Poucos são os livros que conseguem trazer uma sensação de maravilha-mento, um sentimento de arrebatamento tão grande que te faça ir a outro mun-do, atravessar as fronteiras do onírico e não mais estar ligado às leis desse mundo. É esse o sentimento de alguém que lê o livro O Rei de Amarelo.
O autor Robert William Chambers (1865-1933), escreveu um livro de dez contos, nos quais os quatro primeiros fazem referências a uma peça de teatro chamada O Rei de Amarelo. A dramaturgia traz uma descrição, ou uma possí-vel revelação tão grande no segundo ato, que os seus desavisados leitores enlouquecem. Durante todo o livro, citações aparecem aqui e ali.
O livro é recortado entre a realidade e a loucura, o sonho e o pesadelo, no qual os personagens não sabem mais distinguir o que é real ou imaginário. Isso pode ser visto no conto que abre o livro como O Reparador de Reputações, ou o esquizofrênico No Pátio do Dragão.
Mesmo nos contos considerados “realistas” é impossível esclarecer qual a verdadeira relação entre os contos, como a Rua da Primeira Bomba e Rue Barrée. Cenários e personagens vem e vão com a mesma fluidez em que de-saparecem na intempestiva linha dos acontecimentos.
Com certeza o conto mais enigmático do livro, talvez uma mensagem subli-minar da própria peça, é o a prosa poética de O Paraíso do Profeta. O certo seria dizer que a carga simbolista do livro é muito maior do que a do decaden-tismo, embora muita da inspiração do livro tenha vindo dos decadentes.
É uma obra que vale não apenas ser lida, mas estudada, analisada e revis-tada quantas vezes forem necessárias. Mas não tente compreender ou ligar as histórias, pois elas fazem parte de um universo próprio que só o autor conse-guiria entender. E é bom que permaneça assim.
Para quem gosta de fix-up, ficção científica, terror e fantasia é um prato cheio. Outro livro do autor que tem os mesmos elementos que esse livro é The Mistery of Choice.
Mas o certo seria visar ao leitor de antemão, se vires um livro de capa ama-rela... Pode ler, pois o rei vigia das torres de Carcossa.
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