1. O caminho
Dize a palavra que te encerre o sonho,
aquela que resuma o teu desejo;
evita aquela de pesar medonho,
aquela de lamento malfazejo.
Dize a palavra que te encerre o sonho
com a mesma intensidade do teu beijo!
Evita o murmurar insano, e põe o
teu pensamento a trabalhar, que vejo
que aquilo que dizemos é que é ouvido,
ainda que o façamos em segredo...
— Não há palavra sem repercussão!...
Na estrada em que o homem vai, tão comovido,
seja de sua pátria, ou do degredo,
antes, por ela, andou seu coração!
2. Curso d’água
Serve ao amigo, e mesmo ao inimigo,
e a Deus é que estarás servindo então;
dedica-te ao amor, de coração,
de maneira que estejas bem contigo!
No rosto abre um sorriso, dando abrigo
ao semelhante, e canta uma canção
cujos versos despertem a emoção —
canção da tua vida, meu amigo!
Não te exasperes nunca, sê paciente;
e constante, e honesto, e sê fiel
a tudo o que o espírito procura.
Seja a tua existência, sob o céu,
qual curso d’água fresca e transparente,
matando a sede a toda a criatura...
3. Soneto de aproximação
A vida, ao teu redor, vê com alegria;
nos jardins, conta as flores que se abriram;
esquece as murchas, já sem poesia,
e aquelas cujas pétalas caíram.
Retém, do lábio teu, tudo o que é bom,
e as linhas do sorriso do teu rosto;
não te deixes levar pelo desgosto,
nem digas nada em pesaroso tom.
Que saibas rir, malgrado o sofrimento;
não te incomode nunca a noite escura,
tampouco, por teu corpo, as cicatrizes...
Guarda que as nuvens as dissipa o vento,
e que a árvore que mais alcança altura
tem mais fundas, no chão, suas raízes.
4. Sobre a sabedoria
Como um homem que a terra ara e semeia,
vai ao encontro da sabedoria;
com paciência, aguarda pelo dia
em que terás, de frutos, a mão cheia.
Dela aproxima-te, alma e coração
repletos de certeza, confiantes.
Segue-lhe os passos; não a deixes, não,
que a vida, amigo, é a soma dos instantes.
Faz com que agora ouça o teu ouvido;
com que teus olhos possam ver, agora;
e te arrepende do mal que tens nutrido.
Guarda que a luz se vê melhor nos breus,
da noite escura é que desponta a aurora;
com a caridade é que se chega a Deus!
Do livro: O ritmo da palavra, que integra o volume: O invólucro da noite — Poemas reunidos, 2010.
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Biografia: Antônio Oliveira Pena, nascido em Santa Rita de Jacutinga, MG, conquanto naturalizado fluminense, precisamente de Barra Mansa, é professor e poeta. Em 1999, estreia com Poemas - Poesia da juventude e Esboço, reeditado em 2004 acrescido dos livros: O ritmo da palavra, Vertigem e Nau submersa, este último posteriormente aumentado. Em 2010, com o patrocínio da Secretaria de Cultura de Volta Redonda, publica O invólucro da noite - toda a poesia até então, a que se somam, ainda, o livro que empresta o nome ao volume e o opúsculo Recado. Também em 2010, o Grêmio Barra-mansense de Letras edita Frêmito - também poesia, seguido de Haicais, épica & sonetos, em parceria com José Fleming e Menulfo Nery Bezerra. Criado pelo poeta, o blog poetaantoniopena.blogspot.com resume o fazer poético desse autor da cidade de Volta Redonda ainda desconhecido do grande público. |