Elisabeth estava vasculhando a fascinante sala do professor Pascoal. Teddy e Medd jogavam cartas deitado no tapete. Ela viu que havia uma balança e que em cada prato de aço tinha chocolate em pedacinhos.
- Eles estão demorando!... - reclamou Medd.
- Isso não é da nossa conta... - e mostrou ao irmão o jogo ganho.
- Você tá roubando no jogo!
Teddy levantou sorrindo.
- Você não aguenta perder, seu paspalho.
- Ora seu!... - e Medd avançou em cima dele e eles rolaram no tapete. Elisabeth ignorou-nos, e pegou um pedaço daquele chocolate. Mastigou e adorou.
- Que delícia... - quis dizer ela, mas o que saiu de sua boca foi um latido. Teddy e Medd pararam de se agarrar e assustados olhavam para onde veio o latido. Elisabeth estranhou e quis dizer: O que está acontecendo com minha voz? - mas Teddy e Medd só ouviram latidos saindo da boca da garota.
- Você está latindo... - surpreso disse Medd.
Teddy achou curioso e chegou perto dela. Elisabeth estava desesperada. Perdera a voz após comer daqueles chocolatinhos. Ela apontou o dedo para a balança com os pedaços de chocolate e fez gesto que comeu ele. Teddy entendeu que ela comeu e que agora latia em vez de falar.
- O que acha que aconteceu com ela? - achou curioso Medd, examinando o chocolate.
- Come esse pedacinho de chocolate, Medd – pediu o irmão lhe dando do mesmo chocolate que Elisabeth comeu. Ela vendo tentou impedi-lo, mas ele comeu antes e depois latiu também.
Elisabeth entendeu o que Medd latiu e descobriu que podia compreender a linguagem dos cães.
- Isso é estranho! - latiu ela, e Medd confirmou.
- É sim... e agora? - eles olharam para Teddy. Ele examinou o outro prato com chocolate e concluiu que aquele só podia ser para voltar ao normal. Arriscou e deu um chocolate para cada um, insistindo que comessem. Elisabeth e Medd comeram ao mesmo tempo, e ao mesmo tempo os dois se transformaram em cachorros!
- Oh não... - lamentou Teddy, vendo o resultado que não esperava.
Medd além de latir era agora um cachorro grande e magro, de orelhas caídas. Elisabeth era uma cachorrinha pequena e peluda.
- A coisa piorou! - exclamou ela em latidos.
Medd até que gostou.
- Posso correr atrás dos gatos, e uivar para a lua e enterrar ossos!... - dizia empolgado.
- Pode ser pego pela carrocinha e ficar preso no canil! - acrescentou Elisabeth aborrecida, fazendo o animo dele desaparecer.
Teddy não sabia o que podia fazer para reverter à situação. Eles escutaram a porta se abrir e o professor entrou e viu a cena.
- O que são isso?! Cachorros aqui dentro? - ficou de boca aberta.
Teddy sorriu sem jeito, explicando.
- Bem... na verdade são Medd e Elisabeth... - o professor pulou empolgado ao ouvir.
- Então o choco-late funciona! - Teddy não entendeu a reação dele.
- O que o senhor está dizendo?
O professor chegou mais de perto e examinou o focinho de Medd que este investiu uma lambida no rosto dele. Depois pegou Elisabeth no colo.
- Vocês dois comeram daquele chocolate? - apontou para a balança. Eles latiram: - sim!
- Você inventou esse chocolate para transformar quem comem em cachorros? - perguntou achando curioso a nova invenção do prof. Pascoal.
Ele colocou Elisabeth em cima de uma cadeira e pegou quatro barrinhas de chocolate, dois de cada lado da balança.
- Eu não tive intenção de inventar isso... mas acho que devo ter acrescentado um xarope de cura-pulgas quando estava tentando criar um chocolate borracha... e alguns ingredientes nada recomendáveis... - comentou.
Ele abriu a boca de Medd-cão e fê-lo engolir. Depois a mesma coisa com Elisabeth.
