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Camilla pergunta: Segundona ou Segundinha?
Lasana Lukata

jovem torcedora do Fluminense escreve, perguntando se é Segundona ou Segundinha? Dizendo não ter entendido bem na crônica anterior a minha história de Segundona e Segundinha. Sentiu-se ofendida.

Para boa entendedora meia história basta, mas em se tratando de uma jovem moribunda, digo, oriunda da aprovação automática, passo a repetir o assunto, colocando-o em destaque.
Primeiro não quis ofender o Fluminense, já torci por esse time quando era pequeno, mas, ainda que remota, havia a possibilidade de rebaixamento, agora não mais !

Mas Domingo trasado, 23/11, me chamou a atenção o jornal O Dia Baixada, a matéria esportiva dizendo, “Caxias rumo à Segundona”, em relação ao time do Duque de Caxias e na segunda-feira trasada, 24/11, o jornal Expresso trazendo em sua capa “... Alô, Alô Segundona”, em relação ao Vasco e o Jornal do Brasil nesse domingo, 30/11, trouxe em sua manchete: “Vasco diante do maior pesadelo. Time pode ir hoje para a Segundona”.

No futebol há outras divisões, mas as mais faladas são 3ª, 2ª e 1ª. Em ordem crescente. Fala-se então na gíria esportiva em Primeirona, Segundona...

A meu ver, assistiu razão ao jornalista do Jornal O Dia Baixada quando disse: “Caxias rumo à Segundona”, mas não assistiu razão aos dos jornais Expresso e Brasil quando disseram, “Alô, Alô Segundona” ou “Time pode ir hoje para a Segundona”, em relação ao Vasco.

Eis uma questão de ponto de vista: dois são os graus do substantivo, aumentativo e diminutivo. O aumentativo e diminutivo podem ser analíticos e sintéticos. O aumentativo sintético “Segundona” formou-se com o auxílio do sufixo ONA como em mulherona. O seu diminutivo sintético correspondente seria “Segundinha”, sufixo INHA como em filhinha.

Para o time do Duque de Caxias-RJ, Campinense-PB e Guarani-SP que estavam na Terceira Divisão, de fato, rumavam para a Segundona, estavam ascendendo, subindo, mas para o Vasco, Ipatinga, Portuguesa, Atlético-PR com risco de rebaixamento, cair da 1ª para a 2ª Divisão é “Segundinha”. Poderia seria ser que os jornalistas do Expresso e Brasil estivessem sendo irônicos, mas seria uma ironia limitada, pobre, a ironia retórica, romana. Essa história de dizer o contrário do que se está pensando. Há pessoas que pensam ser a ironia apenas isso. Não é.
Mas veja Camilla que a mesma Segunda Divisão (ou Segundona) pode ser ao mesmo tempo alegria para uns e tristeza para outros. Pode ser Segundona e Segundinha. Boa e má. Para quem sai da 3ª é alegria, para quem vem da 1ª, tristeza.

Por exemplo, do ponto de vista do Duque de Caxias é Segundona; do ponto de vista do Vasco é Segundinha. E para quem não gosta de futebol será sempre “Segundinha”; para certas igrejas depende da oferta: se a oferta for boa é “Segundona”, se for pequena é “Segundinha” e ainda vão orar, amaldiçoando para o time cair para a Terceirinha.

Camilla, minha filha, espero dessa crônica em diante você possa perceber os pontos de vista. A vida está cheia. Para reforçar conto esse fato ocorrido na Marinha do Brasil pelos anos 80:
Dois marinheiros, um catarinense, serviam na 1ª Divisão. Um foi agraciado pelo 1º tenente encarregado da Divisão com um posto superior de Cabo e o dinheiro dos atrasados deu para comprar a casa própria; o marinheiro catarinense - só porque tinha o rosto cheio de bexigas, em virtude da varíola, foi perseguido e mandando embora “a bem da disciplina”. O 1º tenente dizia que dava nervoso olhar para ele; que o marinheiro era muito feio, mas era um ótimo soldado, tratava a todos com urbanidade, não tinha como mandá-lo embora. E veio o plano subterrâneo. O mesmo tenente que deu a casa a um, arquitetou este plano: ordenou ao 2º tenente que perseguisse o catarinense até que ele se irritasse. Camilla, O 1º tenente queria provar que o marinheiro catarinense tinha varíola no coração. Que era um rebelde para ter motivos de o expulsar da Marinha. O 2º tenente foi perfeito. Tanta foi a perseguição, por coisas nem acontecidas, que o manso catarinense, sem entender a armadilha, e se o avisássemos iríamos juntos com ele para a rua, agiu conforme o esperado. Agrediu o 2º tenente. Varíola no coração! Não pode ficar na Marinha.

Veja Camilla, para o marinheiro que comprou a casa, o 1º tenente foi muito bom, um anjo, mas para o marinheiro catarinense esse mesmo 1º tenente foi o diabo.   
Deixo aqui o meu abraço de primeirona, desejando mesa de Natal de primeirona para você e todos os tricolores em festa. Afinal, fui tricolor de coração.


Biografia:
Lasana Lukata é poeta, escritor por usucapião, São João do Meriti, RJ.
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