Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
A páscoa de Elisabeth Lisle - Cap. 8
O Erro do Senhor Ronaldo Taylor
Clayton JC

Elisabeth viu a cenoura caída perto dela e foi até ela, recolheu-a do chão e a cheirou. Não tinha certeza se foi Medd quem atirou-a contra o vidro do jipe de Claudete, mas se não fosse por aquela cenoura ela não estaria mais viva para contar história. Ela olhou pro lado e tentou ver qual era o melhor ponto para se esconder e atacar ao mesmo tempo. Ela suspeitou de uma árvore na encosta da estrada, e foi até lá. Por de trás do tronco não havia pegada alguma de coelho, mas ela percebeu que um pequeno objeto brilhava no chão. Abaixou e pegou. Um brinco de pequenas pedrinhas de brilhante, que formava uma pequena cruz.
     - Um brinco?... - estranhou ela. - Será que já estava aqui ou pertence de quem me salvou?Aquela seria uma resposta difícil de saber. Ela enfiou no bolso de sua camisola e caminhou para a porta da cozinha.
     Apertou a campainha. Dona Nair demorou para chegar e perguntar quem era. Elisabeth acenou pra ela e sorriu quando um rosto embaçado espiou através do vidro grosso da porta. Dona Nair não teve certeza de quem podia ser, mas abriu a porta acompanhada por um rolo de amassar pão acaso fosse um doido.
     - E-Elisabeth?! - ela deixou o rolo cair e mais do que rápido abriu o restante da porta e abraçou a menina a sua frente em lágrimas no rosto. Beijou-a muitas vezes e verificou se era mesma a menina desaparecida. - Graças a Deus! Você está bem. Você está bem, não está? - se preocupou.
     - Sim – disse ela e depois entrou para dentro. - Onde está vovô?
     - Mas porque você desapareceu, menina?! - disse a cozinheira nem prestando atenção na pergunta dela. - Você deixou todos preocupados!
     - Aposto que Claudete não ficou nada preocupada! - disse ela e sentou na cadeira, e Nair tirou da geladeira um pires de torta de morango com pêssego.
     - Não diga bobagens, menina... todos ficamos preocupados com você! Até mesmo ela, já que seu avô ameaçou despedir todos da casa se você não aparecesse!
     Elisabeth não fez cerimônia ao devorar o doce servido a ela bem na hora certa.
     - Por onde você esteve?
     - Não posso falar... - disse ela de boca cheia.
     - Coma e depois me fale.
Ela engoliu e limpou a boca com o guardanapo.
     - Lamento, mas não quero falar sobre isso. Desculpe – ela se levantou e caminhou para a sala, deixando dona Nair de boca aberta. Elisabeth havia percebido que seu avô não estava na casa. Talvez estivesse na delegacia da cidade procurando saber de notícias de seu desaparecimento.
     Ela resolveu subir para o seu quarto e esperar seu avô por lá. Ela subiu rapidamente e no caminho teve vontade de entrar no quarto da governanta, mas a porta estava trancada. Teria mesmo ela queimado o único diário de sua mãe? Novamente as lágrimas encheram os olhos dela e ela correu para o seu quarto, e pulou sobre a cama, agarrando-se aos travesseiros.
     Do lado de fora ela pôde escutar os gritos de raiva da Galinlaura, e pedidos de desculpas de suas seguidoras.
     Elisabeth não queria ouvi-las e fechou as cortinas, deixando o quarto mais escuro ainda.
     Dormiu um pouco, mas acordou muito magoada. As lembranças de seus amigos coelhos não paravam de vir e ir a sua mente. Podia ver Teddy lhe sorrindo, de mãos dadas a ela... depois vê-lo muito zangado com ela.
     - Por que ele não gosta mais de mim?... - e ela sentiu uma imensa saudade dele. Escutou um carro estacionando lá fora. Ela espiou pela cortina da sua janela e viu que era o carro de seu avô.
     O senhor Taylor entrou para dentro e dona Nair veio correndo na maior felicidade.
     - Ela voltou, senhor Taylor! Elisabeth voltou!
Ele ficou parado e sorriu.
     - Onde está ela agora? Diga-me logo!
