8 de Março. Tantas homenagens. Trabalho, imprensa, colegas, empresas, entidades. Oportunidade de refletir, de discutir, de reconhecer. De olhar prá trás e ver o caminho percorrido. De olhar prá frente e sentir o tamanho da jornada. De olhar pro lado e ver o presente estampado no rosto alheio e no espelho.
Sim, é você Mulher! Você chegou até aqui e vai prosseguir. Não porque foi homenageada ontem, recebeu flores, elogios, festa, reconhecimento. Fez e faz bem a alma feminina, ao lado feminino da alma masculina, a todas as almas. Festejar sempre faz bem. Você vai prosseguir porque sua jornada a caminho do topo é irreversível. Você assim decidiu. E estar no topo não é ser superior a quem quer que seja. Não é repetir o mesmo erro histórico da humanidade.
Sim, muitas já estão lá, incontáveis, aqui, ali, ao longe, ontem e hoje. Mas muitas não estão. Muitas não chegarão lá nesta vida. Mas nenhuma deixará de lutar contra a opressão, de todo tipo. Ser mulher é sinônimo de lutar, de buscar, de sonhar, de ser solidária, de se inquietar, de proteger os fracos, de não se conformar. Ser mulher é exercer vários papéis, todos os papéis, com propriedade, individualidade e competência.
Há vários momentos históricos hoje em cada lugar deste mundo. Mulheres poderosas, politicamente, empresarialmente. Mulheres oprimidas, sem o mais básico direito, o direito à própria vida. Todas inconformadas, lutadoras. As oprimidas, com sua história individual, sua luta no seu pequeno mundo e na sua sociedade. As poderosas, com as injustiças mais sutis, mais disfarçadas, e com a opressão sobre quem, às vezes, nem tem voz ou ouvidos para ouvi-las.
Não se conformarão jamais. Jamais voltarão prá dentro da redoma. Elas não querem ser preservadas da luta da vida, só querem poder decidir o que é melhor prá elas, prá sua família, seu presente, seu futuro, sua cidade, seu país e seu mundo. Com o mesmo direito de errar e de acertar, de refazer o que não ficou bom, de repetir o que deu certo. Poder exercer o dom da escolha e do erro. Da liberdade do erro. Da liberdade de escolher, pois capacidade sempre tiveram.
Isso não se faz num 8 de Março. De justas homenagens, mas que é só um momento, uma figura, um símbolo, uma pequena pausa. Pausa na jornada dura do dia a dia. Nessa é que se constrói a liberdade efetiva, a independência, o direito de escolha. É no 8 de Março de cada dia que a mulher constrói o seu presente e seu futuro. É em cada ação, cada decisão, cada pensamento, cada olhar, que a desigualdade é combatida.
E como todo animal selvagem, ela, a desigualdade, reage. Impõe pequenas derrotas, individuais ou coletivas. Reage como pode para não ser domada. Usa de todos os recursos, aumenta a força, muda de forma, disfarça, se alimenta, finge-se de derrotada, trapaceia, ilude. Também não esmorece jamais. É uma forte adversária. Mas sabe que está derrotada. É astuta, mas é perdedora. Mas a Mulher é mais tenaz, já está vencendo e vencerá. Está escrito. As mulheres escreveram na pedra eterna. Nem o tempo apagará. O tempo é aliado, não inimigo.
Não aprecio este Dia Internacional da Mulher, mas respeito. Quem sou eu prá julgar? Não sou dono da razão nem o inventor da roda no assunto. A conquista do direito de escolher é uma longa jornada, um processo, não um lugar, uma data. Quem criou isso devia ter seus justos motivos, suas honradas homenagens. Vale como um símbolo e uma pausa. Mas, provavelmente, hoje você acordou, a rosa já estava um pouco murcha, o cartão na gaveta ou no lixo ou a caminho, o telefone não tocou uma mensagem, as empresas já esqueceram, as homenagens ficaram no passado. E você olha prá frente, pro lado, prá baixo e prá cima. Nada vê de diferente. Então você se olha no espelho. E vê, nitidamente, o melhor instrumento e o melhor processo de combater a desigualdade: você mesma. E suas melhores armas: capacidade de aprender, de se indignar, de lutar, de sonhar, de ser solidária, se inquietar, de proteger os fracos, de amar, de não se conformar. E seu dom da vida. Você não precisa de mais nada nem de ninguém. A sua própria história você escreverá. Hoje, em todos os dias, em todos os gestos, em todas as palavras. Você sabe.
Na pessoa de minha mãe, Dona Otília, 72 anos, nascida na roça, pobre e que trabalha todos os dias desde os 8 anos de idade, quero homenagear suas lutas e vitórias do dia a dia, mulheres, e compartilhar com todas vocês. Poderia ser num dia qualquer, mas foi em 9 de Março de 2005, logo após um Dia Internacional da Mulher. E como entre os infinitos dons e habilidades de minha mãe está o da leitura da alma, mas não o da leitura deste texto, suas netas, Polyana e Luana, estão encarregadas de levar a ela a mensagem destas palavras. E transmitir o meu enorme carinho, o meu orgulho de ser filho dela e o meu agradecimento. A ela! E a todas vocês.
Obrigado. Hoje, ontem e sempre.
Goiânia-09/03/2005
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