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A páscoa de Elisabeth Lisle - Cap. 5
O Secreto Castelo da Páscoa
Clayton JC

Elisabeth estava andando entre os escombros do que foi o túnel pouco momentos atrás. Havia se machucado no braço por causa do pulo rápido. Teddy e Medd não viu o momento em que ela saltou para cima. Foi tudo muito rápido. Elisabeth conseguiu entrar num buraco e se segurou numa corda que havia ali, e ficou pendurada enquanto as vigas de madeira despencavam onde estavam seus companheiros. Ela havia gritado por eles, e chorou bastante imaginando no que podiam ter acontecidos com os irmãos coelhos.
     Depois se soltou e começou a andar por cima dos escombros, tentando encontrar seus amigos, mas temendo encontrá-los mortos.
     - Teddy! - chorava ela, e tossia por causa da poeira que se levantou. - Medd! Onde estão vocês?
     Ela escutou um movimento atrás dela e virou. Estava bem escuro, mas sua visão conseguia ver alguma coisa além das trevas e poeiras. De repente um barulho de motor e um raio de luz atingiu seu rosto. Elisabeth pensou ser o louco coelho que estavam atrás deles e tentou fugir, caiu e machucou a perna.
     - Ai! - gemeu ela. Uma figura grande vinha em sua direção. Ela não conseguia ver o rosto da coisa, mas sentiu um cheiro desagradável, e lembrou ser de umas plantas horríveis. Claudete parou uns metros da coelha no chão. A governanta estava ali, com uma lanterna em mãos.
     - O que temos por aqui? - disse ela, mirando a luz em Elisabeth. - Um coelho desprotegido...
Elisabeth tentou ficar de pé, mas a dor era bastante e não conseguiu.
     - Claudete! - a governanta escutou a voz de Elisabeth vindo de sua frente.
     - Elisabeth? - olhou desconfiada para a coisinha branca e vestida em seu caminho.
     - O que você está fazendo aqui? - perguntou a coelhinha.
     - Então você virou uma coelha... que engraçadinha. Mas acho que a diversão acaba aqui. Você terá que ir embora para o colégio interno, ou pelo jeito a um zoológico! - disse ela maliciosamente.
     - Eu não vou a ter saber por que você está caçando os coelhos!
A governanta riu.
     - Você não está em condições nada boas para ter escolhas, sua pirralha orelhuda! Você teve sorte de não ter morrido nesse desabamento... e sorte ainda de eu ter encontrado você, sua pestinha.
     - Por favor, Claudete, me conte porque você está fazendo isso? - implorou ela com muito esforço.
     - Seus amigos coelhos não disseram o motivo, não é? - riu de maldade. - Sua mãe sabia e me impediu de pegar esses miseráveis coelhos... e você é a única que não sabe!
     Elisabeth ficou chocada.
     - Você está mentindo... só pode estar... - não quis acreditar. - Você a odiava... odeia todo mundo!
     - Não vou dizer nada pra você... e se quiser saber de mais coisas deve ler o diário que sua mãe escreveu... - disse ela, se aproximando. - Oh, que cabeça minha, esqueci que já não tenho mais ele em minhas mãos.
     Elisabeth sentiu uma raiva a dominá-la.
     - O que foi que você fez?...
     - Eu não fiz nada, mas o fogo fez!... - e gargalhou de maldade. Elisabeth se levantou com uma força e pulou no braço dela, lascando uma mordida.
     - AAAI! - gritou ela e Elisabeth foi jogada pro lado. - Você não devia ter feito isso, sua pirralha!
     Mas ela parou de falar quando escutou uns gritos vindo de algum lugar próximo a elas. Os gritos chegavam mais perto a cada segundo. Ela virou rápida e apontou sua lanterna e sacou sua pistola da cintura.
     - Quem está aí?! - ela estava preparada para eles. - Se são vocês, coelhos desgraçados, eu tenho uma coisinha esperando por vocês!
     Os gritos se misturaram com uma zoeira esquisita agora, e Claudete identificou que o barulho lembrava algo como de asas, muita asas...