     - Lá em cima, no quarto! - ele subiu os degraus correndo ansioso em vê-la, e a cozinheira suspirou lá embaixo aliviada, e saiu mais leve para preparar a janta.
     O senhor Taylor chegou até a porta fechada e se deparou um instante nela e ficou esperando se abria ou não. Mas a porta se abriu e Elisabeth ficou na porta olhando-no. O senhor Taylor tremeu e caiu de joelhos e abriu os braços, os olhos se enchendo em lágrimas. Elisabeth o abraçou fortemente, e ele se levantou, carregando sua neta no colo feliz.
     - Oh!... - suspirou ele. - Como fiquei desesperado, eu...
     - Me desculpe, vovô... eu sei que errei em ter fugido...
Ele não teve coragem de repreendê-la naquele momento e afagou seus cabelos com sua leve mão.
     - Não se preocupe, você está aqui e está bem... isso é o que importa...
Ele a levou para a cama e ficou sentado com ela ali.
     - Vovô? - Ela olhou para ele.
     - Eu sei o que vai me perguntar... - falou ele, tentando sorrir. - Quando você partiu com eles, eu fiquei preocupado o quanto você ia descobrir sobre o passado de seus pais. Me desculpe por não ter tido a coragem de lhe contar antes, mas era muito doloroso para mim...
     Ela o via desabafar, e sentiu pena do avô.
     - O senhor ainda vai me mandar para o colégio interno? - perguntou ela preocupada.
     - Não, claro que não... eu fui um louco por decidir aquilo. Não precisa mais se preocupar...

Claudete chegou em casa toda suja de terra, com a roupa cheia de mato e espinhos silvestres. Dona Nair não contou que Elisabeth tinha aparecido, pois sabia que a única que não merecia essa novidade era aquela mulher ranzinza e brutamonte.
     Claudete foi imediatamente para o banheiro e tomou um banho bem quente e demorado. Vestiu uma roupa nova e saiu do banheiro direto para a cozinha. Teve uma repentina surpresa desagradável.
     - E-Elisabeth? - gaguejou ela, parada como se estivesse diante de um fantasma. A menina lhe sorria maliciosamente. O senhor Taylor esfregou as mãos e indicou o assento de Claudete na mesa. Ela se recuperou do susto repentino e se sentou. - Que bom que está bem... ficamos preocupados.
     Elisabeth fez uma careta pra ela sem seu avô perceber, e Claudete arregalou os olhos de fúria e lhe mostrava os dentes. Dona Nair chegava com as panelas e serviu os pratos.
     - Preparei uma torta de maracujá para comemorar essa noite! - informou a cozinheira feliz.
Eles jantaram e depois de comer uns pedaços da torta foram descansar. O senhor Taylor pegou um livro e abriu para ler para a neta na biblioteca.
     Claudete esperou que todos estivessem distantes e pegou o telefone e discou um número.
     - Alô? Sim, sou eu... ela voltou. A menina voltou e parece estar bem... - e depois desligou o telefone e subiu as escadas sorrindo estranhamente.

Elisabeth deu um beijo no rosto do avô e subiu para o quarto. Ela deitou na cama e ficou olhando para o lustre. Como queria que ele abrisse a entrada secreta e vesse seus amigos Medd e... Teddy.
     Ela rolou de lado e tentou esquecê-los, mas não conseguia. Tinha saudade do castelo da Páscoa e da coreografia dos coelhos, e da música alegre deles... e principalmente do maravilhoso gosto do ovo da páscoa! Ela suspirou e ainda podia sentir o gosto do chocolate na língua... Ia outra vez comer chocolate na vida? Ela não sabia responder. Fechou os olhos e dormiu amargurada.
     Teve sonho com seus amigos coelhos naquela noite e acordava esperando que eles estivessem ali ao seu lado, mas não. Lá pra seis horas o galo cantou lá fora:
     - Que belo dia é hoje! Dia para aproveitar o dia! - ele era um péssimo cantor.
Elisabeth espreguiçou-se levantando da cama e afastou a cortina da janela e viu o dia claro lá fora. Abriu a janela e viu as galinhas encrenqueiras em cima do galinheiro. Galinlaura dava ordens.
