Não lhe chamo Azrael, mas um dia és tu que todos encontram
És tu que todos odeiam
És tu que fazes chorar
És tu também que alivia o sofrimento
E traz a paz do eterno descanso
Azrael, eu estou acordada e confusa
Pois Azrael, a perspicácia é o maior defeito do desperto
Sobre ti, sempre senti uma inexplicável atração
Mas me fizeste, certa vez, odiá-lo
E agora Azrael, a minha fascinação não se tornou medo
E sim inconformismo, impotência e a cegueira do desconhecido
Azrael, ninguém sabe nada,
Nunca soube até encontra-lo
E o entremundos é incomunicável
Por isso, Azrael, eu decidi nem sempre ficar acordada
E sim anestesiada para viver o sonho dentro do sonho
Azrael, como será o seu sonho eterno?
O seu reino sombrio, misterioso e que faz de toda despedida um lamento
Quantos sentimentos despertas Azrael?
Dor, lágrimas e saudades
Alívio, pena e disputas
Aniquilamento e arrebatamento
Para onde nos leva Azrael?
Para a eternidade de um sonho?
Para a eternidade do que é realmente real?
Para lugar algum, para o nada e o pó?
Não lhe chamo Azrael porque és o senhor de todos os fins
E ninguém tem o poder sobre o seu dever de cumprir
Há quem pense que te engana
Há que penses que sempre és frio
Mas eu sei o quanto é difícil o seu ofício
Lhe pintaram de tantas formas
Esqueleto, caveira ceifeira
Anjo negro da morte
Eu quero pensar que quando lhe encontrar
Seja o ser mais lindo já criado
Quem sabe se o anjo da morte
É mais lindo e benevolente do que o anjo da vida
Vida e Morte
Mistérios desconhecidos
Quem estará certo, a razão ou milhares de crenças
Teorias, manipulação, esquizofrenia
Ou há quem veja de verdade ou há que acredite na ilusão da alucinação
Tudo me parece apenas consolação
Apenas sei, Azrael, que já lhe chamei
Mas não lhe chamo mais ou se lhe chamo
No auge do desespero
Sei que não escutas
Metodicamente tens o cronograma certo
Evidente Azrael, que todos nós temos também a decisão
Da abreviação de ter o inevitável encontro
Não podes julgar
É preciso ser forte para decidir sobre isso
Assim como é preciso ser forte também para cumprir a prova da vida.
Azrael, eu espero que possas ser mais doce
Para quem levas embora
Para compensar o amargo que deixas a quem perde e fica
Azrael, eu espero que possas ser como a mão que ampara e salva
Que alivia e torna tudo leve, sem dor
Que anuncia, com alegria, que tudo agora acabou bem
Que seja belo, que seja luz, que seja amor, descanso e paz.
Simone Dimilatrov
Santos, 16 de outubro de 2016.
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