Logo os dois começaram a se transformar em humana e coelho novamente.
- Nossa... que sufoco passei!... - comentou Elisabeth aliviada. - Prefiro me transformar em coelha mil vezes do que em cachorrinha... - e Teddy olhou para ela de um jeito especial e ela entendeu porque ele a olhava. Medd avançou a mão para pegar alguns pedacinhos de chocolates para mais tarde se transformar, mas Pascoal deu um tapa em sua mão.
- Não deve comer isso! Não sabemos direito quais são as consequências negativas de quem se transformam em cães... - avisou ele, indo se sentar na sua poltrona.
Teddy olhou para o professor que estava abatido, e perguntou.
- Professor... o que você vai fazer a respeito da carta?... - Elisabeth e Medd olharam para Teddy surpresos. Mas a surpresa ficou por conta do prof. Pascoal.
- Como sabe?
Teddy se remexeu como se fosse pedir desculpas.
- Eu... eu ouvi por trás da porta...
Medd e Elisabeth se olharam confusos, ainda não estavam entendendo o plano dele.
- Você é um coelho muito atrevido! Deveria dar um nó nas suas orelhas! - vociferou.
- Então?... - continuava ele, querendo fazer o professor revelar o que tinha na carta.
- Está decidido! Vocês não devem contar para mais ninguém sobre o acordo entre mim e o senhor Ramiro...
Teddy tentava compreender, e esforçava para ele revelar mais sobre esse acordo.
- Mas o diretor terá que saber e...
- Ele vai saber, sim! Mas depois que eu entregar a receita secreta ao Ramiro...
Teddy e Medd pularam de susto.
- O senhor ficou louco?! - desesperou Teddy. - A receita secreta da Páscoa é tudo para a comunidade mágica dos coelhos! Se o senhor entregar a receita o que vai ser da Páscoa de todas as pessoas que acreditam na gente?
O professor suspirou.
- Eu já me decidi, está bem? Ele comprou a fazenda só para esse fim, de trocar o contrato de venda pela receita da Páscoa, que vale uma fortuna incalculável...
- Então era isso que estava escrito na carta? - perguntou Elisabeth.
- Como assim? - e olhou para Teddy e percebeu que eles nada sabiam sobre a carta e que foi vítima de um plano. - Vocês são mesmo umas pestes! Mas eu não vou deixar que três garotinhos me detenham!
- Professor... - insistia Elisabeth. - Acho que o sr. Ramiro não vai lhe entregar o contrato de compra da fazenda... o senhor deveria tomar cuidado...
O professor tampou as orelhas como se quisesse estar longe de todos ali.
- Chega... eu não quero mais ouvir nada! - o encerrou socando a mesa com o punho fechado. Depois se lembrou de uma coisa importante. - E você?
- Eu? - perguntou estranhamente a garota. - O que tem eu?
- Você não precisa voltar? Quer que seu avô morra de preocupação?
Elisabeth sorriu sem graça e balançou a cabeça concordando.
Medd ficou preocupado.
- Mas como ela vai sair a essa hora da madrugada e sozinha?
- Ela não vai sozinha... – respondeu o professor.
Medd focou todo cheio e deu um passo a frente, orgulhoso em dizer.
- Oh, mas claro que eu e Teddy se oferecemos em levar Elisabeth sã e salva para a casa...
- Nada disso... vocês ficam aqui e eu vou levar Elisabeth pra casa. - disse o professor se levantando da poltrona.
- Não se preocupem comigo, é sério! Eu posso voltar sozinha e... - dizia ela, mas o professor concluiu com suas palavras:
- ... e se ferir novamente num espinho venenoso e servir de janta ao um urso faminto!
Ela repensou nessa hipótese e aceitou a ideia de ir acompanhada com o professor de volta para casa.
Teddy ficou de cabeça baixa e Elisabeth levantou a ponta de seu queixo. Eles se olharam longamente e o coração dos dois se aceleram nas batidas. O professor e Medd não ousaram interromper aquele momento de despedida.
