E foi pela Ladeira Grande que em um movimentado início de noite de sábado da festa da Padroeira Nossa Senhora do Amparo – a mãe de Deus –, que surgiu um homem trazendo debaixo do braço uma arca de sonhos e novidades. O homem vinha de longe, lá das bandas de Vitória da Conquista, e armou a sua tenda na praça, bem em frente à Igreja. O homem sabia das coisas. Sabia, por exemplo, que quando terminasse a missa todo o povo de Deus teria que passar em frente ao seu bazar do novo tempo.
O homem trazia em sua mala uma máquina fotográfica. Não, não era um retratista como o velho Apolônio que atendia às segundas-feiras, o dia da feira no Junco, na alfaiataria do seu Nanu. O homem do novo tempo possuía uma tenda fotográfica, posto que ao fundo da barraca fosse estendido um pano onde se viam imagens de lugares distantes e encantados: Pão de Açúcar no Rio de Janeiro, Museu do Ipiranga em São Paulo, Cataratas do Iguaçu no Paraná, Cidades Históricas de Minas Gerais, a Catedral de Brasília e a Igreja do Senhor do Bonfim em Salvador, onde Aloísio tinha sido levado por seu pai para pagar uma promessa.
O homem tinha o poder da ilusão, sabia como conquistar clientes e a cada imagem mostrada ele dizia:
- Você pode até mostrar esta fotografia aos seus amigos dizendo que esteve lá. Quem irá dizer ser mentira posto que a prova seja documental?
A cada novo cliente que posava para o seu iluminado flash, nova imagem era exibida. Imagens que ficaram guardadas com nitidez nas lembranças fotográficas de todos os junquenses que estavam na festa em honra a Nossa Senhora do Amparo naquela noite de sábado. Na manhã seguinte, tão logo os primeiros raios de sol esquentavam o Junco o homem partiu na marinete de Seu Alfredo, partiu para encantar outros moradores de outras cidades em seu caminhar levando na bagagem a sua arca de sonhos e novidades.
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