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A (RE)DESCOBERTA
Ana Amélia de Lima

Existem sentimentos que são indefiníveis. Assim era como Rebeca estava se sentindo. Algo tão estranho, tão gostoso e tão diferente. Estava se sentindo leve.

A vida é mesmo cheia de mistérios. Quem nunca percebeu isto né?

Acredito que todas as coisas acontecem para nos engrandecer enquanto pessoas, enquanto espíritos que somos. Tudo tem um porque e, se soubéssemos a real mensagem que os encontros e desencontros da vida trazem, seriam mais fáceis de aceitá-los. Ou não?!

De um dia pro outro, ela havia vivido uma experiência incrível. Saiu de dentro de dela uma tranquilidade e uma doçura que não se lembrava de ter experimentado. A de não julgar e, a de não se importar com o julgamento dos outros. Estava numa busca frenética, energética para conseguir equilibrar isto dentro de seu ser e, fazer com que se tornasse parte dela durante as vinte e quatro horas dos dias que restavam de sua vida aqui neste planeta.

Pensava em quanto era bom o efeito desta busca. O quão maravilhoso e renovador era!

Sinto que nós mulheres estamos entrando numa nova era. A era do “saber o que realmente queremos”. Saber de verdade. Sem culpa, sem medo. E saber colocar em prática nossos quereres. Viver sem culpa, sem medo de julgamentos, e aprendermos a gostar de nós mesmas.
Existem sentimentos que podem gerar dúvidas em relação à isto.

Ela com seus vinte e um anos, um dia no trabalho entrou numa sala que não era a sua e deu de cara com um homem que não conhecia. Mas naqueles poucos segundos, era como se o mundo tivesse parado e só existissem os dois. Como se o ambiente tivesse se transformado numa atmosfera somente de ar com céu limpo e radiante. Que experiência diferente e bonita. Cheia de novidades vivera.
Rapidamente voltou a si, após aqueles segundos eternos, e saiu da sala perturbada com aqueles lindos olhos azuis numa cabeça de cabelos encaracolados, em um corpo alto e magro.

Mais ou menos após um ano de convivência, percebeu que estava sendo paquerada por aquele ser dos segundos eternos. Foi só uma questão de tempo até se entregarem um ao outro. Claro que ela estava encantada e com um carinho grande por ele. Ele por sua vez, somente vendo um pedaço de "carne". Como um leão faminto numa floresta, esperando paciente para agarrar sua presa. O desejo intenso de ambos se transformou em sexo, durante uma noite de entregas.
Pois bem, no dia seguinte ela escutou, após uma conversa que ela nem se lembra porque começou, que o que tinha acontecido tinha sido bom, mas era só aquilo. Isto foi uma balde de tinta preta, manchando aquele céu azul e radiante.
Ela ainda disse: _”estou aqui porque gosto de você”. E foi mal interpretada. Ele entendeu que ela estava apaixonada.

Na verdade ela não queria nada além de uma amizade tranquila, compartilhada naquela noite em que estiveram juntos sem “máscaras” e roupas. Ficou parecendo que ela queria namorar, casar ou coisa do gênero, e ele deixou claro que só queria sexo. Ainda fez questão de falar, sem nenhum cuidado ao escolher as palavras, que tinha namorada e gostava da tal moça.

Puxa vida! Isso pra uma mulher é duro de escutar. Mesmo que, no fundo ela realmente não quisesse nada além da companhia daquele ser que teve a capacidade de paralisar seu mundo, mesmo que por segundos. A curiosidade e o encantamento justificavam a presença dela ali, naquele encontro que evoluiu para uma noite de sexo. Ele não precisava dizer nada, ela teria ido embora feliz e com o encantamento mágico que existia, sem procura-lo de novo. A atitude dele ressoou nela como se estivesse em transe, e alguém tivesse chegado de surpresa e lhe passado um tremendo susto. E ela só queria a companhia dele! Não precisava ter acontecido nada, ela não pediu nada e nem pediria. E teria ido embora satisfeita, sem remorsos e mais quereres.

Doeu! A sensação de ser um objeto era grande e frustrante. Ela seguiu em frente e um belo dia, Graças à Deus, ele foi embora. Mas ela não sentia raiva, nem dor, nem tristeza. Ela sentia algo pior, indiferença. A indiferença faz muito mal, para ambos os lados. Era um sentimento teimoso e involuntário.

