Há um mês que estou na praia do Laranjal(para quem não sabe, é na Laguna dos Patos- maior lagoa do mundo.)Os filhos gostam pelo espaço maior, pelo que desfrutam aqui, embora continuem trabalhando. É como se estivessem fazendo um pré descanso, um ensaio de férias, talvez porque sintam a sensação de relaxamento, descontração que a casa de praia proporciona. Percebe-se que é um descanso muito pessoal, subjetivo, pelo alargamento do horizonte para além da janela de um apartamento, onde, muitas vezes o que se vê é apenas o rosto do vizinho (nada contra ele), ao contrário daqui, onde sempre ocorre uma surpresa.
Meus hóspedes deste ano são um cão boxer, de uma docilidade peculiar à sua raça, apesar do tamanho e da aparência de brabo e vários tipos de pássaros (pardal, canário, cardeal, pomba, azulão, bentevi, tico-tico) que reclamam quando passa a hora de colocar o arroz ou alpiste junto ao tronco da árvore na frente da casa, na qual se divertem na hora da refeição. Aparecem varias vezes durante o dia, ou ficam no fio que passa ou na figueira do outro lado da rua.
Próximo do Natal apareceu o cão boxer que mencionei a quem chamamos carinhosa e zombeteiramente de Zói, forma abreviada de “zoiudo” ou “zoião” conforme meu genro (cujo bom humor é constante e notório), de imediato, o chamou, porque sua magreza era algo fora do comum, destacando-se, apenas, os imensos olhos pedintes de alimento, atenção e carinho. Lógico que ele foi adotado de imediato, embora o aspecto deplorável que mostrava todos os ossos, dando-nos a impressão que não conseguiria nem andar, pelo estado de desnutrição e abandono, típicos de um cão que não sabia viver na rua e lutar por alimento. Ganhou banho, visita ao veterinário (que diagnosticou infecção) xarope, xampu, cama na churrasqueira no fundo da casa, muita comida e atenção, para desespero e ciúme de nosso poodle que passa voando entre suas pernas, pula para tentar abocanhá-lo quando ele ousa chegar à porta para entrar. Somente dois dias atrás ouvimos seu latido, porque até esta ocasião não parecia nem saber faze-lo. Mostrou,ao contrário, que já foi acostumado a andar de carro, porque basta abrir a porta quando vamos sair que ele já se prepara para entrar junto, sendo difícil retira-lo de dentro, onde, aliás, se acomoda muito faceiro e anda tranqüilo.
Assim passamos os dias, entre crianças, cães e pássaros que já tiveram a ousadia de entrar pela porta dos fundos e saíram pela da frente, confusos com o ambiente no qual adentraram.
Quando aqui estou, saio menos, sinto-me mais presa, até porque muitas atividades das quais participo estão de férias e estas amenidades dão um toque especial no cotidiano que pode até parecer sem graça para uns, ou alegre, tranqüilo, dependendo do olhar, do sentimento e/ou da necessidade momentânea de cada um.
|