1. INICIAL
No escuro da mata
— a luz, súbita e a flux,
na voz da cascata.
2. NOTURNO
Deserto momento
da noite, em que é um açoite,
de tão frio, o vento.
3. A ARANHA
Em sua teia trêmula,
a aranha. Hirta, tamanha,
paciente vemo-la.
4. LIÇÃO
Natureza ensina:
o mato protege o regato
de água cristalina.
5. PAISAGEM
Quanto o olhar se adensa,
do homem! Canaviais somem
na planície imensa.
6. DA VISTA DE UMA PONTE
Altiva, a cascata
espuma e ruge como uma
pantera na mata.
7. A CRISTO OU A UM REPRESENTANTE SEU
De novo ergue o cálix,
e não te importes se em vão
seja que tu fales.
8. ESCONDERIJO
Mercenário, o sol
caustica. À serpente fica
cômodo o paiol.
9. DE TREVAS
Tenebrosa noite.
Lá fora, o matagal chora...
O vento é um açoite.
10. JANEIRO
Vejo um flamboyant:
pendidos braços floridos
na bela manhã.
11. ÚNICA
Flores com que adornes
os belos, loiros cabelos,
e única te tornes...
12. IMPRESSÕES DO SERTÃO
O ermo da mata
espessa, ávido, atravessa
um raio de prata.
13. MOMENTO
As folhas fremem
no vento. Nesse momento,
no chão, sombras tremem.
14. À SUA MANEIRA
Chuva torrencial.
Grasnando, a estão festejando
gansos no quintal.
15. ARIDEZ
No chão sem o que
se ver de relva a romper,
o cacto em pé.
16. SETEMBRO
Borboletas, tantas
— azuis, brancas como a luz —,
com que tu te encantas!
17. IMPERATIVO
Reto proceder:
remorsos, sabe-se, e dor,
há no entardecer.
18. GRATIDÃO
Sob este céu gris,
a preta, mas borboleta,
bate asas, feliz.
19. ARRABALDE
Nas poças da rua
e em cada lago espelhada,
de tão alta, a lua.
20. CAUTELA...
... Que na estrada às vezes,
da vida, em que, a toda a brida,
se vai, há reveses.
21. RUIDOSAMENTE
Contra a penedia
as ondas batem, redondas,
— e a alma se extasia.
22. CONVITE
Talvez que te chame
a olhar a vida a reinar,
este mar que brame.
23. PENÚLTIMO HAICAI
Saudando o azul,
na tarde clara que arde,
balança o bambu.
24. OUTONO
Cousa dum minuto:
desprende-se a folha, e surpreende
com o balé gratuito.
Do livro Haicais, épica & sonetos, 2011
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Biografia: Antônio Oliveira Pena, nascido em Santa Rita de Jacutinga, MG, conquanto naturalizado fluminense, precisamente de Barra Mansa, é professor e poeta. Em 1999, estreia com Poemas - Poesia da juventude e Esboço, reeditado em 2004 acrescido dos livros: O ritmo da palavra, Vertigem e Nau submersa, este último posteriormente aumentado. Em 2010, com o patrocínio da Secretaria de Cultura de Volta Redonda, publica O invólucro da noite - toda a poesia até então, a que se somam, ainda, o livro que empresta o nome ao volume e o opúsculo Recado. Também em 2010, o Grêmio Barra-mansense de Letras edita Frêmito - também poesia, seguido de Haicais, épica & sonetos, em parceria com José Fleming e Menulfo Nery Bezerra. Criado pelo poeta, o blog poetaantoniopena.blogspot.com resume o fazer poético desse autor da cidade de Volta Redonda ainda desconhecido do grande público. |