1. Dias e noites
Dia após dia, noite após noite, cada
instante, o homem luta por espaço,
guerreia pelos seus e lágrimas
verte, e estanca o sangue, e come o que
lhe é servido (grande
é seu padecimento);
sua perseverança, porém,
é o seu estandarte; flâmula ao vento — a sua fé,
com a qual
não desmorona, com a qual
é sentinela de si mesmo.
2. Atrás do pão, de trabalho
Firme, segue o homem para as grandes cidades
atrás do pão, de trabalho, do estudo da prole,
da subsistência afinal; e já não importa
seja da serra, do sertão ou do pampa:
funda-se na nova terra, doce e amarga
como se fora a própria, ou não
— porém onde, de seu viver,
se edificam as colunas;
onde se faz, mais que fumaça:
raízes.
3. Momento
Pela manhã, de céu claro
ou cinza, ou pela tarde
rumorosa,
ou na quietude da noite,
povoada de estrelas ou erma delas,
por um instante, não mais,
que os nossos olhos se voltem para o alto,
e que reflita — cada coração: que há frio, que há fome.
E, generosamente, o pão seja partido, e a veste
que já não sirva para este ou para aquele
possa cobrir o ombro nu.
Do livro: Nau submersa, que integra o volume: O invólucro da noite — Poemas reunidos, 2010.
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Biografia: Antônio Oliveira Pena, nascido em Santa Rita de Jacutinga, MG, conquanto naturalizado fluminense, precisamente de Barra Mansa, é professor e poeta. Em 1999, estreia com Poemas - Poesia da juventude e Esboço, reeditado em 2004 acrescido dos livros: O ritmo da palavra, Vertigem e Nau submersa, este último posteriormente aumentado. Em 2010, com o patrocínio da Secretaria de Cultura de Volta Redonda, publica O invólucro da noite - toda a poesia até então, a que se somam, ainda, o livro que empresta o nome ao volume e o opúsculo Recado. Também em 2010, o Grêmio Barra-mansense de Letras edita Frêmito - também poesia, seguido de Haicais, épica & sonetos, em parceria com José Fleming e Menulfo Nery Bezerra. Criado pelo poeta, o blog poetaantoniopena.blogspot.com resume o fazer poético desse autor da cidade de Volta Redonda ainda desconhecido do grande público. |