     - Galimara! Ande logo, corra e bate as asas! - e a galinha de penugem rocha fechou os olhos e correu para voar, mas caiu de bunda no chão.
     - Vamos, meninas! Temos que aprender voar para atacar os coelhos! - berrava ela. Elisabeth riu e acenou para elas. Galinlaura disfarçou e as outras galinhas também.
     Elisabeth abriu a janela e gritou lá de cima.
     - Você ainda quer saber onde fica o castelo da Páscoa?
As galinhas reagiram surpresas. Galilita tremia de medo.
     - Comandante! A humana está falando com a gente!
     - Eu sei assistente! - e ela olhou de volta para a menina. - Como você sabe que estamos procurando o castelo da Páscoa?
     Elisabeth preferiu não falar que era na verdade aquela coelha que elas aprisionaram ontem a tarde, e disfarçou.
     - Bem, eu só imaginei... mas se não querem que eu diga, tudo bem então... - ela se afastou e Galinlaura gritou lá de baixo.
     - ESPERE! - Elisabeth voltou sorrindo. - Conte!
     - Eu não sei exatamente a entrada secreta do castelo, eu juro! Mas o castelo fica escondido dentro daquela montanha.
     As galinhas seguiram o dedo dela e viram lá no horizonte distante a montanha alta.
Galinlaura olhou bem para a montanha e depois virou para agradecer a menina. Mas ela já não estava mais na janela.
     - Comandante... vamos acreditar na humana? - perguntou em dúvida Galilita.
Galinlaura se estufou o peito e levantou a asa para cima.
     - Vamos arriscar! - e correu se preparando para decolar. As galinhas torciam para sua representante e Galinlaura saltou e bateu assas no ar, e voava confiante. - Estão vendo! Eu posso voar!... - ela gritava olhando para suas companheiras lá atrás. Mas ela não viu o que estava parada a sua frente e deu de cara no traseiro da vaca Iolola. As galinhas tamparam os olhos para não ver o que acontecia em seguida. Galinlaura foi coberta pelo estrume verde e mole da vaca que, suspirou aliviada e saiu assoviando.
     Galilita se aproximou com nojo.
     - Comandante? Você ta aí? - perguntou ela para o monte de estrume em cima de sua líder.

Elisabeth arrumou sua cama e desceu para tomar café da manhã com seu avô. Encontrou a cozinheira lavando alguns pratos na pia.
     - Bom dia! - abraçou a dona Nair e ela recebeu um beijo na testa.
     - Dormiu bem, meu anjo? - perguntou a cozinheira enxugando as mãos no guardanapo.
     - Mais ou menos... - disse ela e sentou-se à mesa da cozinha. - O vovô ainda não levantou?
Dona Nair tirou do forno um bolo de frutas e trouxe para a mesa.
     - Ele saiu com a senhora Claudete – disse ela, colocando café em sua xícara.
A menina desconfiou.
     - Mas para aonde foram?
A velha sentou de frente para a menina preocupada.
     - Claudete me disse que iam fazer compras no mercado.
Elisabeth sentiu menos preocupada, mas mesmo assim achou estranho.
     Elisabeth terminou e escovou os dentes e vestiu uma roupa para brincar lá fora. Dona Nair foi seguindo ela.
     - Porque está me seguindo? - a percebeu.
     - Eu não estou te seguindo! - mentiu ela.
     - Você tá sim - e riu ela. - Foi meu avô que lhe mandou, não foi?
A cozinheira tentou ficar calada, mas não conseguiu e disse por fim.
     - Ah tudo bem... Você não vai sumir como da última vez, não é?
Elisabeth jurou.
     - Claro que não! Eu prometo!
     - Então vou confiar em você e, por favor, não vai para o bosque!
     - Pode deixar comigo – garantiu-a.
     - Volte antes do almoço e brinque aqui por perto! - avisou e Elisabeth corria para o pomar de poncãs. Era época de umas frutas amadurecerem, e ela subiu na árvore e chupou umas boas laranja bem doce. Viu um ninho de ticão, um passarinho bem feinho, também se assustou com um cacho de abelhas e teve que abandonar a árvore para não receber umas péssimas picadas.
