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JOGO do NADA
Tânia Du Bois




    “O mito é o nada que é tudo".               (Fernando Pessoa)

     Não se trata do jogo do tudo ou nada. Nem como diziam antigamente, que quem tudo quer tudo perde. Há situações que desenhamos em palavras o nada. Como compreendê-lo em sua totalidade? Qual o fio condutor que lhe dá sentido? O sentimento é uma das comunicações que se manifesta e contamina o que está sendo escrito ou lido; assim, em Cora Coralina, “...sei que nada do que fazemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.”
     A forma como vivemos o dia a dia constrói a nossa história. Digo que não é fazendo o jogo do nada que incentivamos e transmitimos os nossos desejos, como mostra Pedro Du Bois, em seu livro o Jogo do Nada, “Procuro o que sei encontrar... //abro as cortinas / a visão enlouquece. // Procuro coisas de sempre / nos mesmos lugares / até que o nada me imobilize.” E, em Teresinka Pereira, “...Minhas palavras / se reduzem ao abismo do tempo, / não vejo sequer o horizonte: / sou espectadora do nada!”
     O desafio não é fazer escolhas difíceis, mas ir ao encontro dos desejos e das expectativas. A maneira como vemos o nada pode ir além, para que tornemos realidade ou o possamos reinventar para viver, até mesmo como um jogo do nada. Segundo Macedônio Fernandez, “Las únicas muertes que El hombre conoce son aquellas a que se sobrevive” e, Mário Faustino expressa, “...Estas só de mãos vazias todo cheio de nada...”
     Porém não o subestime, que o poder de sedução passa pelo nada, quando lemos sem ver, por exemplo, não tecemos o amanhã, apenas vivemos o instante em fendas e damos uma desculpa esfarrapada para a vida, assim como mostra Pastorelli no poema Escrevo o Nada: “Escrevo tudo o que nada tenho / E escrevo o nada que tudo trago. / E nada escrevo porque o escrever / É decifrar o indecifrável / Que na alma tenho e perdura...”
     Há momentos em que o nada faz melhor do que seu jogo de palavras: poesia. Além de aumentar a sensação de estar fazendo algo prazeroso, demonstra interesse pela vida, evitando assim o vazio da tristeza. Lígia Antunes Leivas reflete que “Meus pensamentos são nadas. / Andam sós / são mágoas...” e, Márcio Ibiapina diz, “O pensar é sorte, / Abandone o macio / No mar dos escombros. / Construo sonhos / Ou arquiteto o vazio...”
     Muitas vezes, pergunto, ao nos “enchermos” de várias coisas, compromissos, vontades, verdades, por que continuamos vazios, sem nada?
     Para dar conta de tudo o que temos de fazer no dia é preciso dar atenção aos atos. Em meio ao turbilhão diário, o essencial é encontrar tempo para nos realizarmos e assim, evitarmos o jogo do nada: procurar a nossa história em cada leitura, como em Thereza Freire Vieira, “... O vazio é o nada. / O nada não tem movimento, / nada quer, nada deseja, / nada espera, nada sente. / Como pode o nada consumir, / tomar proporções imensa, / enchendo a nossa vida, / transbordando a nossa alma, / sufocando os pensamentos, / fazendo-nos abortar / no nascedouro...”


Biografia:
Pedagoga. Articulista e cronista. Textos publicados em sites e blogs.Participante e colaboradora do Projeto Passo Fundo. Autora dos livros: Amantes nas Entrelinhas, O Exercício das Vozes, Autópsia do Invisível, Comércio de Ilusões, O Eco dos Objetos - cabides da memória , Arte em Movimento, Vidas Desamarradas, Entrelaços,Eles em Diferentes Dias e A Linguagem da Diferença.
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