Pensamento pousado na flor do passado,
que o vento teimoso lá vem desfolhar,
ordenando implacável à alma a olhar
para os olhos da morte na tela cravados.
Nem sempre esses olhos falaram de morte,
risonhos ao sino de dobres funestos,
servis em dá ao diabo o cabresto,
do poço sem fundo onde está sua sorte.
Já foram felizes como a dança do vento.
Do bruto cristal -o caráter forjado;
Do fruto da terra -todo o mel apurado;
Aos céus, devotados, jamais um lamento.
Amei-os com o ímpeto de nau naufragada,
que trava batalha com as ondas do mar,
redobra seu fôlego no afã de salvar,
o brio de sentir-se pela terra afagada.
Amei-os com a força que fazem dos astros
pequenos brinquedos nas mãos dos Eantes,
espíritos do Êfeso, estrelas possantes,
guardiões do Senhor centrados no espaço.
Amei-os até que a rubra sentença
incitou o seu braço no golpe fatal,
abatendo do amor sua força vital
que ainda clama em gotas -Justiça à ofensa!
Agonizante, o amor despediu-se da vida,
coroando o ódio -soberano do peito,
e incensando com fel todos os cantos do leito,
donde antes brotara a paixão suicida.
Aos olhos da tela só restou a lembrança...
e já perdem o viço no livro do tempo.
O meu ódio será o outono em vento
com fúria a enxotá-los ao diabo em fiança.
|