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Atraso Lamentável
Da série: Ao Correr dos Caracteres
Mario Bourges

Naquela manhã de sábado Amália se levantou disposta, mesmo ido dormir muito tarde, ou melhor, muito cedo, pois era por volta das quatro horas da madrugada quando se deitou. Sua noitada fora das boas. Saiu com umas amigas e se encontrou com mais um tanto delas pelos bares que entrou. Por conta disto conheceu alguns rapazes realmente interessantes. Enfim, a noite foi boa. De repente seu telefone celular tocou, e nele recebeu uma notícia que a chocou profundamente.

De súbito pulou da cadeira que estava sentada, vestiu-se às pressas sem se importar muito com os detalhes de sua vestimenta como, por exemplo, fazer o laço da faixa que adornava o colarinho de sua camisa de seda. Fechou o zíper da saia rapidamente, mas com cuidado para não o estragar. Em seguida calçou os sapatos e deu um beijo no rapaz que ainda estava deitado, e que também, nem fazia idéia do seu nome. Então saiu da casa dele e foi embora.

Apressou-se, pois não queria perder o ônibus que estava para passar. Mas durante o trajeto pôde observar que a manhã, especialmente aquela manhã, apresentava-se de maneira única. O belo azul de fundo, a visão da serra do mar ao longe e as poucas nuvens muito brancas que passeavam tranquilamente sob a influência do vento moderado e fresco que soprava. Tal vento fez com que seus cabelos castanhos bailassem de um lado para outro sem qualquer preocupação. O mesmo aconteceu com sua delicada camisa, e da faixa que dela fazia parte, e que ainda se encontrava sem o laço feito.

Contudo, algo quebrou esta hipnótica e contagiante cena. Dois meninos que haviam chegado no ponto de ônibus após dela estavam visivelmente perturbados com o que viam; a harmonia em que Amália se encontrava, por causa do vento e tudo mais, fez com que seu corpo sentisse um grande e ligeiro momento de prazer. Este prazer se aflorou sob a forma de enrijecimento nos mamilos deliciosamente rosados.

Os meninos, admiradores convictos de cenas como esta, logicamente que petrificaram-se ao admirar esta beleza esculpida pela força eólica, beleza esta ligeiramente camuflada sob a seda esvoaçante, descompassada, frenética. Após voltar à realidade a jovem percebeu que suas mamas viraram alvo de grande atenção de uma pequena, porém bastante interessada platéia.

Todavia, Amália percebeu, também, que seus sutiãs novos já não mais faziam parte de sua indumentária, ou seja, havia esquecido na casa do sujeito que passara a noite. Pensou em voltar até a casa dele, mas o ônibus já despontava no final da curva, um pouco adiante de onde estavam. Assim sendo encarou tal situação de cabeça erguida e seios, lindamente e provocantemente erguidos. Por sorte, dela, percebeu que havia um acento vago assim que entrou no lotação. E não perdeu tempo, correu até ele após passar a catraca.

Durante o trajeto até o lugar onde deveria ir abateu-se, e ficou abatida por lembrar da notícia que recebera logo cedo pelo telefone. Sua tia Izolda realmente era boa em dar más notícias. No entanto, procurou distrair sua mente com outra coisa. Então aproveitou aquele tempo perdido, que é ficar dentro de um ônibus, para fazer alguma coisa de útil como, por exemplo, fazer o laço da faixa que adornava o colarinho de sua camisa de seda. Finalmente. E também, para pensar em outras coisas, nada de grande importância, mas coisas ajudaram aliviar a pressão que o ócio causa sobre as cabeças das pessoas.

É certo que a distância entre um ponto e outro que ela deveria percorrer não era muito distante, mas a tática de devanear para passar o tempo resolveu, pois logo surgiria o local de seu desembarque. Mesmo após ela descer do ônibus os olhares frenéticos dos meninos a perseguiram pela rua até que Amália saísse de alcances visuais. Contudo, suas vidas infantis tiveram um incremento. E este incremento talvez os acompanhasse pela adolescência, talvez também servisse de inspiração na fase adulta e, quem sabe, até servisse de motivo para suas amigáveis conversas em uma possível idade senil.

O caminho a percorrer pela jovem era de alguns quarteirões apenas, contudo, suas lembranças do endereço exato eram vagos, incertos. Mas não se deteve, seguiu firme pela rua. Depois de caminhar dois quarteirões ela percebeu que havia uma casa cheia de carros estacionados em uma das ruas transversais a qual descia. Sem pestanejar foi até lá para conferir. E vendo o portão aberto adentrou de maneira convicta na casa.

Sem muita demora também foi recebida por um casal que estava sentado num dos sofás que existiam por lá. E rapidamente já se encontrava com uma latinha de cerveja em suas mãos. Não entendeu muito bem, mas a coisa fluiu tão naturalmente que logo estaria cercada de alguns outros jovens que lá estavam. Todos com suas devidas latinhas de cerveja e todos com seus olhos alcoolizados mirando para sua linda camisa de seda, ou melhor, para o que procurava se esconder dentro dela.

Depois de uns minutos, sei lá quantos, bebendo e conversando e servindo de alvo para olhares especulativos e embriagados, lembrou que até aquele momento não havia encontrado nenhum de seus familiares, o que a deixou levemente preocupada. Por algum motivo não explicado, a preocupação deu lugar à excitação, e os marmanjos e até uma outra jovem, que da rodinha participava, aproveitaram a ocasião para darem suas apalpadelas naqueles mamilos róseos e novamente enrijecidos.

As sensações afloravam, e entre risos e risinhos todos queriam alguma coisa com Amália... Desatar o laço da delicada camisa de seda era uma delas. Mãos, tanto masculinas quanto femininas, deslizavam provocantemente por seu corpo esguio e bonito. Então, um bloco compacto de machos e uma fêmea arrastava Amália para um quarto, e ela, entregou-se à experiência. De repente, tia Izolda, novamente ao telefone requisitava sua presença, e com urgência. A moça, quase sem roupas, recobrou a consciência. E como num passe de mágica se arrumou como dantes, incluindo aí o laço, e correu para as ruas. A rapaziada sentiu-se frustrada no início, mas também não perderam a viagem. Aproveitaram-se todos da outra jovem que lá no quarto estava.

Enquanto isso, corridas vertiginosas foram empreendidas pelas ruas a fim de encontrar a casa onde todos os seus estavam. Uns minutos mais e pronto, seu objetivo original se aproximava. No entanto, como ela demorou tanto para chegar à casa que ninguém mais estava no endereço, ou melhor, a empregada da tia Izolda estava, ninguém mais. E o recado bombástico deixado pela tia, tios e outros mais era: "Você demorou tanto para vir que a funerária não pôde esperar mais. Se quiser ver sua mãe, de agora em diante, vá até o cemitério. Beijos de sua tia Izolda".

                                                            
                                                                                                     MB 23/10/2008


Biografia:
Sou jornalista de formatura, fotógrafo na prática e escrevo sempre que me é possível, pois vejo nesta atividade uma válvula de escape do cotidiano.
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