- Elisabeth... eu... - começava Teddy de boca seca, enquanto ela, sem avisar lhe deu um beijo em sua boca.
Medd pulou de alegria e a cartola rosa do professor deu um salto para longe e ele caiu para trás diante da cena. Ele caiu não de emoção, mas de susto mesmo!
Teddy e Elisabeth sentiam se apaixonado um pelo outro.
O professor tentava a custo se levantar do chão e ele tremia todo, como se tivesse diante de um fantasma.
- Mas... mas o que vocês fizeram?! - o indagou como se aquilo fosse umas das coisas mais horríveis para se fazer na vida.
Ela abraçou Teddy e emocionada disse, ao seu ouvido.
- Eu te amo... quero ficar com você...
Teddy estava com um sorriso nos lábios ao ouvir aquilo dela e Medd pulou em volta deles, aos vivas.
- Teddy e Elisabeth serão namorados! Vão casar e ter um bando de filhos e coelhinhos! E eu serei o padrinho!... - Teddy colocou o pé no caminho e Medd tropeçou de cara no chão.
O professor Pascoal se levantou de olhos fechados e dizia para si mesmo.
- Não... Não aconteceu isso... isso foi uma ilusão, é... estou sonhando nesse momento...
A senhora Mirla abriu a porta do escritório e chamou.
- Professor?
Ele virou para ela, com a expressão mais absurda no mundo.
- Sim? - ela o encarou e desconfiou.
- Algum problema?
Pascoal achou graça na pergunta dela.
- Estamos enfrentando um problema de risco total na nossa comunidade e para não bastar descubro que a garota humana e um coelhinho estão querendo namorar um com o outro... e você me pergunta se eu tenho algum problema? - gargalhou alucinado e depois gritou. - MAS CLARO QUE ESTOU CHEIO DE PROBLEMAS!
A coelha Mirla não fez uma cara de surpresa, pois já estava suspeitando que aquilo fosse acontecer, embora concordasse que nunca na sua vida vira um relacionamento de um coelho e uma humana. Mas acreditava que aquilo era passageiro, que era apenas o primeiro amor deles...
O professor Pascoal ficou esperando que ela se manifestasse a seu favor, mas ela apenas sorriu e deu de ombro.
- O que podemos fazer?
Elisabeth e Teddy se olharam surpresos com a reação dela. Já o professor quase teve um infarto. Antes que o professor voltasse a questionar, Mirla disse.
- Vocês tem que ir agora...
- Com muito prazer! - revelou o professor, aliviado em ver aquela história acabado pelo menos naquela madrugada.
- Mas como fica o negócio da carta, professor? - perguntou Medd preocupado.
- Você contou a eles? - a coelha Mirla pôs a mão na testa.
- Eles me ludibriaram! - defendeu ele. - Mas o que eu vou fazer é para o bem de todos!
Amanhã cedo eu vou me encontrar com Ramiro e entregar a receita secreta...
Nada adiantou para convencer o professor não fazer essa troca.
Elisabeth acompanhou o professor pelos corredores, até chegar ao salão de chão cristalizado. Pascoal chegou próxima a parede e murmurou algumas palavras estranhas, que ela acreditou ser um idioma mágico, ou coisa assim. Na parede se fez uma entrada e eles entraram, a parede se fez novamente como era. Os dois estavam calados enquanto o elevador subia andares acima. Elisabeth tentou quebrar o silêncio.
- ... É tão grave assim?... - ele tentou ignorar a pergunta dela, mas não se conteve, e olhou para ela desanimado.
- É muito grave... Você é uma menina muito bondosa... mas, isso é impossível, me desculpe.
Elisabeth abaixou a cabeça tristemente, mas não aceitou a opinião dele. O professor sentiu pena da menina e consolou-a. - Você é nova ainda... vai encontrar um garoto humano muito especial um dia e vai casar, e construir uma família...