     Do poço ao lado saíram milhares de morcegos enormes e sobrevoaram assustados na direção de Claudete que atirava contra os voadores.
     - Malditos!... - ela se protegia como podia. Ela levantou a cabeça e olhou para trás satisfeita. - Foram embora...
     Mas para sua surpresa ela viu o que tinha feito os morcegos saírem do poço em fuga e não gostou nada do que vinha em sua direção. Uma enorme aranha negra, de dois metros de altura e de enormes patas peluda corria desesperada por causa da luz do farol do jipe à frente.
     - Meu Deus do céu! - exclamou Claudete, e apertou o gatilho na direção da aranha. Mas acabaram as balas. - Saia daqui! - gritou ela em desespero, recuando para a parede.
     - Você será a minha janta! - falou a enorme aranha. - Vou comer você durante um mês todinho!
     Elisabeth levantou a cabeça e viu a cena que se seguia. Conheceu a voz grossa e riu ao saber de quem pertencia. Era de Medd.
     - Eu não quero virar comida! - chorava Claudete. Elisabeth nunca vira a governanta em pranto antes, e riu porque sabia que não era a aranha giganta que falava.
     - Então suma daqui imediatamente, e deixe a coelha para mim! - a voz da suspeita aranha mudou repentinamente.
     - Sim! - concordou a governanta fugindo apressadamente, e pulou feito uma coelha os escombros, e montou no jipe, saindo cantando os pneus.
     Teddy e Medd saltaram de cima da aranha e ela correu de volta para a sua toca, que era o poço escuro.
     - Até mais dona aranha! - gritou Medd.
Teddy pulou até onde estava Elisabeth ferida.
     - Que bom que está bem... - disse ela.
     - O mesmo digo pra você! - e ele ajudou ela se levantar. - Você não consegue andar... terei que carregar você até a sua casa e...
     - Não! Se fosse para eu voltar teria ido com a Claudete! - falou ela rispidamente. - Porque vocês me resgataram então?
     Teddy ficou sem jeito de falar.
     - Você me salvou da armadilha e achei que lhe devia o mesmo favor.
     - Eu te acho um idiota! Não quero mais vê-lo seu... - e Teddy fez ela parar de falar quando a beijou na boca. Foi um beijo rápido. Teddy ficou vermelho de vergonha. Elisabeth ficou olhando para ele, surpresa.
     - Foi por isso que eu resgatei você... - disse ele olhando para o chão.
Medd riu atrás e exclamou.
     - Está apaixonado! Teddy está apaixonado por Elisabeth!
     - Cale essa boca seu... - ele virou para esganar o pescoço dele novamente, mas sentiu a mão dela lhe segurar no braço. Ele encarou os olhos brilhante de Elisabeth todo nervoso, com o coração pulando mais rápido.
     - É verdade isso então? Você me resgatou porque está...
     De repente um vulto apareceu e eles olharam assustados para a coisa que chegava. Era uma coelha adulta, acompanhada por um coelho de bigode e com uma cartola rosa na cabeça, usava óculos de lente fina e um terno amarelo com gravata vermelha. Suas orelhas eram dobradas de lado. Os dois ficaram parados vendo os três coelhos olhando assustados a eles.
     - Ferramos!... - disseram Teddy e Medd juntos.

Os coelhos adultos que apareceram eram os responsáveis por Teddy e Medd, e ficaram aborrecidos com a aventura deles na mina. Ficaram mais aborrecidos ao saber que a coelha era na verdade uma menina.
     - Vocês são uns irresponsáveis! - gritou o coelho, banhando os coelhinhos com cuspe que saía de sua boca. - Vocês não fazem a ideia do grave problema que nos meteu!
     Elisabeth só assistia de lado, enquanto a coelha examinava seu braço e perna.
     - Professor Pascoal... - chamou ela.
Ele, porém não a ouviu e continuava a dar seus sermões.
     - Agora vocês conseguiram o que queriam, não é mesmo? Vocês são umas pragas sem recuperação!
