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Fome de Vingança
Rafaela de Oliveira Pinto Alves

Saco! – amassou o papel entre os dedos e atirou-lhe no lixo, em um lance certeiro. Girou a cadeira, tentando aliviar a impaciência. Olhou para os papéis descartados, que começavam a se empilhar pelo chão. Fez um coque no cabelo para amenizar o calor- precisava consertar logo aquela droga de ar condicionado- pensou. Levantou-se e abriu a janela. Tirou um cigarro do maço e colocou-o na boca. Droga, esqueci novamente de acender, o é que está havendo comigo? - pensou- Nunca andei tão avoada. - Onde é que anda meu isqueiro? Seus pensamentos foram interrompidos pelo som do telefone tocando. Estendeu os braços para atender, mas desistiu. - Ah, que se foda. Não estou pra ninguém hoje não. Além do mais, se for aquele maluco do Fábio de novo, é capaz de eu não conseguir me controlar. Como alguém poderia se concentrar para escrever com o chefe pressionando daquele jeito? Porra, fica ligando de cinco em cinco minutos, será que ele não tem nada a fazer além de me cobrar? Em pleno sábado! - Provavelmente não -pensou maldosamente- Quem iria querer sair com um traste daqueles? - Ai, Pra que é que eu fui aceitar redigir essa matéria mesmo? Simplesmente não consigo escrever uma linha, e essa cobrança toda...O telefone tocou novamente. Resignada, resolveu atender. Alô – disse no tom mais educado que conseguiu. Alô, respondeu a voz do outro lado da linha. Rebeca emudeceu. Sua expressão facial congelou e por alguns instantes, ela não conseguiu pensar em absolutamente nada- Alô- insistiu a voz.
Joseph? - respondeu, com um leve pânico ao perceber que sua voz saíra bem mais esganiçada do que pretendia- O que você quer? - Olha, Beca, sei que te devo muitas explicações, mas não temos tempo para isso agora. Preciso que você me encontre daqui a 15 minutos naquele café em que costumávamos ir. -Pe-pe-pensei que você tivesse voltado para os Estados Unidos.
- E voltei, mas, como eu disse, não há tempo para explicações. - O que você quer? Você não pode simplesmente aparecer assim do nada e... - O telefone ficou mudo- Idiota! -Gritou de frustração, batendo o telefone no gancho. Idiota, babaca, imbecil! Mil vezes idiota! - Ficou assustada ao perceber o quanto seu coração estava acelerado.- Simplesmente não posso acreditar que ele ainda tem esse efeito em mim! Eu devo ser mesmo muito estúpida- pensou com raiva- 15 MINUTOS..15 minutos...Nem tempo para uma maldita escova esse babaca me deu!Mas ele sempre foi assim mesmo, Egoísta! Graças a Deus comprei aquele vestido ontem para sair com o Paulo, senão nem mesmo teria o que usar.
Vinte minutos depois, saiu de casa, ás pressas, ainda penteando o cabelo. Ficou surpresa com a BMW preta, estacionada em frente ao seu portão. Geralmente, não passavam carros chiques assim naquela área. Um rapaz bonito de 1,90 desceu do carro. Ele usava terno e óculos escuros. - Rebeca? - o Homem bonito perguntou, com tom de voz mais gelado que ela já ouvira-
Sou eu – respondeu, sentindo um calafrio percorrer-lhe a espinha.
Entre no carro agora- disse.- Rebeca ficou paralisada, sem saber o que fazer.
Eu disse AGORA ! - O terror invadiu a mente de Rebeca, quando a arma fria tocou a sua testa.

[...]

