“Convite //... Veja só, queres brincar? / É pra trazer quase nada / só vontade de sonhar... / Tenho um pouco por cá / e o pátio da vovó / outro tanto vai nos dar...”.
(Dinair Fernandes Pires)
O convite entra em cena quando o recebo. O próprio exibe o “evento” e faz ponte para o relacionamento. Faço planos e escolho a melhor forma para comparecer. Porém, fico alerta ao verificar se o convite é real, para não cair na armadilha do “infiltrado, peru ou furão”, vulgarmente falando. É uma tentação ser o convidado. Segundo Mario Quintana, em seu livro Da arte de fazer visita, “Sempre que o convidavam a uma casa, perguntava-lhes se podia levar um amigo... Deixava então os outros conversarem enquanto eu fingia que escutava”.
A cada convite que recebo, reflito que ele precede o ato e o entendimento para a falta do conceito, que se repete no ímpeto, chamando a minha atenção. É nesse ponto que comparo o convite a um ato fantasioso, por que a sociedade não dá respostas satisfatórias e o homem sempre está em busca de soluções mágicas. Márcio Catunda pergunta, “Como fazer para que não percebam / que conheço a psicose deles? / Como suportá-los, sem que me torne um deles? / Como não me confundir com a doidice deles? / Como não revelar as nossas diferenças indiscretamente?...”
É difícil controlar a ansiedade quando carrego meu medo ao ser convidado para qualquer evento; talvez seja a minha vez de ser mais um, o outro ou apenas o conhecido para fazer número. Lá, conservo-me alerta e me encerro no olhar da espera. Por vezes, considero não ser o momento e nem o lugar apropriado, ou nem me sinto à vontade para ouvir risadas e versos, nem dividir lamentações, por que o tempo passa sobre mim em única sombra: por que fui convidado? O que trago comigo para ser o escolhido? Jorge Tufic revela, “Algumas coisas / chegam / tarde demais. / O tempo é a nossa ausência”.
Outras vezes, penso em não aceitar nenhum convite e parar para refletir sobre que rumo deveria tomar. Então, a vida vem e me convida a uma pausa para escolher entre a emoção, o desejo e o objetivo de me harmonizar com as pessoas. Com essa sintonia fortaleço os desejos e os relacionamentos e, ainda, experimento novos caminhos, como aceitar o convite. Pedro Du Bois demonstra, “Proposta / aceita / se preparam / para ação // na frieza / dos gestos / o silêncio / dos corpos / a escuridão / das mãos...”.
Nesse momento, cessa o meu medo e restam as cenas comuns que tenho sobre o “anfitrião/patrocinador”: ter sido o PODER. Eu, como em Lêdo Ivo, “Ando na multidão e o meu nome é Ninguém”. Sei que não é hora de fantasiar e sim de atuar em benefício próprio. É hora de transformar a minha ação em retorno, como convidado.
Mas, e quem me convida para desafiar a vida? Tenho coragem para desafiar a mim mesmo no experimentar algo diferente e pensar de outro modo, que todo convidado tem em comum a força do pensamento como elemento provocador do que se quer: atrair o que lhe é oportuno. Nas palavras de Oscar Wilde, “Eu não quero desnudar a minha alma / diante dos olhos frívolos e curiosos”.
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Biografia: Pedagoga. Articulista e cronista. Textos publicados em sites e blogs.Participante e colaboradora do Projeto Passo Fundo. Autora dos livros: Amantes nas Entrelinhas, O Exercício das Vozes, Autópsia do Invisível, Comércio de Ilusões, O Eco dos Objetos - cabides da memória , Arte em Movimento, Vidas Desamarradas, Entrelaços,Eles em Diferentes Dias e
A Linguagem da Diferença. |