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Veraneio com a família
Mario Bourges

Resumo:
Mais aventuras ou desventuras do Comendador Baltazar Ferro acessem: www.comendadorbaltazar.blogger.com.br

Sei que fiquei um longo período sem me manifestar por estas paragens. Sabe como são esses finais de ano, sempre a mesma coisa. Festas intermináveis, tumultuadas, barulhentas e chatas, em sua grande maioria. Então, assim que passou o Natal e o Reveillon, datas onde qualquer coisa é simplesmente impraticável para se fazer ou qualquer lugar impraticável de se frequentar, além de qualquer coisa, tudo muito caro, pensamos que sair de féria seria uma boa ideia. Logicamente que teríamos de ir longe, pois, ficar pelos arrabaldes não valeria à pena.

A Olga, sempre muito ágil e prestativa nestes casos, tratou logo de pegar o telefone, e de posse de mais de uma dúzia de números telefônicos nas mãos, pôs-se a ligar freneticamente para todos. Para você ter uma idéia tinha oferta até para casa na beirada do Piscinão de Ramos no RJ. E antes que qualquer pergunta absurda viesse se jogando de sua boca para cair nos meus ouvidos minha resposta foi NÃO! Claro.

Como ela estava totalmente decidida encontrar um canto para nos divertirmos insistiu por mais algumas horas ligando para tudo quanto é lugar. E quando começava a dar sinais de cansaço ela resolveu desistir de fazer a procura em pé. Posso dizer que o conforto de uma poltrona clareou suas perspectivas, foi aí que descobriu um apartamento em SC, no balneário de Enseada em São Francisco do Sul, mais precisamente falando. Tudo bem, pensei, as praias de lá são bacanas, continuei pensando.

Assim sendo, e sem muitos pensamentos, pois isto realmente pode malograr qualquer tipo de ação, amontoamo-nos no carro com as bagagens que íamos ou não usar, utensílios domésticos úteis e totalmente inúteis para a ocasião, mas a tradição reza que devemos sempre levar tranqueiras desta natureza nas viagens, e ainda tinha os chinelos, os sapatos, com e sem saltos, as famigeradas sandálias, as pantufas, uns estúpidos patins e as ridículas boias para os cílios postiços da Olga não afundarem no mar. Detalhe este que não seria de todo mal se acontecesse de fato... O quê? A perda dos tais cílios, oras. Mas... Enfim.

Então, depois de algumas horas andando, andando e andando com o fusquinha velho de guerra a ilha de São Francisco do Sul se manifestava ao longe com pequenos e encabulados pulinhos de alegria contida com a nossa chegada... Eu podia ver isto... Não estou mentindo. Se bem que minha labirintite se mostrava raivosa naquela manhã. Tanto que os fortes chiados nos ouvidos, quando isto acontece, forçam meus olhos, facilmente influenciáveis, a acreditar em qualquer coisa, inclusive acreditar que um policial rodoviário poderia atravessar a pista por cima dos carros... Sim! Flutuando sobre os carros... Mas deixe pra lá. Sei que isto é besteira.

Bom, alguns longos minutos mais tarde avistamos o tal prédio onde o apartamento fora locado por nós, no litoral de Enseada. Aviso desde já que não foi lá uma ótima escolha. E pude perceber isto ainda de fora do prédio, de dentro do fusca, que naquele momento tocava All My Loving dos Beatles no rádio. Logicamente que poderia acabar o mundo naquele instante, pois estava bem acompanhado pela melodia do (ex) quarteto de Liverpool.

Existia lá um leão-de-chácara (uma baita de uma gordona feia) cuidando, ou assustando, as pessoas que lá se hospedavam com a intenção de veranear. Tudo bem, não dou a mínima para leões-de-chácara. E pensando desta maneira só me dirigi ao apartamento depois de alguns pequenos problemas de falta de entendimento resolvidos. Que problemas seriam esses? Eu é que sei? Só sei que a gordona tinha uma parte neste problema, mas também nem quis saber. Sou do tipo de pessoa que não costuma se intrometer na vida dos outros.

E pensando desta maneira tratei de trocar de roupa assim que entramos definitivamente no dito apartamento. Contudo, vejam só vocês, nossas expectativas foram massacradas com a horripilante visão do lugar; louças sujas e talheres incrivelmente tortos que até pareciam ter pertencidos ao Uri Geller. Os travesseiros pareciam troncos de madeira vestidos com fronhas. Os colchões... Bem, os colchões até que eram bons. O sanitário parecia estar com boa cara; uma certa limpeza duvidosa para enganar a torcida e ainda, e talvez até a melhor parte, sem as tradicionais baratas que circulam pelo local na ausência de pessoas. Existe um detalhe que esqueci de mencionar: o prédio não tinha elevador, apenas escadas, e muitas delas, por sinal.

