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A SOCIEDADE E A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Pedro Melo

Resumo:
Crítica ao filme "A Caça"

Sabemos que a pessoa humana é necessitada de viver em sociedade, pois o homem é um ser individual, porém ele é concomitantemente um ser social. Ao analisarmos o filme “A Caça” podemos ver claramente essa afirmação, tal filme apresenta um retrato real da injustiça que o humano pode chegar.
     A vida de Lucas, professor do jardim de infância e recém divorciado, vira um inferno da noite para o dia com uma pequena mentira, ao menos para a garotinha Klara de cinco anos. Ao acusá-lo de pedofilia, por ter mostrado suas partes íntimas, Klara consegue fazer da vida de Lucas um verdadeiro inferno. Mas vale ressaltar que a garota sentia uma paixão infantil pelo professor, e ao se sentir rejeitada, ela mente dizendo que foi abusada por Lucas. A crença de que crianças não mentem faz o fato se tornam verdade instantaneamente, o professor foi questionado uma única vez pela diretora da escola. Mas é preciso sairmos da superficialidade para melhor entendermos o que se passa. A professora ao ouvir a história relatada pela garota ela procura o professor e conta a história sem dizer o nome do aluno(a). E faz, o que uma boa escola faria, pede a presença de um psicólogo para avaliar. A partir daí começa a sucessão de precipitações que praticamente pôs fim a vida social de Lucas. Klara não quer dizer ao psicólogo o que houve, até mesmo porque não tinha o que dizer, visto que não houve abuso por parte do professor. O psicólogo a induz a dizer aquilo que ele quer ouvir, e ela acaba confirmando mais uma vez a história. Aqui vemos uma grande precipitação por parte do psicólogo que se deixou guiar talvez por seus instintos, ao ver uma linda garotinha dizendo que o monstruoso professos abusara dela, o fato é que ele errou. A partir daí se dão todos os outros erros.
     A diretora da escola chama a mãe de Klara, que era amiga de Lucas, para lhe explicar o fato ocorrido, e como se não bastasse ela decide explanar para todos os outros pais. Com isso todos seus companheiros de trabalho, amigos, todos os habitantes o julgam culpados. Como é fácil julgarmos aquilo que nos aparece a primeira vista, sem ao menos uma pequena reflexão. Todos o condenaram antes mesmo da justiça, sem ao menos uma prova que indicasse sua culpa. Os habitantes arrancam a liberdade de Lucas, ao ponto de ser proibido de ir ao supermercado, proibido pela justiça? Não! Por aqueles que se diziam amigos, por aqueles que não quiseram dar uma oportunidade para Lucas falar, explicar o ocorrido, ao contrário, ele foi expulso do supermercado a base de ponta pé e socos. Mas ele decide voltar ao supermercado, causando certo espanto nos funcionários que de forma violenta o tinham colocado para fora. Ele apenas pede o direito de comprar seus produtos como um outro cliente qualquer. Com este pequeno exemplo podemos perceber que sua dignidade, liberdade foram castradas, e tais conceitos na prática são fundamentais para a vivência em sociedade.
     A garota tenta desmentir, mas acaba sendo convencida de que ela queria apenas encobrir o ato maléfico de seu professor. Muito interessante tal postura pois, se antes a crença cega na palavra da criança foi a base para tais julgamentos e acusações, agora a palavra da criança não vale nada, prova de que ao querermos desqualificar uma pessoa, não importa a fonte, até mesmo porque não se busca a veracidade de tais acusações, a sede de justiça impera no coração do homem e deixa seus instintos animalescos se aflorarem. Naquele momento ele já estava julgado e condenado, não só ele mas também seu filho, eles eram “a caça”. Mas de outro lado, como acreditar em Lucas se temos provas irrefutáveis, se temos o testemunho da vítima? O que pensarmos de um homem que cometeu um abuso infantil? A nossa cabeça claramente tende a julgá-lo. Mas como vencer tal ato? Como evitar os erros?
     A mentira da menina, junto com a violência dos habitantes para com Lucas, nos mostra um retrato da sociedade, que se preocupa mais com a vontade de encontrar um culpado, do que de saber se realmente aquele é o culpado ou não. Se a sociedade é o meio do qual o homem se utiliza a fim de se socializar é esta mesma sociedade que tirou e tira tantas vezes a liberdade de determinadas pessoas, no filme a liberdade de Lucas foi tirada, no nosso contexto quantos pensadores tem a sua liberdade afunilada por que destoam do modo de pensar de determinado grupo, mesmo que tal pensador pertença a mesma instituição ele de torna um demônio por não aderir a “verdade” pregada por certos tipos de grupos.
     Por fim é fundamental notar que quando estão os habitantes, significando a massa, todos se tornam hostis, ao ponto de não o ouvir, mesmo que o conheçam de longa data. Mas no momento em que o pai da menina Klara fica procura Lucas em sua casa e estão apenas os dois o diálogo volta a reinar, e a amizade diz mais forte do que a própria mentira, que foi até bem articulada. É fato consumado que a vida de Lucas não foi mais a mesma, mesmo sem ter culpa, porém foi com a amizade que as coisas voltaram ao normal, ao menos as mais aparentes. Mas e o campo psicológico de Lucas? O filme mostra o abalo que sofreu ao ponto de imaginar que alguém ainda o queria matar na floresta; ele que não teve nenhuma culpa, lutou para mostrar isso, lutou por seus direitos básicos de sobrevivência, agora começa a viver refém do próprio psicológico, em ultima instância, refém de si mesmo, do próprio eu. Por fim uma sugestiva frase de um pensador que expressa bem o que se vive no drama da pedofilia: “O abuso sexual praticado contra a criança é uma das formas de maus-tratos que mais se ocultam: a criança tem medo de falar e, quando o faz, o adulto tem medo de ouvi-la”.


Biografia:
Graduado em Filosofia pelo Instituto Agostiniano de Filosofia - IAF, Formado em Técnico de Administração pela Escola Doutor Júlio Cardoso, e Técnico em Publicidade e Propaganda - Uni Facef.
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