Terna saudade do tempo em que me habitava um som de paz
que quando a lua elevava-se igualava-se às vozes de mil anjos,
e a minha criança interior adormecia ao som de cantilenas,
e eu aprendia palavras que apenas se pode dizer em prece.
Magoa-me a saudade, pois naquele tempo eu tinha minha mãe
e na voz aveludada dela, os sussurros de Deus em meus ouvidos;
a primeira oração - versos divinos de minha vida - foi ela quem deu.
E agora não há dela senão uma inefável e velada lembrança,
como a rosa invisível pintada na parede da casa da chuva,
que eternamente em pétalas e espinhos fere minha ternura.
Guardo-as, rosa mãe e rosa flor, no pedaço do céu de dentro
do bolsinho daquele vestido de menina.
Oh, eu nunca mais o tirei,
esperando o meu primeiro infinito chegar propondo um acordo íntimo:
beijar cá dentro, meus desejos de descansos,
e ficar em mim até o fim.
Sim, sim, lindas, minhas lindas,
pra fazer valer ter memória,
eu quero aprender ver no invisível
e até no infinito ver
o amor assaltar minha alma,
ocupar o que ainda vou ser.
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