Tudo bem, tratamos de encarar aquela situação como encorajadora em vez de ficarmos nos lamuriando. Penso que tenha sido o melhor a se fazer. O primeiro passo foi trocarmos de roupa, pois o tempo no balneário estava quente. Troquei as roupas compridas pela bermuda, chinelos e uma camiseta. Claro que levar um chapéu foi providencial, pois nem me imagino torrando a careca no sol. Segundo a Olga e as crianças quando isto acontece eu viro um tremendo de um purgante. Não deixo ninguém em paz. Mas segundo a Olga e as crianças, novamente, esta história de não deixar ninguém em paz é uma constante, já faz parte da rotina deles. Então, na verdade, isto não mudou nada. Melhor assim, pois gosto de ser conservador.

Assim mesmo quis me cuidar para não torrar muito sob o sol, pois não gosto muito dele. Aliás, não nos damos muito bem. Então é melhor para ambos que não nos encontremos, e se isto acontecer, que um não olhe para a cara do outro e pronto, tudo se resolve. Pelo menos esta é a linha de meu raciocínio. No entanto, como sei que ele (Sol) não pensa, é sempre bom eu me proteger com bloqueador solar, dos mais potentes, óculos de sol e chapéu. Sem dúvida que para tudo ficar realmente certinho, completo, é preciso uma(s) lata(s) de cerveja nas mãos. Depois disto fiquei alegre e contente a desfrutar daquele panorama deslumbrante... Gente bonita, bundas desfilando de um lado para outro, crianças gritando sem parar, jogando areia umas nas outras, choros, tapas, mais areia voando para todos os lados... Que maravilha isso, heim!

Logo após a primeira torrada de pele resolvemos que seria prudente nos recolhermos para alguma sombra. Aproveitando tal decisão partimos direto ao primeiro restaurante que avistamos. Parecia bom, pelo menos à primeira vista. Pedimos uma porção de coisas para comer e beber, a mesa estava farta, muito colorido. Ótimo, pensamos. Então a falta de tato nos assolou por completo. Bancamos bestas sobre o alimento, de tanta fome que estávamos. Até o peixe que estava com gosto de qualquer outra coisa que não parecesse peixe estava bom. Do que ele tinha gosto? Talvez de rolha ou espuma, sei lá.

Tudo parecia ir bem até a noite que o mundo resolveu terminar em chuva. Chovia tanto que parecia que há qualquer ora iríamos nos banhar com as águas do mar dentro do apartamento. Bom, com as águas do mar talvez seja um pouco de exagero, mas com a cachoeira que despencava do forro acredito que sim. A pequena infiltração que o apartamento tinha quase se transformou em valeta de tanta pressão. Do banheiro brotava água do ralo como se fosse um chafariz. Estava até lindo de se ver se não fosse assim tão trágico.

Enfim, quase dois dias depois a chuva deu uma trégua e as águas internas pararam de jorrar. Contudo, o tal peixe do primeiro dia dava sinais de desconforto no abdômen em quem o comeu e até em quem não o comeu. Que loucura. O fantasma da diarreia assustava-nos como podia, mas somos ignorantes neste sentido, sendo assim não demos atenção a esta quizila. Continuamos assim com nossa atividade de farofeiro, levava-mos latas de cerveja, claro, de azeitona, de frango, de queijo, de espinafre, de ovo cozido e de um outro negócio que nunca vi antes, mas que apesar de ser azedo pra cacete até que era bom. O churro, o milho verde e o sorvete preferimos comprar na praia mesmo. Acreditamos que este tipo de coisa seja melhor comprar pronto.

Certo dia estávamos animados, apesar de nossos corpos dizerem que não, pois estes apresentavam algumas anomalias inexplicáveis. Porém, somos ignorantes neste sentido também, ou seja, não demos bola às anomalias. E para provar o que acabei de dizer compramos um passeio de barco no final da tarde. De bote fomos levados ao barco maior onde, abominavelmente histéricos de excitação, faríamos o passeio. Na ida tudo foi tranquilo, tudo aconteceu conforme esperávamos.

Quando chegamos numa das ilhas existentes no caminho, o piloto do barco parou para que o povo pudesse se banhar, caso alguém quisesse. Eu, esbanjando aventura pelos poros, não me contive, atirei-me lá do alto do barco até a água gelada. Água esta que parecia elétrica, pois assim que entrei nela tive a impressão de ser ligado. Tudo bem, a sensação foi boa. Boa, na verdade, não foi como adentrei no mar. Minha performance, ou seja, meu salto, estilo tábua, quase me traumatizou. Algumas dores surgiram assim que bati na água. Mas resolvi deixar estes probleminhas para depois, pois tinha emoções para viver naquela hora.

