falando em cirurgia, mas eu não fiz nenhuma cirurgia, eu estou me sentindo otimamente bem!
–– Eu sei disso. Eu encontrei os exames do senhor dentro da gaveta do Dr. Fourillon. Ele foi quem o atendeu na emergência, Sr. Alberto. E como todos os exames indicam que a saúde do senhor está perfeita, não temos razão para segurá-lo aqui. O senhor pode ir para casa com sua esposa, mas fique de alerta, qualquer problema retorne o mais rápido possível. Tudo bem?
–– Muito obrigado, Dr. Queirós. –– agradeceu Alberto.
Quando o médico, Mirtes, Ana e, por último, Mário saiam do quarto para que Alberto pudesse se prepara para ir embora, o professor chamou:
–– Mário, por favor, venha aqui!
Mário voltou para o quarto atendendo ao pedido de Alberto, na certa o professor precisava de alguma ajuda para ir ao banheiro ou se locomover:
–– Fala, Alberto?
–– Mário, sobre aquele nosso papo daquele dia...
–– Alberto, eu não quero mais falar sobre isso, pode ficar sossegado, eu vim aqui apenas em solidariedade por causa do acidente que você sofreu.
–– Mário, eu estive pensando muito ultimamente e não vejo a hora de participar das reuniões do PSE, quero que você traga o calendário com todas as datas, quero participar das reuniões.
Mário se surpreendeu com as palavras de Alberto, não era exatamente o que ele esperava ouvir, mas abriu um sorriso largo para o cunhado:
–– Tá certo, Alberto. É assim que se fala, meu velho. Você não vai se arrepender de participar das reuniões. O PSE estará de braços aberto para recebê-lo.


* * * * * * *


Este texto é administrado por: Vôgaluz Miranda
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