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Causos do Comendador Baltazar
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Mario Bourges

Resumo:
Baltazar Ferro se tornou um comendador por acaso, ou, por engano. Ele recebeu uma comenda quando ele ainda era um militar, e tudo o que acontece em sua vida geralmente é desprovida de explicações. Portanto, uma explicação para isto é o que menos importa neste momento tão... nada haver.

Dia desses resolvi inovar, saí sozinho à procura de bar... Tudo bem, nem foi uma grande inovação. Aliás, nem foi inovação coisa nenhuma, pois na maioria das vezes já procuro fazer este tipo de coisa. Mas deixe-me contar assim mesmo. Após muito tempo sem dirigir meu fusquinha decidi que devia fazer isto, afinal, foi meu companheiro durante muito tempo, e sendo um companheiro acredito que devíamos sair para um passeio ou qualquer coisa que arremetesse os pensamentos para isto. Contudo, tal saída seria acompanhada pelo meu cunhado, aquele quase inglês que tornou-se uma verdadeira bomba flatulante de uns tempos para cá. Tudo bem, as rajadas que ele solta até que são divertidas... De se ouvir, claro. E que fique muito bem entendido este caso de flatos; se forem apenas barulhentos sem problemas, mas se forem cheirosos, digo, mal cheirosos... Nem pensar.

Então estávamos nós rumando ao desconhecido. Animados? Logicamente que sim, porém, sem nenhuma palavra a dizer. Poderia perder o encanto. E lá pelas tantas, após termos perdido algumas ruas que deveríamos entrar, alguns caminhos que deveríamos seguir e algumas noções que deveríamos manter, chegamos a um lugar com aparência agradável. Havia muita gente no local, alguns rostos alegres, outros bobos, outros tantos tipo paisagem enquanto ouviam a eloqüência de um contador de lorotas em seu desempenho ridículo para expressar um fato acontecido, ou não, e, para finalizar, uns poucos estampando em suas caras modorrentas a expressão de indiferença, tanto pelo papo alheio que ouviam, tanto da bebida insossa que pediam para bebericar, quanto de suas próprias faces embotadas e desbotadas.

No local tinha quase de tudo para um homem se sentir feliz, ou pelo menos em paz consigo mesmo. Tinha gente disposta a falar e a ouvir besteiras, curtir boas bebidas e boas músicas também, algumas das poucas mulheres que dispunham lá, porém, estas poucas mulheres estavam acompanhadas. Então, isto queria dizer que não existiam mulheres disponíveis. Mas isto também tanto fazia para mim. Nada ia fazer além de apenas olhar para aqueles pares de peitos empinados e firmes, para aqueles lábios carnudos e para aquelas bundas que acenavam para todos os outros enquanto vagavam pelo ambiente... Ar puro... Se tinha ar puro? Ora essa! Claro que não, era uma charutaria. Aquilo parecia uma sauna de tão enfumaçado que estava. Mas tudo bem, havia um clima de divertimento naquele ar viciado, ainda que tivesse de ouvir conversas do tipo: compras e vendas de ações, peças compradas ou vendidas em leilões, resultados de cálculos exuberantes em Física Quântica, ou em Matemática Financeira, sei lá. Que entendo eu de cálculos, oras! Bom, então tinha também, Filosofia, Fotografia, Cinegrafia, Subliminaridade, Cromoterapia, Psicoterapia, Geologia, Hemorragia e, para encerrar, sobre os vários efeitos que uma bebedeira de classe pode proporcionar.

Lá pelas tantas estava eu ao lado de um sujeito que discutia com um argentino sobre futebol, claro, sempre é sobre futebol. Enfim, o tal sujeito, entre uma troca de ofensas e outra, pediu, para lhe dar mais forças nas inflamadas e inúteis discussões futebolísticas, uma caneca com caldo de feijão. Até por que este era o alimento que costumava consumir antes de iniciar suas noites etílicas, segundo o que diziam os demais habitués. Mas até aí tudo bem, não dou a mínima para discussões, quanto menos para argentinos. Na verdade o que realmente me chamou a atenção foi a vermelhidão de suas mãos; eram incrivelmente vermelhas. E entre uma gozação com a cara do argentino e o time que o gringo torcia, os vários tipos de temperos existentes no balcão corriam de um lado para outro em suaves deslizadas até caírem em quantidades incontáveis dentro da caneca do caldo. Tudo para deixar aquilo bem mais gostoso de tomar, segundo o que o tipo das mãos incrivelmente vermelhas me segredou. Enquanto isto o argentino, notadamente tenso, não parava de roer as unhas. E roeu tanto que não demorou muito tempo para roer aos próprios dedos, tamanha preocupação com o time. Que, no meu ponto de vista, tanto fazia saber disto também.