     Ela foi para o chiqueiro e tampou o nariz ao se aproximar dos porcos deitados na lama... depois saiu e foi ao pasto. Verificou tocas de corujas e umas delas avançou nela.
     - Ei! Eu não vou machucar seus filhotes! - gritou a menina se abaixando quando a coruja voltou e passou beirando a sua cabeça. Ela teve que procurar outra diversão e encontrou atrás do velho galpão de ferramentas do seu avô uma coisa encoberta por uma lona bem empoeirada.
     Deu a volta entorno da coisa e ficou curiosa para ver o que era. Puxou a ponta da lona e descobriu um velho avião de verdade.
     - Fascinante!... - sussurrou ela, examinando o grande avião que cabiam duas pessoas. O piloto e talvez o co-piloto ou um passageiro apenas. Ela subiu com cuidado e entrou na cabine do piloto e verificou o painel de controle do avião. - Deve estar quebrado... - disse ela e depois fingiu estar pilotando o avião! Depois saiu e cobriu o avião e foi se aventurar em outro lugar, mas o que ela queria mesmo era ir ao bosque.
     - Vou voltar logo mesmo... - decidiu e saiu correndo para lá. Elisabeth desceu um pouco o morro e caminhou entre as árvores altas e rochas do bosque. Ela ficou esperta para ver se via umas orelhas grandes passando entre as moitas e foi até o lago em que Medd conseguia andar sobre a água. Lá estava calmo e ela resolveu nadar um pouco. Tirou a camisa e entrou. Brincou sozinha, agitando as águas.
     Ela escutou um barulho a suas costas e virou apreensiva.
     - Quem está aí? - e para sua alegria Medd pulou de trás de uma rocha.
     - Olá Elisabeth! - veio aos pulos para dar um mergulho no lago.
     - Espere Medd! - e ele derrapou na beira do lago. - Você não pode entrar, estou sem camisa! Vire de costas, agora!
     O coelho ficou confuso e virou.
     - Não olhe! - ela nadou até a margem do lago e saiu da água. Vestiu a camisa por cima do corpo molhado e falou. - Pode olhar agora...
     O coelho e ela se atacaram num abraço e juntos rolaram nas gramas felizes, como se não se visse há anos.
     - Fiquei muito preocupado com você, sabia? - perguntou ele num tom zangado.
     - Desculpe por ter fugido daquele jeito... - murmurou ela, e depois virou de lado. - Mas ninguém queria eu lá.
     - Mas eu e Teddy queríamos! - falou depressa.
Elisabeth levantou.
     - Teddy não queria! Ele... ele me odeia!
Medd pegou em sua mão e contou.
     - Ele te ama, Elisabeth... e estava com ciúme de você.
     - Mas... por que? - perguntou baixinho.
     - Ele achava que eu gostava de você e que você também gostava de mim.
     - Mas eu gosto de você. - disse ela, sentando para ficar da mesma altura que o amigo.
Medd balançou a cabeça.
     - Mas você e eu somos apenas amigos... e Teddy quer ser mais que um amigo pra você.
Elisabeth ficou calada e desviou o olhar para longe.
     - Medd...
     - Diga.
     - É possível? - o coelho abaixou a cabeça e suspirou tristemente, sabendo o que ela se referia.
     - Não.
Elisabeth virou para ele e começava a chorar.
     - Eu... eu também gosto dele, Medd... eu... - e abraçou o amigo não conseguindo falar de tanta dor que sentia.
     - Teddy está muito triste e até brigou com o diretor do castelo.
     - Por quê? - assuou o nariz na sua camisa úmida.
     - Ele está querendo deixar o castelo e ir embora pra longe daqui.
Elisabeth não aceitou.
     - Mas ele não pode fazer isso! O que ele está pensando, afinal? Eu não vou deixar que aquele idiota tome essa decisão... - e ela queria voltar para o castelo e impedi-lo. Medd segurou ela pela barra da calça.
     - Não seja louca! Você não pode mais voltar lá, não como humana! - ela olhou para ele surpresa. - Se você entrar lá, e o diretor vê-la vai mandar o professor e a senhora Mirla embora do castelo.