     - Professor Pascoal! - ele olhou para a coelha surpreso.
     - Não precise gritar, senhora Mirla, eu não sou surdo!
A coelha pegou Elisabeth no colo.
     - Ela está incapaz de andar... suponho que teremos que levá-la conosco.
A cartola rosa do professor Pascoal deu um salto para trás, e ele quase desmaiou.
     - Levar para o?... - gaguejou ele.
     - Ela não pode voltar para a casa dela dessa forma, não acha? - perguntou à senhora Mirla indignada com a reação dele. O professor. Pascoal abaixou irritado por tomar a decisão menos certa e pegou sua cartola, enfiando em sua cabeça.
     - Satisfeitos agora? - dirigiu-se ele aos coelhos. Teddy abaixou a cabeça, mas não de arrependimento. Ele sorria por ela poder ir com eles.
     Eles então começaram a caminhar. O professor. não parava de reclamar dos atos cometidos pelos coelhos.
     - Vocês não podiam ter ido lá em cima, não podiam! Veja agora a encrenca em que nos metemos...
     Elisabeth estava ouvindo tudo no colo da senhora Mirla, que demonstrara ser uma boa coelha.
     - Com licença, senhor Coelho... - ela falou alto, já que sabia que ele não escutava bem quando estava numa discussão.
     - Quem disse isso? - ele parou assustado e girou para os lados. - Vocês escutaram também? Acho que estamos sendo seguidos, e... - se desesperou ele. A senhora Mirla balançou a cabeça inconformada.
     - É a garota, professor... - avisou ela. Pascoal olhou para a coelhinha ainda mais preocupado, como se achasse a ideia de ser perseguido uma solução mais fácil para se lidar, do que confrontar uma humana transformada em coelha.
     - Pois não... - temeu ele.
     - O que tipo de encrenca o senhor se refere? É tão grave assim?
Ele desequilibrou nos passos e tremeu todo como se tivesse sofrendo um ataque. A senhora Mirla olhou para ele, e ele balançou a cabeça, tentando se mostrar calmo.
     - Não se preocupe menininha... nada vai acontecer com a gente... só estou falando isso por estar muito zangado com esses dois...
     - O senhor está mentindo! - ela o acusou e ele caiu de cara no chão. - Diga a verdade!
     - Mas... mas que coisa... tropecei numa pedra! - comentou o professor enquanto tentava se levantar do chão, controlando seu desespero pela curiosidade da garota.
     Medd olhou para trás.
     - Mas não tem pedra alguma, professor... - ele comentou e recebeu um cascudo dele na cabeça.
Elisabeth ia tirar aquela história a limpo, e não se importou se o professor ia gostar ou não.
     - A senhora Claudete está atrás de vocês desde a época em que minha mãe estava viva. Minha mãe sabia disso e impediu que vocês fossem capturados por ela. É verdade tudo isso?
     Todos ali fizeram um silêncio profundo, e o professor. Pascoal tentava andar sem cair para os lados.
     - Por favor... - implorava Elisabeth. - Eu tenho o direito de saber o que aconteceu...
     - Não aconteceu nada, minha querida... - falou a coelha Mirla carinhosamente.
     - Eu sei que vocês estão escondendo a verdade de mim! Eu queria saber... - mas parou de falar por achar que ninguém ia revelar nada. Ela chorou, mas ninguém quis comentar nada. Teddy andava olhando para o chão, enquanto Medd olhava surpreso para o professor e Elisabeth.
     Eles viraram para o túnel onde estava à porta, e eles passaram por ela novamente, chegando à plataforma dourada.
     - Finalmente! - exclamou o professor feliz. - Agora vamos para a casa...
Havia duas bolhas que flutuava meio palmo do chão, e o professor veio empurrando uma até a senhora Mirla com Elisabeth no colo. Elisabeth sentiu quando entraram para dentro da bolha, o ar ali dentro aquecido e confortável.
     Ela viu do lado de fora o professor pegar os coelhos pelas mãos e fazer o mesmo na outra bolha.
