Elas não me deixam dormir!- Mariana estava ansiosa. Na verdade, um pouco mais do que ansiosa, estava desesperada. Tentava, contudo, se controlar. Por que ninguém estava acreditando nela? Tudo bem que as vezes gostava sonhar e divagar , mas aquela situação era inteiramente distinta. Começou sentir-se cansada. A cabeça doía, reclamando das noites de sono perdidas. O s cachos louros estavam se desmanchando e começando a grudar na cabeça, e seus olhos, outrora límpidos, estavam vermelhos e injetados. Prendeu os cabelos em um coque como para amenizar o calor. Precisava pensar, manter-se sã. Como explicar a todos que não mentia? Como mostrar que eram reais as monstruosidades que lhe roubavam o sono todas as noites? Talvez descrevê-las ajudasse - pensou. Mas como descrever aquilo que não entendia? Não eram imagens, disso tinha certeza. Era mais como sensações. Sensações de imagens. E de sons. Os sons doíam, mas não há como descrever o terror e a angústia que as imagens lhe causavam. Não via as horrendas criaturas, ou pelo menos, não com os olhos, mas sabia quando elas estavam a se aproximar. Sabia que viriam quando sentia a dor lancinante de seus rostos ferozes, emoldurados por cabelos muito pretos e muito longos, que caíam-lhes sobre os seios desnudos. Horrendas criaturas de asas enormes e negras, cujas garras afiadas prometiam silenciosamente dor e sangue. Prometiam e cumpriam. Todas as noites, Mariana sentia seu corpo dilacerado pelas horríveis bestas. Cada pedaço doía ,mesmo depois de ser arrancado. Mesmo depois de ter sido devorado. Até mesmo depois de ter sido digerido. Como se todos os seus fragmentos estivessem lutando para não morrer, mas também não pudessem, de forma alguma, viver. E pior: estavam todos podres, antes mesmo de as malditas criaturas terem chegado. Como se ela fosse um maldito zumbi! Chorou desesperadamente , quando, sem pedir licença, a compreensão a invadiu.
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