Rebeca acordou sem fazer ideia de onde se encontrava. Suas mãos estavam firmemente atadas e seus pulsos doíam. Estava completamente imobilizada. Olhou em volta, procurando algo familiar. Mas definitivamente, nunca havia estado ali antes. O ambiente , fracamente iluminado, consistia em uma sala apertada de não mais que 15m2, cujas paredes eram sujas e úmidas. O carpete no chão estava bastante gasto e parecia não ter sido varrido há séculos. Restos de comida faziam uma trilha que provavelmente levava a lugar nenhum. Estava frio, escuro, e Rebeca estava definitivamente com muito medo. Apavorada, para ser mais precisa. E havia também um odor... um odor terrível de carne podre. Não sabia de onde vinha e , sinceramente, não tinha vontade alguma de descobrir. Quem teria feito isso com ela? Por que motivo? Eram tantas perguntas e nenhuma resposta. Remexeu-se na cadeira tentando em vão se libertar. Essa respondeu com um barulho irritante. Seu coração acelerou quando ouviu passos que pareciam vir de um corredor. Os passos foram se tornando alarmantemente mais próximos e sua respiração tornou-se cada vez mais rápida e ofegante. Será que sairia dali viva? Ainda era tão jovem e tinha tanta coisa para fazer... Definitivamente não estava pronta! Não! Não! Tinha que sair dali! Os passos foram ficando mais e mais altos até que a porta se abriu com um rangido.
E lá estava ele, mesmo a meia-luz não era difícil de reconhecer seu algoz. Era o mesmo homem bonito que havia lhe apontado a arma. E ele estava lá, grande, forte e cada vez mais perto. Mais perto... Mais perto.
- É bom ver que acordou, Rebeca. – ele falou naquela sua voz gelada. Rebeca ficou completamente muda, como naqueles pesadelos que você tenta gritar, mas não sai nenhum som. Ela não podia falar, se mover, nem mesmo respirar.
- Geralmente quando eu falo eu gosto de ter uma resposta, rebeca.
-o-oi. Respondeu com uma voz trêmula. Foi o máximo que conseguiu dizer.
- Sabe, está quente aqui, não acha? Se importa se eu ficar um pouco mais a vontade? A,é., me lembrei que você não tem escolha– tirou a camisa, deixando ver seus músculos firmes e assustadores.
Então, Rebeca, você deve estar se perguntando o que faz aqui, não é? Onde está, que eu sou, e todos aqueles clichês. Mas por favor, me poupe dessas perguntas chatas e vamos direto ao assunto. Você tem uma coisa que me pertence e eu quero agora. Simples assim.
- Eu-eu não sei do que está falando, conseguiu balbuciar.
-Mentirosa! - desferiu-lhe um tapa no rosto que ardeu-lhe até a alma.
Rebeca ficou tonta e ainda mais apavorada. Começou a chorar baixinho.
-Vamos lá, não chore, não estou aqui para machuca-la, mas tenho problemas com controle. Seja uma boa menina e logo logo poderá sair daqui.
O que você quer? Por favor, juro que não sei! – respondeu desesperada.´
O homem alto deu um sorriso de canto, que seria bonito se não fosse tão assustador. Rebeca sentiu um arrepio no estômago, no peito, na garganta...
Já entendi que não quer falar. Bom, não esperava mesmo que fosse ceder assim tão fácilmente, já haviam me dito que você era durona. Mas não vai permanecer assim por muito tempo. Pelo menos espero que não, para o seu próprio bem.
E bom, Esse vestido fica muito bonito em você, sabia? Seria uma pena manchá-lo de sangue- Dizendo isso deslizou suas mãos pelo seu rosto, passou para o seu cabelo, segurou-o firme, puxando sua cabeça para trás. Se aproximou ainda mais, deixando Rebeca sentir seu hálito quente. Encostou seu lábios no dela e deu-lhe um beijo tão feroz que Rebeca não conseguiu mais pensar em nada.
(continua)


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Romance Fome de Vingança Rafaela de Oliveira Pinto Alves
Contos Tinta vermelha Rafaela de Oliveira Pinto Alves
Contos As Harpias Rafaela de Oliveira Pinto Alves
Contos Morro de saudades Rafaela de Oliveira Pinto Alves
Contos Uma Lição que aprendi por aí Rafaela de Oliveira Pinto Alves


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