Acabou a incerteza. Pergunto, tem certeza? Momentos de (in)certeza quem não os tem? Pedro Du Bois retruca, “Quem me traz / a dúvida / nesses tempos de plenas certezas?” O poeta diz que as suas dúvidas são as certezas que os outros trazem em letras ordenadas e imagens desordenadas, para que o sonho mostre sua face.
Segundo Orides Fontela, “O duro / impuro / labor: construir-se”. Construímos vidas nas certezas onde contracenamos com o cotidiano e suas surpresas que deixam os corações aos pulos quando a dúvida persiste. Nas palavras de Luiz Delfino, “... eu tenho medo, sim! eu que amo tanto, / De me enganar: / Que meus olhos mintam mesmo o pranto / Minta o chorar...”
Temos a certeza do caminho e a dúvida da hora e do tempo que desperta e, ao mesmo tempo, prende-nos em destinos: direitos e deveres, família e amantes, liberdade e vontades. A liberdade de tomar os remédios, ligar o som, fazer uma oração, abrir a janela, levar o lixo, fechar a porta... A dúvida em guardar o retrato ou rasgar o retrato. São ações que nos leva a certeza de optarmos pelos sentidos, pelo amor e para restaurar a solidão. Ao exprimirmos nossos gritos aos nossos ouvidos, com certeza teremos o homem e suas faces. Como em Wesley O. Collyer, “Vontade de desabafar. / De falar das coisas erradas, / das que quero concertar. // Vontade de me rebelar / De achar uma solução para tudo / De me encontrar...”
A certeza demarca a vida, mostra o trajeto traçado em palavras, onde escutamos o barulho passando sobre as cabeças, e isto nos permite que a via passe e nós permaneçamos apenas acompanhando o caminho. Pedro Du Bois, diz que “...as notícias desdizem / os fatos: em afagos / relembro caminhos / intransitáveis”. No fundo a certeza é como o silêncio que rasga o tempo em horas de novas despedidas que, trazidas pelo vento, absorve a existência das incertezas, como mostra o livro A Incerteza da Vida, também de Du Bois.
A certeza sucede o ato de entendimento ao construir a imagem do homem e sua vida, como fato e/ou grito da atenção. Vista em expressão, surpreendemo-nos e nos envolvemos pelas vozes da caminhada e o teor das entrelinhas. Júlio Queiroz expressa, “Tão fáceis farias sempre os dias / Se fosses a certeza garantida, /... e os retratos guardados com desvelo...”
As certezas da vida nos levam a mais (in)certezas da existência, porque consistem em liberar as palavras nas mudanças da realidade, como o texto de 1984, escrito para a revista Isto É, por Mario Quintana, sobre A luta amorosa com as palavras: “...Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que nunca acho que escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! Sou é caladão, introspectivo. Não sei por que sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros ?”
Quando achamos que temos todas as certezas, a vida vem e muda as (in)certezas: as respostas viram novas perguntas...
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