Contudo, era dado o momento de minha volta ao lar. Talvez a Olga já estivesse procurando saber de mim... Ou do meu cunhado, sei lá. Era uma pena ter de sair daquele jeito, afinal de contas estávamos nos divertindo. Cada qual à sua maneira, é claro. Mas como disse, tínhamos que voltar. Mesmo por que o trajeto que usei para ir à charutaria não seria o mesmo a utilizar para a volta, e como nem me lembro como foi que cheguei naquele recinto, dificilmente acertaria de primeira qual o trajeto deveria usar para nosso regresso ao lar.

E como já previa, a volta foi difícil, e consecutivamente, demorada. Em alguns momentos chegamos a pensar que nunca mais veríamos a civilização, pois vagamos quilômetros no meio de algumas plantações de sei lá o quê. O relógio mostrava sua mais nefasta, seus ponteiros corriam mais rápido que meu fusca e muito mais rápido que os peidos do meu cunhado podem percorrer pelos narizes alheios em lugares onde não tem circulação de ar. Sabe, de tanto me incomodar com relógios deixei de usar este tipo de coisa. Que são bonitos, não tenha dúvida de que têm alguns que são, mas que incomodam, incomodam. Mesmo por que, nem preciso de relógios, não tenho mais horário para nada mesmo.

Mas continuando; com o carro enfiado num matagal, nada tinha a fazer senão esperar. Logicamente que pus meu cunhado pra fora, não estava com vontade de sentir os aromas de baixo calão que os peidos dele costumam produzir. Logo após de ter visto o dia amanhecer resolvemos dar uma volta para tentar descobrir onde estávamos. Um tempo depois nos, amos com os pés encharcados por termos pesado num banhado e depois em montes de bosta de vaca, ou cavalo, resolvemos voltar para o carro. Talvez eu tivesse lembrado como voltar para casa. Vocês devem estar pensando que eu, naturalmente, pudesse estar pelo menos roxo de raiva, encolerizado até, mas não. Ria de quando em quando por conta de meu cunhado, ainda que constantemente seja uma pessoa provocativa e irônica, contava anedotas engraçadas o tempo todo, pelo menos entre um peido e outro.

E ao chegarmos no carro tivemos uma grande, surpreendente, pesada e assustadora surpresa; uma não, duas. As mesmas vacas que largaram suas bostas pelos caminhos onde caminhamos e pisamos, pelo menos é o pensamento que me vinha à cabeça no momento, estavam debruçadas sobre o carro; uma coçando seus enormes úberes na antena do veículo, e a outra ruminando tranquilamente o espelho retrovisor do carro. Sem dúvida alguma esta foi uma cena escatológica, poderia dizer até que foi uma cena dantesca de se ver. Que foi que fiz? O que deveria ter feito, oras. Meti um chute na bunda da vaca que comia o espelho. Da outra vaca quem cuidou foi meu cunhado, porém, não do jeito que eu esperava. Ele pegou a tampa de alguma coisa que tinha no caro e encheu com leite. Depois aproveitou que o motor do fusca ainda estava quente, tirou um pouco de água do radiador e fez um chá. Após esta outra cena dantesca misturou o chá com leite apanhado e tomou tudo. E quando as coisas se mostravam bizarras demais para mim ele entrou no carro e disse para irmos embora o quanto antes. O tal chá estava fazendo um efeito não esperado... Tudo bem, já imaginava que uma coisa destas pudesse acontecer.

Com o passar de mais algumas horas à procura do caminho de volta meu cunhado resolveu expelir tudo aquilo que o incomodava; vomitou um tanto pra fora enquanto seguíamos viagem, e, para completar, deu uma bela cagada, azeda e horrenda, por sinal. E dentro do carro, claro. Tudo para completar o quadro das situações inusitadas. Se bem que, de certa forma, já esperava que as coisas terminassem assim. Logicamente que não nestas proporções, mas... Enfim. Um tanto mais de tempo se passou e finalmente conseguimos chegar, e nem quis saber de muito papo. Larguei o pobre fusca num lava à jato e fomos bamboleando de cansaço até meu apartamento. Entrando tive de usar de todas as artimanhas que conheço para não dar explicações... Pelo menos naquele dia. Meu cunhado se trancou no sanitário para demonstrar o quão experiente se tornou na arte de fazer nojeiras. Quanto a mim, restou a companhia do cachorro na área de serviço. Do jeito em que me encontrava não deixaram que eu fosse para o quarto, muito menos para a cama... Tudo bem, de certa forma já esperava isto também.


Biografia:
Sou jornalista de formatura, fotógrafo na prática e escrevo sempre que me é possível, pois vejo nesta atividade uma válvula de escape do cotidiano.
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