Logo eles estavam subindo para cima numa velocidade chocante. As duas bolhas voaram para a noite e acima das copas das árvores lá embaixo.
     - Para onde estamos indo, senhora Mirla? - perguntou Elisabeth sentindo-se sonolenta.
     - Não faça pergunta agora, querida... tente descansar um pouco, amanhã você pergunta, tá?
Elisabeth não queria fechar os olhos. A coelha olhou para ela e sorrindo assoprou a sua carinha cansada, e seus olhos se renderam ao sono.

Elisabeth acordou e sentiu-se melhor. Viu que se encontrava numa cama macia e estava de roupa de dormir. Havia ao seu lado uma mesa com um delicioso café da manhã, com frutas e pães, chá e leite puro. O quarto era oval e as paredes de tijolos coloridos, que mudavam de cores quando era tocada.
     - Onde estou? - ela se perguntou e saiu da cama. Foi até o espelho e viu que ainda era coelha.
Ela virou quando escutou alguém bater na porta. Sem saber o que fazer, mandou entrar.
     - A porta está trancada! - respondeu uma voz irritada do lado de fora. Elisabeth correu até a porta e girou a chave, destrancando-a, e abriu a porta devagar.
     Elisabeth viu um coelho adulto na vão da porta e não era o professor. Pascoal. Este tinha uma cara de poucos amigos e usava terno e calça social da mesma cor. Tinha uma mancha vermelha na testa e bigodes espetados para os lados.
     - Bom dia... - arriscou ela sem saber o que ele queria, e quem era ele. Ela espiou discretamente ao lado e viu a cabeça de Teddy por trás de um vaso enorme. Ele fez sinal pra ela.
     - Então você é a nova visitante, não é? - Teddy fez sinal para ela concordar.
     - Sim... sou – ela obedeceu sem saber o que significava tudo aquilo.
     - Sou o diretor desse castelo, e minha função é conhecer todos que aqui entram, entendeu?
Elisabeth ficou surpresa.
     - Estamos aonde?
     - No castelo da Páscoa! - se irritou por ela lhe fazer perguntas. - Então como eu ia dizendo... você terá que se comportar enquanto ficar aqui, isso é, até amanhã cedo.
     - Eu vou embora amanhã cedo?
O coelho diretor ficou espumando de raiva. Ele não gostava de responder perguntas de crianças.
     - Você tem que vestir a roupa de visitante e usar o crachá de identificação! - e saiu pisando firme, resmungando para os cantos.
Teddy saiu de trás do vaso e veio aos pulos perto de sua amiga.
     - O que significa isso, Teddy?
     - Estamos no castelo. Você não se lembra porque dormiu quando chegamos hoje de madrugada – avisou ele.
     - Eu escutei ele falando que estamos no castelo da Páscoa?
Teddy ficou calado e Elisabeth o empurrou contra a parede.
     - Chega de esconder as coisas de mim! Ou você fala ou eu vou procurar a quem possa me dizer alguma coisa! - Teddy estava apreensivo com a reação dela.
     - Tudo bem... mas será que você pode me por no chão? - ela não tinha percebido que o levantara do chão.
     - Me desculpe... eu não tinha visto... - ficou sem graça.
     - Quer dar uma volta comigo? - perguntou ele sem jeito.
     - Quero – ela lhe deu a mão. - Conte-me no caminho.
Eles começaram a andar pelos corredores cumpridos, e Teddy revelava alguns segredos.
     - Aqui é o castelo, e aqui se fabrica chocolate.
     - Chocolate?! - ficou admirada.
     - Bem, só fabricamos ovos de chocolates para o dia da Páscoa, entende?
     - Nossa que maravilha... é como se fosse a casa do Papai Noel, não é?
     - Mas ou menos isso. O professor. Pascoal é o quem cuida para que os ovos de chocolate estejam bem gostosos para o dia da Páscoa... - Medd veio aos pulos e entrou no meio da conversa revelando.
     - Ele é também o que criou a receita secreta e... - Teddy grudou na sua boca.
