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LONGA NOITE
ARCIONE JOSÉ DE ÁZARA

LONGA NOITE
                         
Noite longa, noite fria,
vida errante,
vida oblonga, vida vazia,
vagando em castigo,
correndo perigo,
peito cheio de um imenso vazio,
amor morto afogado no rio,
rio de lágrima,
de uma lágrima seca,
secou na dor,
na dor da agonia,
morreu sem perdão,
sem alegoria,
sem ter direito
a qualquer alegria.

Noite longa,
mais uma,
acordado em vigília,
vigília de dor,
dor de amor,
amor de dor,
morde a alma,
morde o peito,
a pele lancina,
marca uma cruz,
cruz de castigo,
perdeu a menina,
pra vida, pro tempo,
para si mesmo,
pro tempo passado,
pro tempo futuro,
deixou-a em perigo,
só via um muro,
muro alto,
muito alto e escuro,
muro espesso,
muito forte e duro;
muro que cerca a visão,
muro que impede o coração
de sair, de voar, de amar,
de ser livre,
de matar a razão.
Razão que arrasa,
razão que atrasa,
razão que engana,
razão que é tirana,
razão que engole,
razão que calcina,
razão que mata o amor
ao deixar ir a menina,
tão jovem menina,
tão cheia de vida,
tão cheia de sonhos,
não merece castigo,
não merece a sina
de viver tão perto desse perigo.

Noite tão longa,
noite de agonia,
não é a primeira,
é todo dia,
desde antes do dia
que deixou a menina chorar
sair e voar,
cair, se despedaçar e chorar,
se recuperar e amar.
Não foi só por querer,
foi pra tentar proteger,
foi por renúncia amar.
Mas na calada da noite,
noite longa e insone,
noite inimiga,
noite traiçoeira,
noite de fadiga,
noite fria e vazia,
mais uma noite perdida,
não há salvação,
o que foi não volta,
nem o amor, nem o tempo,
nem o verdadeiro perdão.

Noite fria, cabeça quente,
cabeça de gente,
cabeça humana,
mas que não é sacana,
cabeça que erra,
que se enfia na terra,
que vive numa guerra,
guerra particular,
guerra de vida.
- O que é o amor?
- O que é amar?
- Amar é renúncia?
- Então sei o que é.
- Amar é competência?
     - Nessa vida não aprendi.
- Amar o que é?
- O que é o amor?
O que é eu não sei.
Só sei que amei,
só sei que deixei
ela ir embora,
outras praias andar,
outros mares mergulhar,
outros corações preencher,
ficou um vazio,
vazio dela,
um frio vazio,
tão arredio, tão cheio de dor.

Noite longa e agonia.
Que parceria!
Qual o remédio, se o remédio faz parte,
parte do problema,
parte do poema,
parte do dilema,
dilema do coração?

Quem ama mais é quem dá alegria
ou é quem renuncia,
pelo bem do amor,
pela proteção da menina,
tão frágil qual flor,
tão imberbe no amor,
tão desconhecida da dor,
da dor de amor?

Não é dor de novela,
é dor de olhar na janela
e da janela nada ver.
Não ver futuro,
não ver esperança,
não ver uma criança,
não ver o próprio coração,
não ver crença,
só ver doença,
só ver que o tempo é inimigo
e não dá seu abrigo.

O tempo dela é tão diferente,
qual petróleo e água,
uma dá a vida, dá energia,
abastece o corpo, fortalece a alma,
sem ela nada existiria,
nem eu, nem você
nem José, nem Maria,
o outro só dá energia.

Noite longa, noite fria,
vida errante,
vida vazia,
vida sem vida, vida farsante,
finge que é vida,
me engana que é vida,
me engana, me engana,
eu quero ser enganado,
pra poder um pouco dormir,
e adormecer a agonia,
a minha agonia,
tão minha, tão dilacerante,
tão presente na noite,
tão presente na cama,
cama sem dama,
cama vazia,
cama fria,
cama sem alegria,
cama tardia,
cama só de dormir (ou tentar),
cama de agonia,
cama de melancolia,
cama vazia de amor,
sem calor,
sem sabor,
sem valor,
vida sem cor.

Me deixa dormir, noite longa.
Me libera dessa tortura,
voltarás amanhã eu bem sei.
Chega por hoje, alivia,
se você continuar e me matar
a quem mais vai perturbar?
Seja inteligente, presta atenção no que digo:
eu já estou dominado,
eu já renunciei ao amor, e dói tanto,
por bem dela,
pra você não represento perigo.
Pra que tão grande castigo?
Me deixa buscar um pouco de abrigo,
deixa só eu e a minha doença,
e a minha falta de vida,
e a minha falta de crença,
o resto a agonia já me tomou
e a esperança a vida levou.
Pra que me destruir agora,
volta outra hora,
não sou grande troféu,
tenho gosto de fel,
outro dia te peço perdão,
agora não,
estou muito cansado,
da vida, da melancolia,
de tantas noites tão longas
em agonia.

Meu remédio é escrever
o que se passa no coração,
na minha frente tem papel
e uma caneta na mão.

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