- Mas não é possível construir uma família com Teddy? - a insistência dela deixou a paciência dele a ponto de explodir, mas disfarçou.
- Você é uma humana e Teddy um coelho... nós somos animais comuns como qualquer outros animais desse mundo. Talvez não tão comum assim, mas você e Teddy não poderiam jamais ter filhos... isso é contra a natureza de cada um de vocês.
- Mas e seu eu me converter em uma coelha, assim como vocês?
Aquilo foi demais para sua paciência.
- Isso seria uma terrível maldição para o nosso povo! Uma humana não pode jamais ser como nós. Não para sempre. Nós nascemos coelhos mágicos e você não!
Elisabeth não queria deixar de lutar para ficar com Teddy. Ela comentou numa voz fria e profunda de dor.
- Você diz que se uma humana casar com um coelho vai despertar uma terrível maldição para todos, não é? - o professor Pascoal não disse nada. - Então diga qual foi à maldição que vocês receberam quando uma humana foi morta pelas mãos de um coelho como vocês?! Um coelho daqui desse castelo foi o responsável pela morte de minha mãe... e a única pessoa a sofrer por uma maldição fui eu. Você não sabe o quanto eu chorei por ver as outras crianças abraçando suas mães e seus pais, e eu deixada de lado... Tanto que eu queria ser pega no colo dela e vê-la cantar uma canção de ninar e me por para dormir... - Elisabeth se emocionara.
O professor Pascoal não teve palavras para questionar, apenas murmurou baixinho.
- Sinto muito... - a porta na parede estava aberta a tempo, mas eles nem tinham percebido que o elevador já chegara ao andar desejado.
- Não... Acho que você não sente muito, me desculpe... - e ela saiu primeira e o coelho arrumou melhor a sua cartola rosa na cabeça e saiu. Eles estavam num corredor e havia uma escada de pedra. Pascoal evitou olhar para ela e começou a subir os degraus, saindo para um pátio ao ar livre. O vento frio agitou os cabelos de Elisabeth para trás.
- Estamos no pico da montanha, ou melhor, na torre do castelo – informou ele.
Ela se aproximou perto da barreira que circulava todo o lateral da torre disfarçada em pico de uma montanha. Ela lançou olhares para o redor de tudo e o vasto negro a sua frente se estendia. Nem conseguiu ver onde ficava a grande casa de seu avô. Mas o céu estava lindo e estrelado. Podia ficar ali para sempre contemplando o universo incapaz de alcançar com suas mãos pequenas.
Ela estava distraída a ponto de não perceber que uma bolha grande se aproximava até eles.
O professor pigarreou para chamar sua atenção. Ela olhou para ele e viu que estava na hora de partir. Ele penetrou na bolha e Elisabeth respirou fundo, e fez o mesmo. Ali era aquecido, e ela precisou sentar, pois não conseguia ficar de pé enquanto a bolha subia para o alto e corria pelo céu escuro, acima da copa das árvores lá embaixo.
A viagem de volta se seguia silenciosa entre os dois ali na bolha mágica.
- Anh... - começou Elisabeth baixinho, e o professor entendeu que ela queria sua atenção.
- Quer pedir algo? - tentou ser o mais gentil que podia.
- Estive pensando... - dizia ela, sem saber ao certo como queria ser entendida. - ...no acidente que houve lá no bosque... Claudete, sabe...
O professor tremeu e sentiu os ombros caírem.
- Seu avô terá que chamar a polícia-florestal, acredito.
Elisabeth não tinha ideia de como ia contar ao avô tudo que acontecera. Pensou por um instante se dona Nair não já tinha contado a ele.
O professor Pascoal sentou e olhou para ela, amavelmente.
- Quer que eu explique a seu avô? - Elisabeth ficou olhando para ele e seus olhos diziam que aquilo seria ótimo, mas também passou a preocupá-la o quanto aquilo podia ser perigoso a ele se envolver. Pascoal pareceu compreender o que se passava em sua mente, e relaxou ela. - Não se preocupe, eu e seu avô já nós falamos antes... e acho que isso deva ser contado por uma pessoa...bem, no meu caso, um coelho mais velho e responsável.