     Elisabeth e Medd escutaram de longe o grito de dona Nair a chamando.
     - Tenho que ir... - e começou a se afastar, mas virou e abraçou Medd. - Quero que diga ao Teddy que eu também o amo, e que farei de tudo para ficar com ele.
     - Isso não é possível, Elisabeth... você é uma humana e nós animais mágicos...
     - Não importa! Diga a ele que se for preciso eu... eu viro uma coelha para sempre e ficaremos juntos.
     Medd ficou assustado e indignado.
     - Eu não vou falar isso!... - e Elisabeth saiu correndo chorando, sentindo o coração doer mais ainda no peito.

     Chegou rápido na casa e dona Nair estava à flor da pele em desespero.
     - Onde você estava? Está molhada?
Elisabeth tomava fôlego, e mentiu.
     - Eu caí numa possa d'água quando voltava às pressas por causa de seu grito! - e antes que ela desconfiasse, indagou. - Porque me chamou?
     Dona Nair tremia quando tentava beber o chá frio na xícara.
     - Claudete ligou!
     - Porque ela ligou? - ela via a cozinheira resistir em continuar falando. - Me diga logo! - se desesperou ela.
     - Ela... ela pode ter ligado apenas para nos aborrecer... talvez nem seja verdade! - disse ela e levou a xícara para a pia, tentando escapar da menina. Elisabeth correu e ficou na sua frente, decidida não deixá-la ir antes de acabar com aquela história.
     - Aconteceu alguma coisa com meu avô? - tentou manter a calma.
A cozinheira abraçou-na e respondeu.
     - Não, minha querida... seu avô está bem... mas suponho que eu não vou mais trabalhar aqui...
     Elisabeth tomou um choque e ficou sem compreender.
     - Mas porque não? Vovô despediu a senhora?
     - Claudete disse ao telefone que seu avô acabou de fechar um acordo que venderia a fazenda para aqueles homens... - murmurou ela.
     Elisabeth se afastou não querendo acreditar nela.
     - Ele não pode ter feito isso! Ele não vai vender a fazenda!
Dona Nair tentou se acalmar.
     - Pode ser mentira daquela mulherzinha... é, pode ser apenas um armação dela para nos assustar...

Elisabeth trocou de roupa e ficou na sala esperando pelo avô. Ela estava muito abalada com a notícia. Escutou o barulho do carro lá fora e ela correu para espiar pela janela. Havia dois carros, o do seu avô e dos homens misteriosos.
     O senhor Taylor esperou até aqueles dois homens se aproximar e Claudete correu até a porta para abri-la.
     Elisabeth estava parada no meio da sala de visita.
O senhor Ronaldo entrou e ficou parado olhando a neta, e perguntou.
     - O que houve, querida?
     - O senhor vai vender a fazenda? - os homens se entre olharam.
     - Como ficou sabendo? - perguntou surpreso, e lançou um olhar para a governanta ao lado, e ela disse.
     - Eu liguei para a senhora Nair avisando que íamos vir e falei pra ela, mas fiz ela prometer que não ia contar nada para Elisabeth... mas ela já andou enchendo a cabeça dela!
     Elisabeth gritou na direção dela.
     - Sua bruxa! Você é a mulher sem o menor caráter que eu já conheci! - Claudete se fez de toda ofendida e olhou para o senhor Taylor perplexa.
     - Chega Elisabeth! - ordenou seu avô, de dedo levantado pra ela, mas a neta nem deu importância.
     - O senhor não vê que esses homens são uns falsos?! - gritou ela apontando para o senhor Ramiro e seu assistente de confiança, o Tapa-olho, como era conhecido.
     - Nossa... - riu Ramiro tentando disfarçar seu constrangimento. - O que fizemos para receber esse mero elogio?
     O velho ficou irritado e segurou a neta pelo braço, mas ela lhe lascou uma mordida, e se afastou dele, gritando descontroladamente.
     - O senhor fez isso por vingança, não foi? Os coelhos não tiveram culpa por minha mãe morrer... e agora você quebra o juramento que seu pai concordou a muito anos atrás com a comunidade mágica dos coelhos!
