A chuva quando cai no final da noite, por volta das 23hs, de uma terça-feira em algum mês sem feriado, é o melhor remédio para curar a sanidade. Curar a doença de ‘’ser normal’’.
A casa vazia, o gato dormindo no seu colo, a caneca de chá fumegante, e a chuva caindo. São os elementos que me fazem pensar em querer sair. Sair de casa, sair do comodismo, sair da rotina, sair pela porta, sair de sonhos, sair de planos no papel.
Uma rajada de vento lembra uma viajem ao campo, onde senti o vento levar todos os males enquanto cavalgava campina a dentro. Um trovão lembra um acampamento com os amigos, debaixo de muita chuva, muita risada e muita amizade. O barulho da agua lembra o mar, que por diversas vezes dividiu o nascer do sol comigo desse lado do mundo, e dividiu comigo o por do sol do outro lado do continente.
Cada lembrança traz uma saudade. Aquela saudade boa, que não machuca. A saudade da estrada, de ter o horizonte como seu único guia. A saudade de terras novas, de cheiros novos, de amores novos. Lembranças de quem eu era antes de embarcar com uma mala, lembranças de rodoviárias, ferroviárias, portos e aeroportos.
Eu vi a grama ser vermelha. Vi o mar ser verde. Vi o céu ser rosa. Vi montanhas serem pretas, vi rios serem espelhos. Eu vi, senti, vivi.
Mas a viagem não acabou, a chuva continua, o mundo amanhece, as flores se abrem, a paixão se renova.
Um livro e um diário são os melhores companheiros de aventura. Não tiro fotos, não guardo números de telefone, não marco datas.
Que a chuva cure a normalidade, me traga a loucura. Me deixe ser louco, louco pela vida, louco por amor, louco por um legado feito de passos na areia...
Pedro Alexandre
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