Algumas braçadas naquele mar gelado me deixaram animadão, tanto que resolvi voltar ao barco para mais um salto. E antes que resolvesse me atirar mais uma vez lá de cima percebi que havia um escorregador, então pensei na possibilidade de descer por lá para ver como era a sensação. Assim que me posicionei diante do escorregador me arremessei para baixo. Certamente devia ter me posicionado melhor naquele negócio antes de me aventurar, pois do jeito que parti caí na água, ou seja, sei lá como. O certo é que eu quase perdi meu calção na água desta vez. Pelo que puder perceber nas gargalhadas das pessoas que lá estavam a coisa foi assaz engraçada de se ver.

Porém existe aí, neste episódio, um detalhe interessante, não vi nem senti a menor graça no que aconteceu, pois, além do fato de eu quase ter perdido o calção no mar, fiquei com tremendas dores nas costas e ardências inimagináveis na pele causada pelo forte impacto do meu corpo na água, que por sinal, naquele momento parecia até que eu tinha batido minhas costas numa parede qualquer. Mas tudo bem, a brincadeira estava divertida por demais para que eu ficasse praguejando ou xingando à toa.

No entanto o tempo havia esgotado, era dado o momento de nosso retorno à praia. Entramos no barco, e assim que nos acomodamos o piloto deu a partida no motor e partimos. Talvez até tenhamos partido um pouco mais cedo que o previsto pelo fato do temporal que se armava no horizonte. Temporal este que não custou para nos apanhar no caminho de volta. A coisa toda parecia divertida no início, mas depois que as fortes rajadas de vento começaram, mais os grossos pingos de chuva o pessoal se alvoroçou e na sequência se calou. Mulheres com ou sem crianças foram convidadas a se alojarem dentro de um setor do barco. A macharada ficou no relento pegando chuva, vento e frio. Tudo bem, tem algumas coisas que servem bem para ativar o sangue do corpo. Penso apenas que não precisaria ser este tipo de coisa.

As cenas vistas foram dignas de cinema, trovões, raios, chuvas, ondas grandes, muito grandes até. Bom, só sei que a aventura serviu para houvesse uma descontração entre os passageiros, tanto aqueles que ficaram à mercê do tempo quanto aqueles que ficaram protegidos naquela micro-sala pouco iluminada e extremamente abafada. Tão abafada, aliás, que houveram alguns desmaios por parte da mulherada. Mas ao final tudo se resolveu. A chuva acalmou, o barco chegou perto da praia onda já havia o bote para nos buscar... Ufa! Que aventura... E nós, loucos de vontade de cair fora o quanto antes daquilo tudo e ir embora tomar um cafezinho feito na hora com um pão quentinho.

A tarde se foi, e nossos ânimos também. Nós já estávamos arriando nossos corpos. A vontade agora era de voltar para nosso lar, para nossa cidade. Além do quê, todos estavam, de certa forma, passando mal com todas aquelas comidas que ninguém sabe ao certo a origem daquilo nem a maneira com que foram preparadas. Barrigas e cabeças doíam naqueles últimos dias no litoral. Sinal de que tínhamos de voltar, e dar um tempo para nos esquecermos da areia grudando em tudo quanto é lugar, inclusive daqueles grãos que resolvem entrar, descaradamente, em nossos olhos ou bocas ou os dois juntos. E isto só para não citar lugares pouco ou nunca vistos pelo grande público.

Mas é isto, cansei de escrever, de pensar, de ir ao banheiro vomitar e cagar sem parar. E sabe de uma coisa? Estas últimas semanas têm sido de lascar para mim. E por esses dias, cansados de serem incomodados por mim, resolveram me levar ao pronto-socorro para tomar algumas injeções, uns três ou quatro soros, mais alguns remédios e outras coisas relativas ao ambiente médico. Tudo bem, foi necessário para minha melhora, pois a febre que me acompanhava havia danificado dois termômetros. Um deles, inclusive, chegou a estourar. Mas também não sei se foi bem a febre ou foi aquele movimento estranho que fiz durante uma de minhas idas e vindas ao sanitário. Ah! Mas isto, também, tanto faz.


Biografia:
Sou jornalista de formatura, fotógrafo na prática e escrevo sempre que me é possível, pois vejo nesta atividade uma válvula de escape do cotidiano.
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