Elisabeth os separou.
     - Teddy todas as vezes que Medd vai contar alguma coisa você tenta impedi-lo! - a revelou.
     - Mas Medd é um mentiroso... e diz isso para chamar sua atenção... - disse ele se defendendo.
     - Você não confia em mim, não é? Por isso todos vocês me impedem de saber da verdade...
Teddy viu que ela ficou bem triste, e tentou consolá-la.
     - Elisabeth não é isso, eu juro... mas eu não... Espere! - gritou ele quando ela começou a se afastar pulando pelo corredor. Teddy começou a pular, mas acabou dando de frente com o rabugento do diretor do castelo que saiu de uma porta.
     - Mas o que está acontecendo por aqui? - disse ele entre os dentes, se levantando do chão.
Medd ria e parou quando os olhos do diretor encararam-nos, e de fininho se retirou.
     - Me desculpe senhor Genésio, e que eu não o vi... - apressou ele em se desculpar e sair atrás de Elisabeth antes que ela entrasse em novas encrencas.
     - Então quando eu não estou por perto você aproveita e faz o que bem desejar, não é?
     - Não é isso...
     - Chega! - levantou o dedo sobre a boca e Teddy calou-se. - Quero você limpando o saguão principal.
     - Posso começar agora então? - perguntou ele ansioso em poder sair.
O diretor olhou desconfiado para ele.
     - Você detesta cumprir detenções... porque esse interesse rápido em cumpri-lo?
     - Bem... eu não queria perder a aula da professora Cenoca!
     - Ah, sim... é bom você não faltar a explicação da senhorita Cenoca...
Teddy ia começar a correr pelos corredores, e o diretor pigarreou alto. Ele moderou nos passos e caminhou assoviando, sabendo que estava sendo visto pelo diretor. Ele viu que tinha duas saídas, uma pela direita e outra pela esquerda.
     Apurou seu focinho para o alto e aspirou o ar parado e logo o seu olfato detectou o cheiro de Elisabeth e começou a pular para o corredor esquerdo.
     
     Elisabeth parou de pular quando chegou num imenso salão com o chão cristalizado.
Uma coelha velha vinha empurrando um carrinho de toalhas. Elisabeth correu até ela.
     - Com licença... a senhora podia me dizer aonde estou?
Ela não levantou a cabeça para responder.
     - Está no castelo...
     - Bem eu sei, mas quero saber em que parte do castelo – especificou melhor ela, acompanhando a coelha que ia diretamente de frente a parede lisa avermelhada.
     - Você não é daqui?
     - Sou uma visitante... estou meia perdida.
A coelha ainda empurrava o carrinho direto a parede, e não olhava para onde seguia.
     - Senhora, você vai dar de frente com a parede. Pare o carrinho! - alertou Elisabeth, mas a coelha adulta riu e falou.
     - Terceiro andar. Corredor sete. - e apareceu uma porta bem no momento em que o carrinho ia se chocar na parede, e ela entrou para um compartimento que magicamente se instalou ali.
     Elisabeth ficou parada de boca aberta, enquanto as duas partes da porta se fecharam, como um elevador, e logo a parede se fechou, voltando como era antes.
     Ela começou a examinar a parede sólida e apurou os ouvidos nela para poder ouvir além de sua espessura.
     - O que você está tentando escutar? - sobreveio uma voz atrás dela, e ela pulou de susto.
Elisabeth virou e deu de cara com Medd, comendo uma cenoura marrom.
     - O que é isso? - perguntou ela, se recuperando do susto. Medd estava com a boca toda manchada.
     - Cenoura de chocolate – informou ele, comendo o resto sem oferecer. - Você queria?
Ela balançou a cabeça, triste.
     - Eu nunca comi chocolate...
Medd engasgou com o doce ainda na garganta e cuspiu na parede. Elisabeth fez careta de nojo.
     - Não diga uma loucura dessa aqui no castelo da Páscoa! - gritou ele, como se ela tivesse dito uma ofensa gravíssima.
