“1 Tendo Jesus dito isto, saiu com os seus discípulos para além do ribeiro de Cedrom, onde havia um horto, no qual ele entrou e seus discípulos.
2 E Judas, que o traía, também conhecia aquele lugar, porque Jesus muitas vezes se ajuntava ali com os seus discípulos.
3 Tendo, pois, Judas recebido a coorte e oficiais dos principais sacerdotes e fariseus, veio para ali com lanternas, e archotes e armas.
4 Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre ele haviam de vir, adiantou-se, e disse-lhes: A quem buscais?
5 Responderam-lhe: A Jesus Nazareno. Disse-lhes Jesus: Sou eu. E Judas, que o traía, estava com eles.
6 Quando, pois, lhes disse: Sou eu, recuaram, e caíram por terra.
7 Tornou-lhes, pois, a perguntar: A quem buscais? E eles disseram: A Jesus Nazareno.
8 Jesus respondeu: Já vos disse que sou eu; se, pois, me buscais a mim, deixai ir estes;
9 Para que se cumprisse a palavra que tinha dito: Dos que me deste nenhum deles perdi.
10 Então Simão Pedro, que tinha espada, desembainhou-a, e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. E o nome do servo era Malco.
11 Mas Jesus disse a Pedro: Põe a tua espada na bainha; não beberei eu o cálice que o Pai me deu?
12 Então a coorte, e o tribuno, e os servos dos judeus prenderam a Jesus e o maniataram.” (João 18.1-12)
Nós vimos que João registrou as palavras e atos de Jesus durante Sua última ceia de Páscoa, que havia celebrado com Seus discípulos, nos capítulos 13 a 17 do seu evangelho.
E João relatou os eventos relativos à prisão, sofrimentos e morte de Jesus, nos capítulos 18 e 19; e os relativos à sua ressurreição nos capítulos 20 e 21.
Nos primeiros versos deste 18º capítulo (1 a 12) são descritas as circunstâncias da prisão de Jesus no jardim do Getsêmani.
Jesus havia voltado a Jerusalém na ocasião da Páscoa com o firme propósito de se entregar voluntariamente como oferta de sacrifício cruento pelos nossos pecados, porque Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Ele poderia ter procurado as autoridades de Israel e se entregado a eles, porque, afinal, estavam procurando prendê-lo pela falsa acusação de ter cometido o crime de blasfêmia e quebra da Lei de Moisés, por estar curando em dia de sábado.
No entanto, importava, segundo as Escrituras que lhes fosse entregue por um ato de traição, e que o prendessem por uma ação insidiosa e injusta, de maneira que ficasse configurada a corrupção deles.
Assim, as chaves do reino dos céus seriam tiradas definitivamente das mãos das autoridades religiosas de Israel, e passadas para aqueles que têm fé em Cristo, e também pela instituição de uma nova aliança, cuja vigência revogaria automaticamente a antiga, sob a qual aqueles líderes corrompidos de Israel regiam.
O ato de entrega das chaves do reino dos céus por Jesus a Pedro, bem demonstra o que temos afirmado.
Elas haviam sido tiradas das mãos dos sacerdotes, escribas e fariseus, e foram entregues aos apóstolos do Senhor, representados na pessoa de Pedro, naquele gesto de Jesus.
Os principais sacerdotes e fariseus haviam ouvido a seguinte sentença que Jesus havia dado se referindo a eles na parábola dos lavradores na vinha:
“Portanto eu vos digo que vos será tirado o reino de Deus, e será dado a um povo que dê os seus frutos.” (Mt 21.43).
Eles não deixavam as pessoas entrarem no reino, assim como eles não entravam, com as suas práticas corrompidas e legalistas.
Eles continuariam com suas atividades religiosas, mas a glória de Deus já havia se retirado há muito tempo do culto corrompido que Lhe prestavam.
Para demonstrar que estava realmente se entregando voluntariamente, Jesus fez com que os soldados que vieram prendê-lo recuassem e caíssem por terra, quando se identificou como sendo aquele a quem eles buscavam.
Ninguém poderia tocar-Lhe caso assim o desejasse, mas importava que fosse preso, para que fosse conduzido à morte de cruz.
Aquela demonstração de poder sobrenatural tinha também por alvo gerar temor nos soldados de maneira que atendessem ao pedido de Jesus que se deixaria prender por eles caso deixassem livres os apóstolos, que se encontravam com Ele.
Até o Seu momento final o Senhor demonstrou o Seu grande cuidado e proteção para com aqueles que o amam.
Pedro tentou ainda reagir para impedir que Jesus fosse preso tendo arremetido contra o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita.
João não registra o fato, mas sim os evangelhos sinópticos, que Jesus lhe restaurou a orelha que havia sido cortada.
O reino de Deus não deve ser conquistado nem defendido pela espada, e por isso Jesus ordenou que Pedro embainhasse a sua espada.
Nem ele, nem todos os exércitos deste mundo poderiam ter impedido que Ele bebesse o cálice de sofrimentos que deveria sorver completamente para vencer a morte, o pecado e o diabo, quando morresse por nós na cruz.
|