- Obrigada... - murmurou ela, de olhos abaixados além da camada fina da bolha.
A bolha começou a baixar e contornou a casa grande dela e Elisabeth achou a experiência até legal.
- Pronto – disse o coelho e atravessou a camada fina da bolha sem estourá-la. Ele olhou para a casa e havia luz na sala de estar. Elisabeth saiu da bolha.
- Deve ser a Dona Nair ou meu avô que está acordado. E acho que Dona Nair já até antecipou as novidades ao meu avô – comentou.
Ela se adiantou indo em direção a porta da sala, e parou quando viu que o professor não estava acompanhando-a.
O coelho respirou fundo e foi até ela.
Antes de ela abrir a porta, alguém antecipara esse movimento para ela. Dona Nair estava no vão da entrada. A mulher abraçou Elisabeth sem perceber a criatura média ao seu lado.
- Graças a Deus você está bem!
- Estou bem, sim, calma... - apressou a dizer para ela e ela a largou. - Dona Nair esse é o professor Pascoal. - apresentou.
Dona Nair sorriu para ela sem perceber o que ela estava falando e quando olhou para ao seu lado viu ali o que a menina se referia.
- HÁ! - gritou e caiu sentada. - Meu Deus!... Fuja Elisabeth, ele pode ser perigoso!
O professor balançou a cabeça desinteressado e cruzou o portal, e Elisabeth acalmou-a.
- Não fique assim, ele é amigo. Ele é o professor Pascoal, e veio falar ao vovô sobre o que aconteceu com a gente no bosque.
Dona Nair abriu a boca e por um instante não ficou preocupada com a presença da criatura na sala de estar.
- Claudete! - disse ela por fim, apoiando no ombro da menina para se levantar.
- Exatamente... - concordou a menina triste. - o professor vai conversar com vovô e pedir que chame a guarda-florestal para ir até o acidente e...
- Não! - interrompeu a senhora Nair. - Claudete não está morta!
Elisabeth sacudiu a cabeça confusa, e o professor virou para encarar a mulher.
- Dona Nair? - se preocupou ela. - Claudete caiu no precipício. Ela morreu.
- Nós pensávamos que estava morta, mas não está! - esclareceu Nair rindo. - Claudete nos enganou. Ela e eu já nos encontramos! - Elisabeth ficou sem o que falar. - Vou contar tudo. Vamos sentar... - ela puxou Elisabeth pelo braço até o sofá, mas ficou com medo do coelho sentado no canto do sofá.
- Não vou mordê-la, senhora! - avisou o professor irritado com o comportamento da cozinheira.
Dona Nair ficou pouca a vontade sentando no mesmo sofá com ele, mas tentou não pensar muito naquilo. Dona Nair contou tudo, desde a sua chegada até o confronto que ela tivera com a governanta.
- Claudete?... Viva? - indagou Elisabeth sem acreditar. - Ela tentou matá-la?
Dona Nair explicou com mais atenção àquela parte da briga.
- Ela não teve intenção... foi... acredito, um acidente...
- Ela não se preocupou enquanto estava levando à senhora desmaiada para a lagoa! - exclamou a menina, se pondo de pé.
O professor Pascoal estava deixado de lado, e assoviou para chamar atenção.
- Ah, professor! - falou Elisabeth, como se pedisse desculpa por tê-lo deixado de fora da conversa.
- Então... acho que não irá precisar chamar a guarda-florestal. Ainda bem! - disse, se colocando de pé. - O seu avô está dormindo, e a base de remédio... então acho que é melhor adiar nossa conversa, e para ser sensato é melhor eu ir se não a espiã de Ramiro retorne e piore as coisas.
- Bem, estive pensando agora... acho melhor não comentar nada ao meu avô. Não houve morte alguma, e acho que isso resolve as coisas... - disse ela, tentando não encarar a fúria de seu avô quando soubesse da sua aventura pelo bosque naquela noite.
