1. Tema antigo
Há teu perfume aqui, há tua imagem
entrando pela porta, alegre e doce,
e enchendo-me de luz, como se fosse
o sol das almas, sobre a paisagem.
Quem me dera, entretanto, aqui chegasses
de fato, ó meu amor, e — bela e calma —
me dissesses aquilo com que a alma
então tu me encherias, mais as faces,
dessa alegria própria de alguns poucos,
tão natural e boa, que eu invejo...
Ah! por que é que sonho eu? não me contento
com teus imaginários passos loucos,
com o teu vulto, próximo de um beijo,
mas que desfaz, de súbito, o vento?...
2. Improviso
Não como a estrela, na manhã serena,
à flor de um lago, quase a se esconder,
o modo peculiar de me envolver
com o riso à flor da boca, tão pequena!
Nem como a ave do céu, que, junto ao ninho,
chama contente pelo companheiro,
em cujo peito o amor é mais fagueiro,
e é calmo, p’ra que haja algum espinho.
É várzea em flor, à noite, escondida,
emanando um perfume sem igual
à minha mal-aventurada vida...
(Quem dera fosse o seu olhar, quem dera!
a pino o sol, sobre esse mesmo val,
numa confirmação da primavera!)
3. A chegada do amor
Cabisbaixo, entre as flores me encontrava,
tão várias, com que os campos, langorosa,
adorna a primavera. Ah, se apagava
de meus olhos a chama esperançosa!
— “Que sentido, meu Deus! — me interrogava —
há nesta vida fútil, dolorosa,
em que as pessoas mandam-me à fava
quando lhes falo da alma mais chorosa?”
Sentia-me pequeno, e dissolvido
estava no fel de minha pequenez...
Foi quando um vulto claro apareceu
e de novo criança então me fez,
e tudo aquilo que havia perdido,
em lágrimas e amor, me devolveu.
Do livro: Poesia da juventude, que integra o volume: O invólucro da noite — Poemas reunidos, 2010.
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Biografia: Antônio Oliveira Pena, nascido em Santa Rita de Jacutinga, MG, conquanto naturalizado fluminense, precisamente de Barra Mansa, é professor e poeta. Em 1999, estreia com Poemas - Poesia da juventude e Esboço, reeditado em 2004 acrescido dos livros: O ritmo da palavra, Vertigem e Nau submersa, este último posteriormente aumentado. Em 2010, com o patrocínio da Secretaria de Cultura de Volta Redonda, publica O invólucro da noite - toda a poesia até então, a que se somam, ainda, o livro que empresta o nome ao volume e o opúsculo Recado. Também em 2010, o Grêmio Barra-mansense de Letras edita Frêmito - também poesia, seguido de Haicais, épica & sonetos, em parceria com José Fleming e Menulfo Nery Bezerra. Criado pelo poeta, o blog poetaantoniopena.blogspot.com resume o fazer poético desse autor da cidade de Volta Redonda ainda desconhecido do grande público. |