Vagava pelas ruas de uma pequena cidade uma cadelinha vira lata. Um filhote solitário e faminto. As costelas aparentes e o olhar triste. Quando alguém a cumprimentava, agitava feliz a calda e se recebesse broncas abaixava as orelhas, saía devagar olhando triste para trás. Pantera era longa e fina, o pelo negro fosco, olhos grandes e cintilantes. Rondava timidamente as casas e as pessoas, talvez como se procurasse uma família que lhe cuidasse com amor. Um dia ela encontrou. Uma senhora abriu as portas para ela entrar, no entanto, ela caminhou devagar como se hesitasse por um segundo.
Chegou ao quintal onde lhe esperavam um prato de comida, um de água, uma sombra bem fresca e uma coleira. Uma coleira que a impediria de correr, de afrontar os passarinhos da rua, de ser livre. Talvez agora esteja explicado o motivo pelo qual ela havia hesitado antes. Ela teria afeto e alimento, mas, em troca perderia a liberdade. A prisão mata tanto quanto a fome. E ela não era totalmente feliz. Ficava horas olhando a rua através das grades que se erguiam além da sua altura, pôr as patas para fora era impossível agora. Respondia a latidos, agitava-se diante o metal cinza querendo sair. Por fim, voltava para a sombra, deitava e dormia. E quando finalmente a dona lhe concedia um passeio, corria como se nunca houvesse feito antes.
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