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O CHAFARIZ
Moacyr Medeiros Alves

A canícula estava abrasadora naquela noite de verão.

   Depois de embainhar a espada, a figura eqüestre deslizou vagarosamente sobre o dorso de sua montaria, pulando, com dificuldade, no pedestal onde repousava seu alazão. De lá, com outro complicado salto, jogou-se no espaço indo cair, desajeitadamente, no gramado à frente.

   O calor estava insuportável, não havia cristão que agüentasse sem beber um gole d’água. Urgia matar a incômoda sede, necessidade que era, sem dúvida, um imperativo de sobrevivência.

   Mas a troco de quê tanto desespero, se logo ali ao lado quedava enorme chafariz com suas várias bicas jorrando água incessantemente?

   Vencer pequena distância para dar de frente a um mar de água que dava, sem exagero, para abastecer qualquer pequena cidade do interior, não exigia grande esforço.

   Assim pensando, o cavaleiro, com sua pesada vestimenta, caminhava lentamente em direção à ansiada mina de água cristalina, cujo manancial fora transformado, há anos, no portentoso chafariz que enfeitava o centro da Praça da Independência.

   Ao chegar à borda da fonte, o sedento personagem despiu da cabeça o quepe e, com gestos calmos, fazendo das mãos uma concha, sorveu o precioso líquido até sentir a crucial sede que o maltratava completamente saciada.

   “A água pura e fresca é o verdadeiro néctar dos deuses”, filosofou, ao se ver liberto da implacável sede que vinha corroendo suas entranhas, como corrói, a ferrugem, o mais duro metal.

   Finalmente, vendo-se livre do mal que há muito o molestava, o cavaleiro retorna com a mesma lentidão ao ponto onde deixou sua montaria para encarar, desta vez, um problema ainda maior.

   “E agora?... O que fazer?...
   Se para apear foi aquele sufoco, quando pra baixo todos os santos ajudam, como será possível a um cavaleiro de bronze, que pesa mais de trezentos quilos, voltar ao dorso de seu corcel?” – indagou dos reluzentes botões de sua farda a Estátua do Libertador.













Biografia:
- Moacyr Medeiros Alves, o Moa, como gosta de ser chamado, nasceu em Agudos (SP) em 08/03/1936, já órfão de pai -- seu pai faleceu 6 meses antes de seu nascimento. Sua mãe, viúva com 5 filhos, mudou-se em princípios de 1.940 para a capital do estado, indo morar em habitações coletivas, os chamados cortiços, no bairro do "Bixiga", onde ele passou a infância. Em dezembro de 1.950 o Moa, que já trabalhava desde os 9 anos de idade, ingressou como "office-boy" na organização Philips, empresa holandesa do ramo eletrônico. Trabalhando de dia e estudando de noite, conseguiu, com sacrifício, concluir o curso técnico de contabilidade. Em 1.959, aprovado em concurso público, entrou para o quadro de escriturários do Banco do Brasil onde trabalhou até 1.982, aposentando-se como gerente-adjunto da agência de Itararé (SP). Grande apreciador do cancioneiro popular brasileiro, do período que abrange a denominada "Época de Ouro" de nossa música, tem em sua discoteca, entre LPs e CDs, obras de quase todos os cantores e instrumentistas do tempo em que -- como dizia o radialista Rubens de Moraes Saremento -- "as fábricas de pandeiro davam lucro". Além de escrever "abobrinhas", como ele próprio define seus escritos, o Moa tem ainda como "hobby" a leitura e a fotografia.
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