Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Perdendo o trem das onze junto com a glória boêmia
Pedro Alexandre

Trabalhar na noite como garçom me proporciona uma experiência de vida única, cheia de detalhes enriquecedores, ou nem tanto assim, sobre a vida, sobre relacionamentos, sobre sociedade, sobre comportamentos...
Vejo homens e mulheres, jovens de espírito e velhos de caráter, em suas mais diversas faces. Como comumente falamos, a pessoa que entra nem sempre é a mesma que sai, podemos ver duas ou até mais pessoas em uma única.
Quantos saem de seus escritórios cansados, desejando aquela cerveja com os amigos em uma boa roda de conversa? Muitos outros terminam expediente, se preparam para a tão esperada Sexta a Noite, o momento mais badalado da semana. Roupas, perfumes, sapatos, adereços, maço de cigarro. Criam-se laços com estranhos, parceiros de copo, o garçom amigo, o isqueiro emprestado, os olhares lançados.
Em algum momento do tão esperado momento de aproveitar, criam-se pontes ao abismo. Pessoas envoltas de amigos, colegas, que se desprendem do mundo físico e adentram ao virtual, interagindo unicamente com aqueles que estão longe, fazendo exatamente a mesma coisa, deixando de lado aquele que talvez fosse o melhor momento da semana por algo tão corriqueiro e banal.
Há tantas virgulas e pontos finais nas conversas, que esquecemos das reticencias. Essa geração hightech é tão evoluída e pensante, que não há espaço para observar além de um braço de distância e ver o abismo que está em formação. Uma erosão social se aplica levando consigo todo ode à boemia. Os olhares vazios e distantes realçados pela luminosidade azul de uma tela se tornaram o ponto de solidificação de sentimentos humanos que deveriam preencher o ar de risadas, histórias mal contadas, flertes e pedidos ao garçom amigo. As câmeras frontais recebem mais atenção do que os olhos da sua pretendente, que por sua vez também não retribuirá nada enquanto mantiver as mãos num plástico qualquer ao invés de entrelaçar seus dedos. O triste fim da boemia em virtude da tecnologia.
Quanto a mim? Sou um simples garçom amigo, que ouve muita coisa, que comprou um relógio de pulso para não usar a desculpa das horas e assim aproveitar bem o pouco tempo que a vida noturna proporciona, usando as conspirações favoráveis do universo para ter uma verdadeira troca de olhar e sorrisos com aquela que roubou minha atenção.

Pedro Alexandre


Biografia:
Só mais um cara qualquer que brinca de juntar palavras.
Número de vezes que este texto foi lido: 63933


Outros títulos do mesmo autor

Crônicas A bússola de Antares Pedro Alexandre
Crônicas Perdendo o trem das onze junto com a glória boêmia Pedro Alexandre
Crônicas Estrada Pedro Alexandre
Crônicas Do 8 ao 80 Pedro Alexandre
Crônicas Entre rosas e espinhos Pedro Alexandre
Crônicas Bourbon Pedro Alexandre
Crônicas Ela Pedro Alexandre
Contos One Shot Pedro Alexandre
Contos Tempo Pedro Alexandre
Contos Saudades da chuva Pedro Alexandre

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 11.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
Educação Física para além das quatro linhas - Matheus Henrique Silva de Oliveira 65202 Visitas
Sou ET - Jonas de Barros Vasconcelos 65006 Visitas
Notas Vomitadas. - Galileu III 64651 Visitas
O sofrimento desnuda - Kinara Vitória de Sousa Santos 64411 Visitas
Uma vida Cyberlife - Caliel Alves dos Santos 64410 Visitas
Qual é o melhor local para vender artesanato online - Antonio 64397 Visitas
O que é vaidade? - Patrícia 64362 Visitas
A SAIDEIRA - André Chamun Calazans 64350 Visitas
TALVEZ - Ylnara Sama 64336 Visitas
ESCADA DE TROVAS(Nº 1) QUANDO O CARNAVAL CHEGAR - Sílvia Araújo Motta 64307 Visitas

Páginas: Próxima Última