Assim como Cinderela não sabia que era princesa, nós não sabemos quem será o nosso príncipe. O beijo da princesa, que transforma sapo em príncipe, pode terminar em grande confusão sem explicação, porque o beijo tem tudo a ver com a dor e a alegria; ele mexe com os sentidos. Chacal pergunta, “Qual o sentido da palavra beijo?”
O beijo nos inspira. Escritores nos remetem ao surrealismo ao nos encantar com suas nuances, como demonstra o poeta Jairo P. Martins, no livro Beijo de Luz, dividido em cinco partes: Beijo a Humanidade; Beijos à Natureza; Beijo aos Amigos Literatos; Beijo aos Artistas e Beijo de Luz. Já para Tchello d’Barros, “O Beijo do título pode ser lido como metáfora, a tradução de um afeto atávico dedicado a humanidade... e aos seus iguais”.
Não existem parâmetros no beijar; há significado em cada beijo dado e recebido, que nos permite conhecer nossas emoções, pelo gosto pessoal. O beijo simboliza o quanto gostamos das pessoas, sejam quais forem as razões, pois, nos remete à importância de estarmos conscientes diante dos tantos sentidos na palavra beijo: beijo automático, beijo de mãe, beijo de irmão, beijo de cumprimento, beijo de traição, beijo de despedida, beijo de amor e beijo de amigo.
A diferença está no estilo de vida; beijamos para cumprimentar os amigos e, às vezes, até estranhos, quando a eles somos apresentados. Esse beijo se torna cúmplice de uma nova amizade e, até mesmo, nas conversas virtuais. Vai além, ao demonstrá-lo motor de equilíbrio e flexibilidade em vínculo forte e saudável entre amigos.
Voltando do mundo da conquista, é hora de dar um beijo sem intenção, apenas como gesto de carinho, atenção e alegria nos encontros do dia a dia. É o caso do livro infanto-juvenil, “O Beijo da Palavrinha”, de Mia Couto, que reconta os contos africanos e tem, no título, a superação das diferenças. Também, o de Tatiana Belinky, “Beijo, não!”, que revela uma história divertida.
Se existe sentimento por outra pessoa, o poder do beijo reside no incentivo emocional. Não nos detemos frente ao amor, prosseguimos até a conquista, pois, além do amor, há os desafios pelos momentos únicos, que são especiais e retratam os gestos. Com o beijo de paixão, assumimos o relacionamento na ideia de sermos felizes, porque existe amor entre um beijo e outro; motivo pelo qual escolhemos a quem beijar. O beijo é troca, vida, desejo e entrega. No poema de Pedro Du Bois, “Das certezas / falamos / no amanhecer / e no final do dia // do amor / no beijo de boa noite...”.
Há outro ponto a ser considerado no ato de beijar, que pode ser recebido como antídoto contra a solidão; acreditamos que cultivar o carinho é ir ao encontro da felicidade. Juan Gelman pergunta, “... Que infinitude de beijos contra a solidão / afunda teus passos no pó?...”.
As situações que nos levam a beijar é que fazem diferença na vida, por ensejarem nos despirmos dos preconceitos e jogarmos fora o medo, para sermos felizes.
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