Parecia mais um final de tarde como outros naquele lugar. Crianças andavam na praça vindas das escolas, árvores balançavam suas folhas secas, uma dona de casa levava compras para o preparo do jantar da família, homens conversavam alegremente na venda de José Paulo.
A temperatura do ar estava seca, acusando chuvas de verão. Alguns acreditavam que até o final da semana iria chover no Junco, afinal havia anos que São Pedro não direcionava a torneira para o lugar.
Nuvens negras encobriram a cidade de repente. Raios iluminaram os céus, ventos sopraram fortes e trovões ecoaram ao longe. Uma chuva torrencial caiu sobre o Junco. Pessoas procuravam abrigo, crianças corriam em busca de proteção, cães ladravam uivos melancólicos. Foram pouco mais de duas horas de chuvas fortes, tempo suficiente para uma viagem do Junco a Alagoinhas ou de um vôo de Salvador a São Paulo.
As águas eram muitas e o pequeno Aloísio procurava consolo no colo do seu avô José. Era o final de mais uma jornada de trabalho e o menino sempre ia visitar o avô quando ele retornava da labuta. Seu José gostava de cheirar rapé e ficavam ali brincando os dois, avô e neto, horas a fio. Depois o avô cantava com sua voz suave em meio tom de voz e aquela harmonia o fazia adormecer pendurado ao pescoço dele, segurando a sua orelha e mordendo levemente o polegar. E ele o levava para a cama, para os sonhos de criança.
Naquela tarde o menino não conseguiu adormecer, encantado com a trovoada, novidade para ele e para todos os da sua idade, vez que há anos não chovia no Junco. Ao cessar das chuvas, dos raios e trovões, Seu José chamou o neto e foram ver as aguadas. Havia comentários que a ponte sobre o córrego na entrada da cidade havia desabado. Foram para lá, tudo era novidade para Aloísio. Árvores caídas, casas velhas mostravam as rachaduras, meninos brincavam de catar tanajuras, galinhas ciscavam nos terreiros.
Muitos iam em direção da ponte que não resistiu ao peso da enxurrada tendo a sua velha estrutura de concreto armado desmoronado. As águas do riacho haviam se unido às do Tanque Velho e formavam um imenso lago de cor barrenta. Uma beleza de se ver para os moradores daquele lugar.
Baratão, o velho pescador, dava corajosos mergulhos, encantando o menino que a tudo assistia. Teria o que narrar na redação que iria fazer na sala de aula no dia seguinte.
E o vento levou para bem longe as nuvens, a chuva cessou, um forte cheiro de terra molhada ia possuindo toda a cidade e o sol voltou a reinar sob um céu agora límpido, dando um brilho todo especial àquele final de tarde junquense.
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