O professor compreendeu o medo dela e forçou um sorriso de compreensão.
- Olhando por esse ângulo você tem razão. Não queria mesmo encarar o Sr. Taylor... – e riu de nervosismo. Elisabeth também sorriu e sentiu um alívio no corpo todo. – Mas quero que prometa que não vai andar novamente sozinha pelo bosque atrás de nós, hein? – censurou ele.
Elisabeth sorriu e balançou a cabeça em sinal de concordância.
O professor suspirou e ajeitou a cartola em sua cabeça e se despediu delas saindo para fora.
- Bem, minha querida... acho melhor você dormir agora, foi uma noite bem agitada, não acha? – sugeriu a bondosa cozinheira.
- Não sei se vou conseguir fechar os olhos. Mas e você? O que vai fazer se caso à senhora Claudete aparecer e a veja? – ficou preocupada.
Dona Nair sorriu misteriosa.
- Vou ficar escondida e quando ela retornar vou aparecer para ela feito um fantasma!
Ela e Elisabeth caíram na gargalhada antes de ir cada uma para o seu quarto.
Claudete apareceu lá para o amanhecer do dia, pois ficou cansada em esperar por um possível resgate e abriu a porta da casa no maior silêncio, estava subindo as escadas quando escutou um pigarro de voz bem atrás dela. Claudete virou bruscamente e viu nos degraus abaixo o fantasma da senhora Nair.
- Você me matou... – murmurou Nair de braços estendidos para frente feito um zumbi e começou a subir as escadas. – Quero sua alma...
- V-Você está morta!... – gaguejou a governanta perplexa e se recuando trêmula. – E-Eu não queria fazer aquilo, eu juro!
Dona Nair levantou a cabeça para ela e sorriu maliciosamente.
- Vou levar você comigo para o cemitério! – e correu até ela. Claudete disparou a correr aos gritos pelo corredor e se enfiou no quarto do seu patrão.
- SENHOR TAYLOR! ACORDE! O FANTASMA DE DONA NAIR QUER ME PEGAR! SOCORRO! – ela tentava acordá-lo desesperadamente, olhando para a porta com medo de o fantasma atravessar a porta e pegá-la. O senhor Taylor resmungou na cama e abriu os olhos cansados.
- O que você quer... senhora Claudete?... – e rolou na cama, voltando a dormir.
- Por favor, acorde, o senhor tem que me proteger! O espírito da senhora Nair que me levar para o cemitério!
O velho levantou indisposto e calçou os chinelos.
- O que está dizendo?
Claudete tremia toda e apontava para a porta fechada.
- Vai lá ver, pelo amor de Deus! Ela deve estar esperando por mim, senhor Taylor.
O senhor Ronaldo Taylor vestiu seu roupão e abriu a porta e espiou pelo corredor.
- Não tem ninguém aqui, senhora Claudete!
- M-Mas ela estava me seguindo! Eu juro! – gritava ela.
- Você deve ter tido um pesadelo e... – o comentava, mas a porta foi aberta de repente e Claudete gritou se atirando debaixo da cama.
- ELA NÃO VAI ME PEGAR!
Elisabeth entrara no quarto e abraçou o avô.
- Bom dia, vovô! – ela o largou e se abaixou para espiar debaixo da cama do avô. – O que ela está fazendo aí debaixo de sua cama, vovô?
Claudete olhou para o rosto da menina que lhe sorria maliciosamente e ficou desconfiada.
- Eu acho que Claudete teve um pesadelo, Elisabeth... bem agora que todos estão acordados, vamos descer...
Elisabeth se levantou e informou em voz alta e ensaiada.
- Vamos tomar café vovô, a Dona Nair fez um bolo de fubá que está uma delícia!
Claudete viu os pés do seu patrão cruzando a porta aberta e Elisabeth abaixou novamente para espiá-la.
- Bem feito para você! – e saiu aos pulos rindo da cara da governanta.
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