     Houve um enorme silêncio depois que Elisabeth parou de gritar, e Ramiro começou a rir, perguntando.
     - Coelhos mágicos? Que história é essa, afinal?
Elisabeth lhe dirigiu a palavra.
     - Você sabe melhor do que todos aqui sr. Ramiro... mas o senhor nunca vai conseguir por as mãos na receita secreta da Páscoa! - lhe sorriu.
     Ramiro ficou rígido e desconcertado pelas palavras da menina e gaguejou.
     - M-Mas do que estamos falando?
O Tapa-olho levantou o queixo e avaliou bem seriamente a garota.
     - O senhor nunca vai conseguir realizar o seu sonho em se tornar o rei do chocolate... - dizia ela sorrindo e percebendo o medo nos olhos dele. - O senhor vai continuar com aquele mesmo chocolatinho que sua fábrica produz, e nunca vai poder experimentar um chocolate de verdade...
     Claudete interferiu e avançou para controlar Elisabeth, mas dona Nair veio e empurrou a gigantona de lado.
     - Não se atreva a relar um fio se quer do cabelo dessa menina, sua cobra venenosa! - ameaçou ela entre os dentes, tomando frente de Elisabeth.
     O senhor Taylor se exaltou.
     - Meu Deus! Dona Nair pode colaborar com a gente? - pediu ele.
     - O senhor não deve vender a fazenda para esses homens! - ela olhou para eles com desprezo e chorou ao terminar suplicando. - O senhor ama essa fazenda... viu a sua filha e neta crescer aqui nessa terra. Não venda a fazenda, por favor...
     Claudete estralava os dedos da mão querendo partir para a briga, mas o Tapa-olho fez sinal para que ela se controlasse.
     - Senhora... - começou o Sr. Ramiro calmamente. - Sei que deve ser muito ruim para você aceitar isso, mas, a razão por qual eu quero comprar essa fazenda é para construir uma empresa maior e dar mais empregos as pessoas desempregadas dessa cidade. E se estiver preocupada enquanto ao seu emprego eu terei o maior prazer em contratá-la para trabalhar em nossa empresa.
     A senhora Claudete fez uma cara de quem comeu e não gostou e ia se manifestar contrária a proposta dele, mas se conteve por causa do Tapa-Olho novamente.
     Dona Nair riu da cara dele, e Ramiro perdeu seu sorriso amarelo do rosto.
     - Não precisa esconder a sua cara suja, senhor! Eu sei muito bem que você despediu uma boa porcentagem de seus empregados na fábrica e construiu robôs mecânicos para trabalhar no lugar de pessoas honestas! - revelou ela, e o senhor Taylor olhou assustado para ele.
     - Acho que a senhora foi mal informada... - disse ele, mantendo a calma, mas por dentro morrendo de ódio daquela mulherzinha pequena e redonda. - O que houve foi uma troca de setores na nossa empresa. Coloquei os funcionários para ocupar uma outra área enquanto testamos umas máquinas para o trabalho pesado, que por sinal, nenhum ser humano merece fazer... então como vê, estou querendo dar as melhores condições de vida aos meus empregados.
     O senhor Taylor levantou os braços para cima e disse, cansado por aquele atraso de tempo perdido.
     - Vamos para o meu escritório senhores, e me desculpem pelo contratempo imprevisto... - o ofereceu e os dois homens caminharam ao lado do senhor Taylor.
     Elisabeth correu atrás deles, mas seu avô ficou para trás e levantou a mão para ela.
     - Vai me bater? - perguntou ela encarando os seus olhos profundo e cheio de dor. - O senhor também bateu na minha mãe quando ela tentou defender os coelhos desses monstros?
     Ele abaixou a mão e lhe deu as costas, mas escutou ela dizer emocionada.
     - Se minha mãe estivesse viva ela sentiria vergonha do senhor por esse ato tão covarde...
     - Ela poderia estar viva se eu tivesse vendido essa fazenda bem antes – respondeu ele sem olhar para trás.