     - Eu só falei a verdade. Eu nunca comi chocolate antes.
Medd puxou as orelhas indignado e gritava feito um louco.
     - Chocolate é a coisa mais sagrada por aqui! Você deveria saber que é aqui que fabricamos os melhores ovos de Páscoa do mundo! Que milhares de crianças pobres e órfãs, e famílias que acreditam na nossa existência nos esperam ansiosamente na noite de Páscoa!
     Elisabeth ficou interessada. Sabia que Medd gostava de falar das coisas, ainda mais das coisas que ela podia se interessar.
     - Então esse castelo fabrica ovos de chocolates para entregar a todos que acreditam em vocês?
     Medd parou de se torturar, e falou todo sabichão.
     - Sim! É como se a gente fôssemos os duendes do Papai Noel, e o professor. Pascoal o senhor Noel, entende?
     - E esse castelo fica escondido debaixo da terra, não é?
     - Mas claro que não!
     - Não? Mas onde esse castelo fica então? - a estranhou.
Medd ficou mudo, e achou que não deveria falar.
     - Você não sabe nada, e fica se achando que sabe de tudo! - provocou ela. - Bem que o Teddy disse...
     - O que foi que aquele paspalhão disse? - se irritou. Elisabeth deu as costas a ele, rindo.
     - Não devo contar, já que você não confia em mim...
     - Esse castelo por fora é uma espécie de uma montanha... Mas na verdade é o nosso escudo secreto para os humanos não nos encontrarem – acabou dizendo.
     Elisabeth deixou escapar um gritinho de “OH!” e ela foi levada para uma recordação.
     Estava vendo com o seu avô a montanha e o seu pico onde exalava uma fumaça marrom.
     “ ...O que é aquilo vovô”?
     “...É um vulcão, Elisabeth... e lá é muito perigoso para ir... - dizia ele seriamente. - Você tem que prometer nunca ir até lá...”
     Elisabeth no presente começava a mergulhar nas lembranças que surgira naquele meio tempo. Agora estava vendo o seu avô gritando quando estava escapando do seu quarto com os irmãos coelhos.
     “ ...Elisabeth não faça isso, por favor, você não sabe da história horrível que aconteceu!...”
Aquilo tudo queria se resumir numa história de um segredo muito bem protegido, e que não podia ser revelado a ela...
     “ ...Seus amigos coelhos não lhe disseram o motivo, não é? Sua mãe sabia e por isso me impediu de capturar esses miseráveis coelhos... e você é única que não sabe?” - ria Claudete na sua lembrança.
     Medd estava preocupado com a reação de Elisabeth.
     - Você está bem?...
Ela virou para ele, com o rosto iluminado em lágrimas.
     - De novo chorando? - choramingou Medd e abraçou-a sem entender.
Teddy chegou apressado no local e derrapou quando viu o irmão abraçado com Elisabeth. Era um abraço carinhoso... Ele teve vontade de gritar até sua voz se perder, mas sentiu-se fraco e deixou eles sem atrapalhar aquele momento especial...
     - Ai Medd como meu coração dói... - murmurou ela. Medd ficou desesperado.
     - Você precisa de um médico então!
     - Não... eu me refiro a uma dor incurável a ser tratada por médico... - dizia ela, enxugando as lágrimas com as mãos. - É uma dor emocional...
     - Você precisa de um chocolate quente! Vai se sentir bem melhor... - disse Medd tentando animá-la um pouco. - Venha comigo... venha, por aqui... - ele a conduziu para a parede e Elisabeth já imaginava o que ia acontecer a seguir. Uma porta apareceu na parede quando Medd disse um nome que ela não entendeu muito bem, e entrou junto com o amigo, e as portas se fecharam.
     Ela sentiu o elevador subir e sabia que aquilo devia ser todo mágico. O castelo era encantado e os coelhos usavam desse conhecimento para se mover ali dentro. Eles sentiram o tranco e as portas se abriram. Eles saíram e a parede lisa se fechou atrás deles.
     - Esse castelo é fantástico!... - a comentou.
