Rosa perfeita de selvagens aparas,
do teu orvalho é fonte meu olho,
presenteias meu peito com o espinho que colho,
e sangras e pisas o que dantes amaras.
Rosa selvagem, tua fragrância embriaga
e infecunda o seio que tua raiz abriga.
E se branco é o véu que minha dor agita,
mas negro é o teu cálice de seiva amarga.
Por que despertastes o que adormecido estava?
Se brotastes diáfana e crescestes tão bela,
e me destes o céu e o mar e a terra,
por que hoje me vendes à dor como escrava?
Eras única a me enfeitar os dias...
Tua majestade tinha celeste brilho,
e nas asas do Cupido teu amor era delírio,
e meu ventre, o abrigo desse fogo que ardia.
Bela flor, tua formosura é Olimpo...
Por que erguestes em meu peito pedestal,
destronando, aviltando, meus instintos de mortal,
se agora tua boca se faz fruto proibido?
E agora que fazer se levastes minh'alma?
Deliro nas lembranças invocando tua volta.
Mendigo, em pranto, desse amor uma esmola
que já morro. Só teu carinho me salva!
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