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QUANDO O SER DIVINIZADO ESTÁ LOUCO
Pedro Melo

Resumo:
Texto avaliativo para o curso de filosofia do Instituto Agostiniano de Filosofia na matéria Antropologia Cultural. Esta breve reflexão nos apresenta duas sociedades: a que vivemos e estamos acostumados e outra totalmente diferente, onde tudo o que fazem é o contrário do que fazemos e mesmo assim conseguem alcançar a felicidade e viver sem regras porém com muita educação entre si.

“Os deuses devem estar loucos”. Um filme que aparentemente é uma simples comédia nos apresenta um verdadeiro tesouro para apreciarmos, o para podermos enxergar além de nossa cultura e ver outras que moram no mesmo planeta em que habitamos, porém com outros e, completamente, outros modos de se viver, onde suas dependências são outras, onde o relógio e o calendário talvez não sejam os sacerdotes da deusa Globalização, até mesmo porque muitas vezes estes não existem nestas tribos.
O filme retrata uma família de bosquímanos, que habitam no deserto de Calaári, neste povo nômade não existem leis, o que podemos pensar que algo desorganizado e bagunçado, porém pelo contrário, pelo fato de não existirem leis, polícia, chefe, não exista a violência, o crime, o desejo de ser melhor do que o outro, algo que vemos muito presente em nossa sociedade dita globalizada, que apresenta a cada dia tanta tecnologia, novos meios para se viver confortavelmente que acabam complicando ainda mais o meio em que vivem.      
Diferentemente dos bosquímanos, que se adaptam ao meio onde vivem, imagine só, vivem em um deserto onde falta água e que os “civilizados” evitam chegar por lá por ser uma espécie de praga, visto que não existe água, afinal estamos muito acostumados a fazermos o laborioso e incrível esforço de abrirmos as nossas torneiras para, num processo desgastante, considerando que é demorado o processo da chegada da água vinda da estação de tratamento até a nossa casa, para podermos enfim beber um simples copo de água misturada muitas vezes com o estupendo e suculento “Elemento de número atômico 17”, ou em termos mais conhecidos o cloro; ora como poderíamos sobreviver em um deserto que não exista água? Porém na verdade existe a água, apenas não sabemos onde procurar, coisa que os bosquímanos sabem muito bem; e somos tentados, em nossa geração egocêntrica, a se porventura encontrarmos um copinho de água mineral no deserto pensar que é nosso e de mais ninguém, esta tribo em questão divide tudo, pois eles não têm senso de posse, as divindades, que são extremamente bondosas para com eles, deram este lugar para morarem então é uma coisa comum, um lugar de todos.
O homem da cidade não quis se adaptar ao meio em que vive, então que tal arrancar as árvores e asfaltar ainda mais as ruas para não ter um escoamento decente de água com o intento de construirmos novos prédios e modernas e belas avenidas para nossos luxuosos e modernos carros? Na verdade tudo isto já existe, e os mais inteligentes conseguem constatar, preferimos adaptar o meio em que vivemos ao nosso modo de viver, e precisamos colocar nossos filhos para estudar todos os modos que encontramos de destruir a natureza, com o intuito de colaborarem gerando novas tecnologias para suprir as antigas tecnologias e serem precursoras de novas tecnologias. As crianças estão ocupadas por demais nas escolas, cerca de quinze anos, para aprender a sobreviver ao meio em que nasceram que vai muito além do simples alfabeto e das pequenas e brandas contas de matemática.
E é justamente quando “pássaros barulhentos que voam sem bater as asas”, que nós chamamos de avião, começam a sobrevoar o território destes nativos acontece, como num passe de mágica, algo fantástico, um dos deuses envia para eles algo encantador que “parecia água, porém era muito mais duro do que qualquer outra coisa”, algo realmente surpreendente que nós podemos comprar este dom divino em qualquer boteco por aí com o nome de “garrafa de Coca Cola”. Incrível como um deus enviou um pássaro (avião) para dar-lhes uma água endurecida (garrafa), poderíamos chamar este deus, que estava controlando o pássaro de porco, pois jogou um de seus poderes fora, simplesmente abrindo uma das janelas de seu pássaro em uma atitude extremamente inviável e porcalhona. Tudo isto para dizer que no momento em que começamos interferir na cultura tudo pode desmoronar. Esta garrafa de coca começou a causar desavenças e brigas, ela era boa para tudo o que faziam, bater na carne para amaciá-la, para brincar, fazendo músicas ao soprá-la, para trabalhar o couro, era lisa e ideal para trabalhar a pele de cobra, enfim era o mais lindo e perfeito presente que os deuses haviam dado.
Todos começaram a necessitar daquele produto, se antes não o tinham, agora já não podiam viver sem, e é exatamente isso que o consumismo faz conosco, pois se antes não tínhamos determinado objeto agora somos felizes somente quando o temos, apenas poderei ser feliz se eu for às Casas Bahia e esbanjar todo o meu 13° salário, fazendo compras e dívidas para o próximo ano, eu penso que necessito daquilo para viver, são os bens de consumo que me dão a vida, eles são o nosso coração que bombeiam o instinto consumista presente em nossa sociedade capitalista.
     E justamente quando, cansado da novidade de sua tribo: as brigas, Xixo, que é um dos integrantes da família e um dos dois protagonistas do filme, decide ir até o fim do mundo para jogar fora aquele objeto divino, pois não precisavam daquilo para serem felizes. Toda a parte cômica do filme se dá deste ponto para frente, porém é interessante notar que este filme foi produzido através da visão do nativo bosquímano Xixo, que via nos homens, que ele começou a conhecer, divindades supremas, deuses. Mas como que deuses, como aqueles que ele via, podem ser tão esquisitos? Essa foi uma das indagações dele. E realmente, trazendo para nossa realidade, o homem da cidade, que se pensa ser tão evoluído, necessita, para sua felicidade egoísta, de bens supérfluos, esta é a civilização dos deuses, que com seus mágicos poderes de girar a chave dando partida no carro conseguem a incrível proeza de ir até outra cidade sem caminhar, mas com a ajuda que os poderes mágicos do potente motor pode oferecer.
     Os bosquímanos não precisam necessariamente de um carro para se locomoverem, ou de longas prestações para serem felizes, conseguem fazer da vida o motivo de sua felicidade, já os humanos divinizados por esta raça precisam de tanta coisa que ao fim não se sabe mais do que precisa. Eis a nossa cultura onde “Os Deuses Devem Estar Loucos”.
     
     


Biografia:
Graduado em Filosofia pelo Instituto Agostiniano de Filosofia - IAF, Formado em Técnico de Administração pela Escola Doutor Júlio Cardoso, e Técnico em Publicidade e Propaganda - Uni Facef.
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