Anos depois eles se reencontraram e mantiveram a amizade. Ela tem essa capacidade de superar. Retomar os bons sentimentos e abstrair os ruins. A vida continuou e, vez em quando, se encontravam para um bate papo em algum barzinho. Mas somente aconteciam conversas, entre chopes, cigarros e petiscos. Cada um seguia o rumo de sua casa e pronto.
Ah! Ele havia se casado, com aquela namorada que ele tinha. Quem diria que um homem tão volúvel, se "amarraria" a alguém. Ela lembrou neste instante que, um dia ele disse à ela que, o que importava era o verdadeiro amor. Isto após a primeira “aparição” dele (por telefone que ela atendeu sem saber quem era) e não reconhecendo a voz, perguntou quem estava falando. Ele disse: _”aquele que enganou muito quando esteve aí.” Ela retrucou e ele soltou a pérola acima – que o que importava era o verdadeiro amor. Isso soou tão pouco inteligente e baixo nível. Ela se recusava a achar que ele era um bobo. Como dizem por aí, a primeira impressão é a que fica. E a que tinha dele era forte e bonita, como uma noite estrelada de verão.

Mas o que a intrigava era o sentimento que tinha por ele. Não era amor. Não, não era. Não esse amor carnal e egoísta, de quem quer ter a pessoa pra si. Mas era algo forte, que era satisfeito somente ao saber se ele estava bem. Ela não precisava de mais nada além disso. Não precisava de beijos, abraços e etceteras. De nada! Somente queria a amizade verdadeira.

E os anos continuaram se passando. Às vezes se encontravam até casualmente.

Um dia, numa dessas ligações que ele fazia pra ela, combinaram de se encontrar. Ela estava noutra, numa muito diferente. Inclusive ela havia encontrado uma pessoa maravilhosa, com quem havia mantido um relacionamento maravilhoso, que se acabou por circunstâncias da vida. Estava feliz! Havia mudado de casa. Mudado pra sua casa própria em um bairro tranquilo e aconchegante. E havia superado a dor da perda de seu grande amor. Aquele amor que compartilhou durante alguns anos, mas que durará eternamente. Esse ela queria viver, espiritual e carnalmente falando. Diferente do do outro cara dos "segundos eternos". Mas, esse é outro assunto. Ela estava diferente em alguns aspectos, mais feliz, mais segura, mais madura, mais consciente.

Então ao combinarem de se encontrar, ele se ofereceu para encontra-la perto de casa. E ele acabou na porta de sua casa. Ele subiu, conversaram bastante e resolveram não sair mais. E a conversa rolou até de madrugada, quando ele surpreendentemente perguntou se poderia dormir lá. Ela sem nenhum interesse, mas admirada da ousadia, deixou. Mostrou o quarto de hóspedes e, foram cada um pros seus quartos. Mas continuaram conversando a distância, com voz elevada. Quando ela resolveu ir até o quarto dele para evitar gritar. E de verdade, ela não tinha nenhum interesse diferente disso. Nunca havia passado pela cabeça dela ter mais nada com ele. Nada mesmo. E se surpreendeu consigo quando ele, carinhosamente começou a acariciar seus cabelos e beijou-a com carinho. E se entregaram novamente.
No dia seguinte, cada um retomou sua vida da forma que eram.

Ele continuou ligando de vez em quando, como sempre. Conversas sobre amenidades e nada mais. O sexo entre eles parecia algo intocável, até mesmo para falarem sobre.
Ela ainda sentia-se preocupada em ter violado seus “valores”. Pois ele estava casado.
Passados alguns meses se encontraram novamente, entregando-se com mais desejo ainda. Ela solta, sem culpa, sem pudores bobos. Estava resolvida que seria a última vez. Ela queria muito, que este encontro acontecesse e fosse do jeito dela. Com maturidade, sem amarras, com desejo e carinho, aquele mesmo carinho surgido a quinze anos atrás, que ela conseguiu resgatar. Finalmente teve o que queria dele: uma noite de companheirismo, conversas agradáveis e proveitosas, risadas sinceras e cumplicidade.

Ela pediu aprovação dos céus para este envolvimento, e sentiu-se permitida a seguir em frente. E foi “ amar e ser amada”, mesmo que por uma noite. Mesmo que pela última vez.

Levantou de manhã bem cedo, feliz e segura, com aquela sensação que narrei no início. Sem saber definir o que estava sentindo. Um sentimento gostoso e tão diferente. Leve. Sem culpa nenhuma. Abençoada. Sentia-se apenas feliz!




Biografia:
Sou apenas uma amadora, Ana Lima
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