     - Mas fantástico é o chocolate que ele fabrica! - revelou Medd lambendo os lábios. Eles viraram um corredor e pararam numa portinha em forma de um corpo de coelho.
     - Que interessante... - disse ela. Medd fez pose igual o formato da portinha e entrou. Elisabeth também conseguiu.
     - Estamos na sala flutuante! - o apresentou, esperando que ela se maravilhasse. Mas não havia nada na sala, exceto eles e as paredes com botões de apertar.
     - O que exatamente é isso, Medd? - a estranhou. O coelho se aproximou de um botão quadrado e disse.
     - Se você apertar o botão quadrado acontece isso! - ele acionou o botão verde e ele foi jogado para o alto e o teto era bem lá no alto mesmo, então Elisabeth deixou a curiosidade de lado e apertou o botão verde. Ela gritou quando seu corpo voou para cima como um foguete!
     - Que legal!... - gritou ela. - Mas como faz para parar?
     - Você tem que apertar o botão triângulo! - respondeu ele e se chocou no teto e desceu tão rápido quanto subiu. Elisabeth gritou e tampou os olhos para não ver o que ia acontecer, mas o teto não era sólido como os demais eram, parecia uma cama-elástica e ela foi jogada contra a parede também elástica. Ela se sentiu como uma bolinha de pingue-pong! De lá e pra cá...
     Ela viu um botão em forma de triângulo e conseguiu apertá-lo. E ela foi puxada para a parede como se fosse um metal atraído por um ímã.
     - O que está acontecendo Medd? - perguntou ela grudada na parede feita uma lagartixa.
Medd havia apertado um triângulo também e corria sobre a parede, e não caia dela.
     - Faça o mesmo Elisabeth! Confie em mim, isso é divertido! - ele ria. Ela tentou ficar em pé, e conseguiu se equilibrar.
     - Nossa! Até pareço uma menina-aranha! - e rindo começou a andar, até que sentiu confiança para dar uns passos e depois não resistiu, dando uns pulos.
     - Vamos apostar uma corrida até lá embaixo? - sugeriu Medd ficando ao seu lado.
     - Vamos! - e eles começaram a correrem rápidos um ao lado do outro.
Eles pararam bem a tempo de dar de corpo no chão. Medd estendeu a mão e apertou um botão em forma de circulo, e teve seus pés soltos da parede. Elisabeth também se livrou.
     - O que achou disso? Não é legal? - indagou Medd com um sorriso emocionante.
     - É sim... mas eu não quero repetir novamente, não tão cedo... - se aliviou.
Medd apertou um coração que pulsava na parede e duas almofadas grandes e macias cresceu do chão.
     - Para descansarmos um pouco enquanto deliciamos com o nosso chocolate quente! - e ele deixou se afundar na almofada grande. Elisabeth também deixou afundar o traseiro de coelha na almofada. Ela estava na maior expectativa. Nunca tinha visto coisa igual e aquele momento estava sendo um sonho mágico pra ela.
     Do teto brotaram duas taças de prata e caíram para baixo.
Medd esticou a mão e Elisabeth também. Ambos pegaram as taças bem quentes e o vapor delicioso subia da borda cheia de um liquido marrom e espumoso.
     - O melhor chocolate quente do mundo! - e levantou sua taça para brindá-lo com Elisabeth.
Ela não estava acreditando no que segurava. Ela olhou fascinada para Medd e levantou à taça, eles brindaram sorrindo.
     - A nossa amizade! - ofereceu Medd.
     - Sim, a nossa amizade... - e juntos tomaram um bom gole do puro chocolate.
Elisabeth nunca imaginou o quanto era saboroso um chocolate... mas se ela tivesse comido chocolate antes, não teria o mesmo gosto como aquele.
     - Nossa... eu estou fascinada... - a revelou, e tomou mais.
Medd arrotou e limpou os bigodes satisfeito.
     - É sempre bom tomar chocolate quente!











Biografia:
Amo escrever e peço que leiam meus livros. Obrigado.
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