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Eu sozinha...
Edwanya Simplicyo

Ando descalça pelo meu apartamento, vestindo uma regata grande e larga. Partes do sutiã vazam. Tudo impecavelmente como deixei de manhã, tudo tão limpo. Não deveria sentir um tipo de frustração quando retorno ao fim do dia, por não haver nenhuma mísera partícula de poeira em um móvel, ou, um copo sujo sobre a pia, uma roupa largada em algum canto, mas, em vão, o que espero é registrar qualquer coisa que não signifique perfeita solidão, parece que não há vida aqui.                    

Na minha cozinha pequena, preparo um jantar: Talharim ao queijo, precisamente. E ouço Cazuza. Sabe o que me vem em mente quando estou trabalhando no balcão, ou na pia? Imagens de um corpo moreno, um fuzileiro se aproximando perigosamente de mim, ele se encaixa por trás com os braços em volta da minha cintura, sussurra qualquer coisa que me arranca um sorriso. Um tempo atrás, fechando os meus olhos, conseguia sentir seus toques. Seus braços me firmando em seu corpo, laçando-me na altura do busto, apertando-me contra si, produzindo em mim as mais variadas sensações. As respirações altas, os olhos pedindo tudo do outro.                                              
Em todos os cantos há lembranças desse tipo, impregnadas, que quando acionadas, se projetam com perfeição.                                                                                                     
Compartilhei este espaço com o que sempre imaginei ser o homem certo para mim. Amava-o como nunca amei antes. Mas a minha felicidade se foi sem olhar para trás, ele a levou em sua bagagem. Foram poucas as vezes que a vi entrar por essa porta espessa, pois fui precipitada o bastante para contar com ela em nossa velhice.          
À noite, acomodo-me no sofá com uma xícara quente de chá nas mãos, em dias ruins, sim me permito experimentar uma dose amarga. Deixo minha mente vagar por diversas coisas e às vezes e reencontro o capitulo de minha vida em que ele apareceu: Chovia e ele surgiu de uma esquina de prédios altos e cinzentos, eu usava a minha bolsa para me proteger, o que não era grande coisa, ele se aproximou e ofereceu o seu guarda-chuva, abrigando-nos até um ponto de táxi. Depois que entrei no carro, ele permaneceu parado até o táxi se distanciar. Através dos fios tortos de chuva escorrendo sobre o vidro traseiro, tentei memorizar seu rosto, seus traços que não eram exatamente limpos e simétricos, e isso o tornava ainda mais interessante para mim.                                                   
As últimas imagens a cruzar meus pensamentos antes de eu adormecer naquela noite foram seus olhos negros, então, esperava que coisas boas brotassem daquele “encontro” e eu colhi coisas maravilhosas.                                   
Quando saio do banho, perco alguns minutos do meu tempo em frente ao meu espelho de corpo inteiro. Nele avalio o que mudou em mim com a ausência dele de quase um ano. Meu rosto é sereno, meus olhos estreitos não revelam sofrimento, são de aspecto metamórfico. Gosto do reflexo ousaria dizer que sinto quase triunfo. Agrada-me a ideia de pensar que ele perde a fase em que me sinto dez vezes mais atraente, a fase em que poderíamos explorar toda a nossa criatividade.


Biografia:
Edwanya Simplicyo
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