“A magia da caixa é transformar qualquer momento numa história.” Quando li esta frase me ocorreu que ao longo do tempo fui descobrindo a importância da caixa, como algo que se repete na memória: quanto consigo guardar e reconhecer no que ela me coloca, ou não, em sintonia com os sentidos.
A caixa é a previsão de quem busca o objeto, para guardar o tempo, lembranças, poemas, cartas e fotos. Ela representa os segredos, incertezas e histórias. Sendo inédita e inesperada, supostamente, está envolvida em alto grau com os sentidos de quem faz da sua existência o manual de procedimentos da vida em pleno criar. Francisco Alvim mostra o seu momento criativo n’A Caixinha do Saber e na Caixinha de Segredos; Sérgio Napp amplia a ideia no seu livro Caixa de Guardados. E Índigo em seu livro infanto-juvenil, Caixinha de Madeira, faz relatos (1697 a 2001) em cartas sobre o outro lado da história de Branca de Neve, Cinderela e Bela Adormecida.
Quando pego a caixa, penso encontrar o novo e acredito que ainda posso criar enquanto mexo e remexo, até misturar o tempo das palavras e me sentir convencida, de que ela me leva à reflexão.
Destaco olhares para as caixas dos poetas, no poder construir a imagem onde a poesia se contrapõe à rudeza da realidade e, ainda, guardar em cada caixa o tempo necessário para que os efeitos das palavras, em cada autor, possam ser transformados em nova potência. Como em Fernando Pessoa, segundo Ivan Teixeira, “que publicou pouca coisa em vida, mas deixou enorme quantidade de inéditos num famoso baú, de onde os estudiosos vêm abundantemente extraindo surpresas e mais surpresas”. Donaldo Mello, em “Caixa de Bordado // guardados sem utilidade, lembranças apenas: /... um santinho-mensagem... // Lembranças com utilidade, guardados apenas: / muitos botões solteiros, botão de osso... // meadas em tons diversos: arco-íris na caixa. // O caos da caixa se encaixa: / em tardes soturnas, domingos vazios, / ...colcha de retalhos, de sombras.”
Na caixa observo o que gosto; pego seu conteúdo com a sensação de que é o meu modo pessoal e, muito possivelmente, como sou. Sob todos os conceitos a caixa é o resultado, contraste entre a posição das imagens tendência e estilo; equilíbrio perfeito entre o desejo de lembrar e o que deixei para trás: memória e sentimento. Mais que tudo, sei da magia e a reconheço, porque representa a história. Marina Ferreira descreve, “No chão do quarto, / espalhados... brinquedos. / No baú jogado ao canto, / guardados... segredos”
Quando finalmente a memória cristaliza a lembrança, ajuda-me a definir e a reconhecer o valor sentimental da caixa, como Carmen Presotto revela em seu livro Encaixes: “... Encaixar minha vida em mágicas caixas / descriar certezas / e / desconectar // ... Desencaixo... loucura de viver”.
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