“As pessoas entram em nossa vida por acaso, mas não é por acaso que elas permanecem.” Lilian Tonet
A vida é feita de acasos. No colégio, em uma turma de desconhecidos, um será o teu melhor amigo ou inimigo pela vida toda. Tenho um amigo assim. Foi durante um período difícil que me indicou um médico que poderia me ajudar.
Sou bipolar.Então falo pouco e às vezes falo muito. Sou irritável, quase louca - às vezes. A calma tem o seu tempo também. Sinto-me tão triste, às vezes, quanto ofegante de tanta alegria. Vivo sendo duas pessoas num corpo só. E essas pessoas precisam de espaço. Subo e desço várias vezes a escada que tenho dentro de mim.
Pensei em loucura, pois o inesperado te tira da rotina e você não está pronta para isso. Não consegue segurar a onda.
Esse médico além dos psicofarmacos me “receitou” também escrever. Escrever para esvaziar um pouco a cabeça, soltar todos os pensamentos, gritos, palavras que povoam a minha mente e onde eu não tinha mais certeza de quais eram os meus pensamentos verdadeiros. Quais eram meus? Estaria ouvindo vozes? Meu Deus!
Mas todos eram pensamentos só meus. Só que desalinhados, desorganizados, prontos para saírem. Eu não sabia disso.
Mas tudo quando se é explicado e proposto tem cura. A doença não tem cura, mas tem tratamento para mim: psicofarmacos (essencial no momento) e escrever. A combinação dos dois está me dando equilíbrio, pelo menos, para poder ouvir cada pensamento de cada vez.
Ainda não estou bem. Não estou o normal suficiente para encarar a vida de frente, com calma, pensando friamente. A violência é, às vezes, a forma que encontro para resolver os problemas que aparecem para mim. Estou errada, eu sei. Mas não controlo a ira. Ela faz parte do processo.
Troquei o dia pela noite. Mas a noite até certo ponto é melhor para pensar e escrever: a casa toda dorme – as pessoas, os cachorros, a rua. Tudo calmo. Até eu.
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