     - O SENHOR VAI COMETER O SEU MAIOR ERRO! - gritou ela, vendo o avô entrar para dentro do seu escritório com aqueles homens, e Claudete lhe fez uma careta ao fechar a porta com a chave. Talvez eu cometa mesmo... - pensou o sr. Taylor de alma partida.

Depois de alguns minutos a porta do escritório se abriu e o novo dono da fazenda saiu com pastas de documentos nas mãos.
     - Muito bem, senhor Taylor, você fez a coisa certa... o senhor não vai se arrepender, eu juro!
Ronaldo Taylor estava com uma cara de muita infelicidade, e seus olhos cansados viram os olhos marejados em lágrimas da neta parada no corredor. Ela saiu correndo para o quarto.
     - Bem... então a gente se encontra no cartório da cidade daqui uma semana para passar a escritura da fazenda ao juiz – disse ele.
     - Perfeito! Estaremos aguardando ansiosamente! - e eles apertaram as mãos. - Passe bem, senhor Taylor.
     - Obrigado. Senhora Claudete poderia fazer o favor de acompanhá-lo até a porta? Eu... vou conversar com Elisabeth...
     - Sim, senhor Taylor... - e ela levou os homens até a porta. Claudete espiou para ver se não havia ninguém e comemorou excitada.
     - O senhor conseguiu! Conseguiu Sr. Ramiro! - ele ficou parado observando a imensa área que daqui a uma semana ia ser todo seu. Ele suspirou de alegria e levantou as mãos em comemoração.
     - Logo em breve vou passar os tratores em tudo isso... não vai ficar uma só árvore para estragar a linda vista da minha maior fábrica de chocolate!
     - Senhor Ramiro... - disse o seu assistente com a voz bem arrastada e fria. - Não esquece do último plano.
     - Mas isso eu jamais iria esquecer, meu companheiro! - afirmou e tirou do bolso do paletó uma carta vermelha endereçada ao professor Pascoal. E entregou para a senhora Claudete que ficou curiosa.
     - O que é isso?
     - É obvio que é uma carta! - respondeu Ramiro ríspido. - Quero que você convença a menina insuportável a entregar essa carta ao professor Pascoal pessoalmente. Quero o mais rápido possível!
     A governanta ficou preocupada.
     - Mas o Sr. Taylor pode suspeitar...
Ramiro já estava caminhando para o carro preto. Olhou para trás.
     - Sua missão é ajudar a menina entregar essa carta ao endereço certo sem que o velho perceba. Se falhar, você não será mais a gerente da minha nova empresa, e será a faxineira!
     Ele entrou no carro e partiram na estrada de terra, deixando a poeira no ar e Claudete com a carta na mão.


Biografia:
Amo escrever e peço que leiam meus livros. Obrigado.
Número de vezes que este texto foi lido: 54817


Outros títulos do mesmo autor

Infantil A páscoa de Elisabeth Lisle - Cap. 10 Clayton JC
Infantil A páscoa de Elisabeth Lisle - Cap. 9 Clayton JC
Infantil A páscoa de Elisabeth Lisle - Cap. 8 Clayton JC
Infantil A páscoa de Elisabeth Lisle - Cap. 6 Clayton JC
Infantil A páscoa de Elisabeth Lisle - Cap. 5 Clayton JC
Infantil A páscoa de Elisabeth Lisle - Cap. 4 Clayton JC
Infantil A páscoa de Elisabeth Lisle - Cap. 3 Clayton JC


Publicações de número 1 até 7 de um total de 7.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
QUE SE... - orivaldo grandizoli 55012 Visitas
AÇÃO DE REPARAÇAO CIVIL EX-DELICTO - francisco carlos de aguiar neto 54898 Visitas
O Senhor dos Sonhos - Sérgio Vale 54868 Visitas
O vovô e a vovó - Helena Regina Santarelli M. de Campos 54862 Visitas
Amores! - 54860 Visitas
81 anos da prisão e morte dos Rosas Brancas - Vander Roberto 54859 Visitas
Minha Amiga Ana - J. Miguel 54858 Visitas
Desabafo - 54854 Visitas
sei quem sou? - 54853 Visitas
MANCHETE DE JORNAL - sigmar montemor 54853 Visitas

Páginas: Próxima Última